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FAZIA duas semanas que o ocorrido — definido agora pelos jornais como um vale-tudo de karatê — tinha acontecido. Tory tinha sido expulsa, os outros alunos que participaram da briga, suspensos por esse meio tempo. Robby estava foragido.
Tudo estava uma bagunça, até o Cobra Kai, que tinha sido tomado de Johny por Kreese como eu imaginei que iria acontecer. Eu sai do dojô quando descobri, e devo dizer que fiquei satisfeita por saber que Kreese tinha perdido uma das melhores lutadoras do Vale.

Uma das piores coisas nisso tudo é que eu não veria mais Tory na escola todos os dias e Aisha estava viajando, então minhas amizades se resumiam basicamente em Moon e James. Eu iria começar a ser mais sociável e menos exigente, como Moon era, e assim talvez eu fizesse mais amigos.

Moon e Piper tinham criado um protesto contra a violência do karatê e agora ficavam todo dia antes da aula levantando cartazes pacificadores e se sentando na grama, como hippies — ou maconheiros — faziam.

Johny estava uma bagunça. Ele saía de casa cedo para ir pro bar beber e só voltava de madrugada, mamãe estava preocupada o suficiente e me mandou ficar em casa até Johny se recompor. Eu já tinha escutado isso antes, quando eu era pequena isso acontecia direto.
Eu era muito trouxa de achar que Johny podia mudar.

Mamãe me deixa na porta da escola no meu segundo primeiro dia. Ela para na porta e me olha com seriedade assustadora.

- Me promete que não vai brigar. - ela implora - Não quero ver você machucando outras pessoas.

Balanço a cabeça em afirmação.

- Não se preocupe. - murmuro - Chega de karatê para mim.

Vou voltar a ser a loira burra. Penso, mas não falo.

Me despeço de mamãe e pego minha bolsa, saindo do carro e fechando a porta.

Na entrada da escola tinham vários seguranças e até mesmo um detector de metais, quando passo por ele, minha bolsa apita e eu preciso retirar minhas chaves e celular para mostrar que era só isso que eu estava carregando, sem nenhuma arma.
Depois de entrar na escola, percebo Falcão, Bafo de Merda e Bert no meio do pátio. Sorrio para os dois meninos e ignoro a existência de Falcão, indo em direção à Demetri.

- Hey. - cumprimento.

Demetri franze o cenho.

- Por que está falando com a gente? Não deveria estar com a sua panelinha do Cobra Kai?

- Eu larguei do Cobra Kai. - dou de ombros - Não tenho mais uma panelinha. Paz e amor agora.

Demetri fecha a cara de repente, junto de Chris e Nathaniel. Por um segundo eu acho que é para mim mas então me viro e percebo que Falcão, Mitch e Bert se aproximaram.

- Tem algo a dizer? - pergunta Bafo de Merda.

Os trios se encaram com ódio reprimido e eu reviro os olhos, era o primeiro dia, cara.

- Sim, olha meu livro de Literatura. - diz Chris.

Me lembro de Moon contando que Chris conseguiu ganhar do Mitch na luta o acertando na cara com um livro grosso e entendo a provocação.

- Não há segurança que proteja sua bunda magrela. - Falcão diz à Demetri.

O moreno engole em seco.

- Não preciso de segurança. - retruca Demetri, me deixando surpresa pela atitude.

A conselheira repara no clima tenso e se aproxima de nós.

- Tudo bem por aqui? - ela pergunta.

Demetri passa e fica entre Bafo de Merda e Falcão, colocando ambos os braços nos ombros dos cobra kais.

- Ah, somos amigos. - ele diz - Não é, pessoal?

- Sim. - Falcão dá um tapinha no peito de Demetri.

- Não deviam estar em outro lugar? - ela pergunta.

- Sim, conselheira Blatt.

Mitch desgruda de Demetri bruscamente e os cobra kais se afastam do grupinho do Miyagi-Do. Eu rio, cruzando os braços.

- Vocês estão durões. - digo - Boa.

Reparo numa loira entrando na escola e arregalo meus olhos, abrindo um sorriso e correndo até ela.

- Yas! - dou um gritinho, pulando em seu pescoço.

- Ei, sua louca! - ela reclama - Vai com calma.

Moon entra no abraço, rindo enquanto o faz. Yas respira fundo, então relaxa entre nós duas.

- Certo, certo. Chega. - eu e Moon a soltamos, ela me olha - Por que estava falando com os perdedores?

- Eles não são mais perdedores, Yas. - digo - O karatê mudou tudo nessa escola.

- Duvido disso. Vamos para o refeitório.

Yasmine sai andando na frente e eu e Moon nos entreolhamos, a seguindo. Algumas coisas nunca mudam.
Quando estamos passando pela porta do refeitório, Nathaniel olha para Yas.

- E aí, calcicão? - ele tira sarro.

Chris ri ao seu lado e os dois saem andando.
Yas dá uma travada, olhando confusa para mim e para Moon.

- O que aconteceu com esse lugar? - ela pergunta - Fui pra Paris no verão e os otários tomaram a escola?

- Eu seria mais legal. - avisa Moon - Metade dos alunos luta karatê agora.

- E? Nós temos Lily para nos defender.

Balanço a cabeça.

- Não conte comigo, gata, eu larguei essa vida.

- E Aisha? Virou rainha das vadias? - pergunta Yas.

- Não soube? Depois da briga, ela foi para um colégio particular. - conta Moon.

- A casa dela está à venda. - digo.

- Pelo menos uma notícia boa. - reclama Yas.

- Talvez para você, mas ela acabou virando minha amiga. - confesso.

- Sinto pena da Sam. - diz Moon - Elas também eram velhas amigas.

Yasmine revira os olhos.

Vejo James num canto conversando com Demetri e abro um sorriso.

- Podem ir na frente. - digo às meninas.

Moon me olha com um sorriso malicioso.

- Vai ver James?

Suspiro.

- Moon, eu já te falei que não vai rolar nada.

- Não faz mal manter esperança. - a garota dá de ombros.

Me afasto das duas enquanto Moon explica para Yas quem é James.
Quando chego até os garotos, James sorri para mim.

- Lils, hey. - ele diz - Estava contando para o Metri falta de vocês nas últimas semanas.

- Metri? - repito, Demetri dá de ombros.

- Ele só me chama assim

- Legal, vou te chamar assim também.

- Eu estou preocupado com Sam. - confessa Demetri - Será que você pode checá-la depois da aula?

O olho com repreensão.

- Você sabe que não somos mais amigas.

- Não custa tentar. - ele deu de ombros.

Ficamos conversando até o sinal tocar e é aí que eu começo a perceber: a vida sem o karatê não é tão ruim quanto eu imaginava, na verdade, era bem mais normal, e isso me assustava.

DUMB BLONDE [Falcão - Eli]Onde histórias criam vida. Descubra agora