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A festa de halloween aconteceria em alguns dias e eu não tinha ideia de com qual fantasia eu iria. As meninas tinham falado sobre se vestirem de líderes de torcida mas eu não estava muito afim.
Ah, claro, tinha a coisa do dojô também. Johny falou que precisávamos de novos alunos, só que eu tinha certeza de que nenhuma das meninas iria aceitar ir para lá.

No momento estávamos no refeitório da escola escutando uma das palestras da diretora sobre alguma coisa que eu não estava prestando atenção. Balancei a cabeça, focar no presente era a melhor coisa que eu poderia fazer agora.

- O bullying virtual não é brincadeira. - a diretora continuava - Enviar uma mensagem cruel para alguém pode ser tão doloroso quanto dizer na cara da pessoa.

Olho ao redor, a maioria das pessoas estavam no celular, então ninguém estava escutando. Não que eu os julgasse, não é como se esse discurso fosse ajudar em alguma coisa de qualquer forma.

- Não vou citar nomes, mas outro dia uma mãe me ligou, porque o filho dela chorava depois que algumas crianças on-line zombaram da deformidade facial dele.

Revirei meus olhos, essa diretora era tão sem noção. Agora todos iam saber que a mãe de Eli tinha ligado para a escola. Olho para ele, que tampava a cicatriz no lábio com a mão, me sentindo um pouco chateada pela situação.
Acho que ele nem sabia o quão bonito ele era.

- Mas hoje, nosso objetivo aqui é tornar esta escola um espaço seguro para todos os alunos.

Assim que a diretora termina de falar e sai do refeitório, as conversas voltam a todo vapor. Yasmine começa a dizer alguma coisa com as meninas mas eu não escuto.
Pego minha bolsa e ando pelo refeitório, me sentando na mesa de Miguel e atraindo olhares confusos das pessoas no lugar, inclusive do trio na minha frente.

- Você está sentando com a gente. - repara um dos garotos, acho que seu nome é Demetri.

Eu o ignoro, olhando para Miguel.

- Por que você não o leva para o dojô? - pergunto.

- Ela está certa. - Miguel olha para Eli - Se estiver cansado do bullying, nosso dojô está procurando gente.

- Você faz karatê também? - pergunta Eli para mim em voz baixa - Por que?

Dou um sorrisinho.

- Posso não sofrer bullying, mas eu sou mulher, então um pouco de autodefesa faz bem.

Na real esse não era o verdadeiro motivo de eu estar no dojô. Eu só estava continuando lá porque via como uma maneira de passar mais tempo com Johny, mesmo que a gente não tivesse uma relação de pai e filha.

- Certo, ouviu isso, Eli? Um pouco de karatê e você vai botar pra quebrar. - diz Demetri, zombando.

- Eu 'tô falando sério, Demetri. Meu sensei é o cara,
acho que consigo desconto pra vocês.

- Por mais legal que pareça, acho que preferimos passar a tarde jogando Crucible Control do que levando soco.

Eu rio, o olhando de cima a baixo, então me levanto e pego minha bolsa, o olhando no fundo dos olhos.

- É por esse motivo que você nunca vai deixar de ser um perdedor, otário. - digo, me afastando da mesa desses três.

Volto para a mesa das meninas, me virando para Sam.

- Você não estaria interessada em começar karatê, estaria? - pergunto.

Sam me olha com tédio.

- Lils, você sabe que eu já sei karatê. Além do mais, se meu pai descobre que você quer que eu faça karatê com Johny Lawrence, ele te mata.

Suspiro.
Eu genuinamente não queria que Daniel LaRusso descobrisse que eu estava no karatê de Johny, ele provavelmente cortaria laços de Sam comigo.
Sam e Moon eram as únicas que sabiam sobre meu pai, eu não tinha coragem de contar pra mais ninguém, nem mesmo Miguel sabia.
E eu queria que continuasse assim.

* * *

O baile de halloween não demorou para chegar e eu decidi que iria de líder de torcida mesmo, não querendo ficar de fora do grupinho e com preguiça de escolher outra fantasia.
A música estava alta demais e todos estavam se divertindo. Quer dizer, quase todos. Eli, Demitri e Miguel estavam parados num canto, então decidi que iria cumprimenta-lós.

- Ah, esqueleto, clássico. - eu digo para Miguel, franzindo o cenho para Demetri - Bruxo?

- Bruxo? Por favor. Sou um necromante.

Dou de ombros.

- Nerdice. - me viro para Eli - Médico?

- Cirurgião plástico. Eu conserto lábios.

- Legal.

Demetri me olha.

- Tenho uma pergunta. Por que está falando com a gente?

- Miguel é meu amigo. - dou de ombros, já esperando por aquela pergunta - E vocês são amigos dele.

- Certo. - Demetri fala, meio desconfiado.

- Eu quero um ponche. - digo - Algum de vocês querem?

- Eu vou buscar com você. - se voluntária Eli.

Sorrio para o garoto. Andamos até a mesa de comes e bebes conversando sobre a escola, eu pego a concha de ponche e sirvo em um copo, fazendo uma careta ao ingerir o líquido.

- Isso com certeza está batizado. E eles colocaram cachaça, nem pra ser vodka que é bom.

- Eu não saberia dizer. - Eli diz - Não bebo.

- Legal, é bom não beber.

Voltamos para onde os outros estavam e na hora eu recebo uma mensagem de Yas.
Era um vídeo de Aisha na mesa de comidas com efeito de porco.

- Merda! - exclamo - Isso é pura merda.

- Por que você ainda anda com elas? - perguntou Miguel - Elas são muito más.

- Elas não são tão ruins, só a Yas que...

Me interrompo quando vejo Sam me chamando para ir embora com a mão.

- Já vou, tchau gente! - me despeço dos garotos.

Eu era a que deu carona para as meninas, então deixo cada uma em sua casa só sobrando Sam, que iria dormir lá em casa hoje.
No caminho, reparo que ela está muito quieta.

- O que aconteceu? - perguntei.

- Meu pai me envergonhou na frente de Kyler hoje.

Sam conta a história de como Kyler a levou para um lugar sozinhos para lhe dar uma surpresa e do nada o senhor LaRusso apareceu.

- Eu não sei, Sam, seu pai estava meio certo nessa. Kyler não é um cara legal.

- Ele é legal, sim! - retruca Sam.

Aperto meus lábios para me impedir de falar merda. Ano passado eu fiquei com Kyler uma vez e ele já queria passar para a segunda base, quando eu não quis ele tentou me forçar mas eu lhe dei um soco no olho que ficou roxo por um mês, ele nunca contou a ninguém e nem eu. Fiquei muito chateada porque achei que um cara finalmente estava se interessando por mim, mas ele me chamou de vadia gorda logo em seguida do soco.
Eu só não queria que Sam saísse machucada dessa história igual eu saí.

- Tudo bem. - respiro fundo - Vamos chegar em casa e descansar, nós duas precisamos disso.

DUMB BLONDE [Falcão - Eli]Onde histórias criam vida. Descubra agora