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FIZEMOS mais uma parada para abastecer o carro e enquanto isso Robby tentava sincronizar os celulares que Johny tinha comprado para usarmos o GPS. Johny saiu de dentro do posto com dois burritos na mão.

- E então? - ele pergunta à Robby.

- Acho que sincronizei com meu celular. É perto. Parece que há muitos bares e restaurantes.

- Vamos perguntar aquele cara. Hola.

- Fala espanhol?

- Não, Estados Unidos.

- Não, México. Não pode estacionar ali. Preciso que tire o carro. - o cara aponta pro carro.

- Gracias, é um adesivo personalizado.

- Não.

- Eu quero um homem. Hector, o Salazar.

- Não conheço, preciso que tire o carro, por favor.

- Acho que ele quer grana. - decide Johny por fim.

- Ele quer que você tire o carro. - falo.

- O que? Não vou tirar meu carro, ele que tire o próprio carro.

Troco um olhar com Robby, ciente de que isso nos traria encrenca.

- Mova o carro. - pede o cara.

- Não pode ficar com o carro, é um carro muito especial. Me diga dónde está Hector Salazar e dou dineros, si?

O cara se afasta balançando a cabeça e Johny se vira para nós, que estávamos com expressões sérias.

- Conseguem acreditar nesse cara? - ele repara nas nossas expressões - O que?

- Não dei. Se Hector é tão perigoso não devíamos falar o nome dele por aí. - responde Robby.

- Sacuda a macieira para pegar as maçãs. - Johny diz.

- Ou suba na árvore. - digo.

- Como assim? Que árvore?

- A macieira. - lembro - Você acabou de dizer que--

- Hey! Nosso carro! - Robby exclama.

Um caminhão estava levando nosso carro embora e tivemos que sair correndo atrás dele.

* * *

DEPOIS de irmos no lugar onde guardavam carros em reboque, Johny, Robby e eu estávamos andando por uma feira cheia de coisas que eu nunca veria nos EUA.

- O cara falou que tenho que pagar 4 mil pesos. - conta Johny - Deve dar um milhão de dólares.

Franzo o cenho.

- Que conta é essa, Johny?

- Como assim?

- São 200 dólares. - explica Robby - Mas só temos metade do valor.

- Não vamos achar Miguel sem o carro.

Paramos de andar ao avistar uma competição de pimentas mais fortes do mundo, o povo parecia estar ganhando uma boa grana com aquilo.

- É pimenta-savina vermelha. - conta Robby - Desce queimando. Minha mãe e eu vimos no YouTube.

- É nossa chance de conseguir grana. - diz Johny - Se eu me engasgar, cubram minha boca pra eu não cuspir.

- Espere. - Robby impede Johny - Deixa comigo.

- Não, eu nos meti nessa.

- Como você disse, essa é nossa melhor chance. E eu sei que posso ganhar.

Robby coloca nossos últimos cem reais na mesa e começa a comer as pimentas.

- Me dê a pimenta mais forte que você tem. - diz Robby.

- El dragon! - o seu competidor anuncia.

A tal pimenta era tão especial que ficava num frasco separado. Johny coloca mais dinheiro na mesa.
Robby se prepara mentalmente para comer a pimenta e quando está pronto ele a coloca na boca e mastiga.

- Vamos, Robby! - exclamo.

O garoto termina de mastigar e engole a pimenta, sem beber o leite.
Eu e Johny comemoramos.

Seu oponente pega a pimenta e coloca de uma vez na boca, mas ele não aguenta a pancada e acaba bebendo leite, literalmente.

- Isso! - exclama Johny.

Eu percebi que o cara ia cuspir o leite e saio do caminho, mas ele pega Robby e Johny.

* * *

GRAÇAS ao dinheiro da pimenta conseguimos recuperar o carro e no caminho Robby estava bebendo um litro inteiro de leite.

- Tem certeza que está bem, Robby? - pergunto preocupada.

- Nunca estive melhor.

- Ainda não sei como comeu a última pimenta. - admite Johny.

- Eu não comi. - diz Robby.

Johny e eu o olhamos.
Robby tira a pimenta do bolso.

- O que você estava mastigando? - pergunta Johny.

Robby mostra o salgadinho ruim que Johny tinha comprado e meu pai começa a rir.

- Será uma história e tanto! - ele fala - Foi a coisa mais irada que já vi.

O celular de Johny toca e ele atende.

- Carmen? - Johny espera ela falar - Ele falou alguma coisa? - ele se vira para nós - Eles vão ao El Hoyo Verde.

Robby pesquisa o lugar no celular.

- Dê a volta.

- Ok. Estamos indo para lá, Carmen. - ele desliga o celular.

Damos a volta e seguimos para El Hoyo Verde.
Demoramos alguns quilômetros pra chegarmos no tal lugar e Johny estaciona do lado de fora.

Ao entrarmos no local, descobrimos que é um clube de MMA.

- Olha para essa palhaçada de MMA. - Johny resmunga, então se volta para um dos lutadores - Hector Salazar, você o conhece?

O lutador não responde e continuamos andando pelo local, com Johny reclamando a cada passo sobre MMA.
Olho para as roupas de Robby e Johny, se Hector era realmente perigoso ele provavelmente fugiria do FBI.
Estou tão distraída com as luzes cegantes que não percebo Miguel no andar de cima até Johny gritar o garoto, estamos prestes a passar para procurá-lo quando um segurança para na nossa frente.

- Não vai chegar perto de Hector. - ele fala.

Johny tenta empurrar o cara mas ele parece uma pedra de tão grande e forte, então empurra Johny. Johny leva a ofensa e o soca no nariz, o narrador de luta para de narrar o que ocorre no ringue e agora está focado na luta em minha frente.
Eu não vou me meter na luta, deixando para Johny a parte difícil e como eu suspeitava meu pai ganhou depois de enfiar a pimenta dragão no olho do oponente.

- Dónde esta Hector? - pergunta Johny.

O cara não responde.
Decidimos sair do clube de luta e sinceramente foi a melhor coisa que fizemos porque assim que entramos no carro, vejo Miguel saindo do clube chorando e Johny se adianta, indo até ele e o abraçando.
Um problema resolvido.

DUMB BLONDE [Falcão - Eli]Onde histórias criam vida. Descubra agora