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ERA sexta-feira à tarde.
Eu desço as escadas da casa de mamãe e paro na cozinha, sentindo o cheiro da torrada feita agora no ar. Eu iria para a casa do meu pai hoje e era melhor eu comer por aqui mesmo para não gastar da pouca comida que ele tinha em casa.
Não é como se ele escolhesse que eu fosse pra lá, mas como mamãe morava na mesma cidade que ele, Johny meio que foi obrigado a ficar comigo todos os fins de semana, algo que ele não precisava fazer com Robby já que ele morava longe.

A relação dos meus pais sempre foi um tanto... conturbada. Johny era um alcoólatra sem ambição de vida e solteirão, enquanto minha mãe era uma mulher ajeitada da vida que não tomava uma gota de álcool durante a semana.
Mais diferentes impossível.
Por causa disso, mamãe sempre ficava meio relutante em me deixar ir para a casa do meu pai, mas ela sabia que era obrigação dele cumprir seu papel como meu pai, ela nunca deixou que ele se livrasse de suas obrigações comigo. Quando eu era mais nova, lembro dela tentando arrastá-lo para o dia dos pais na escola, mas ele nunca ia, então mamãe começou a assumir esse papel.

Vesti novamente para o meu quarto, vesti um short jeans e camiseta branca, com all-star no pé. Peguei minha mochila com minhas coisas e desci para o andar de baixo de novo.

Ao entrar na cozinha, dei de cara com minha mãe, Eliza, colocando as torradas num prato.

- Bom dia, querida.

A cena me fez sorrir.
Por muito tempo, fomos só eu e mamãe, e até hoje continuava sendo. Éramos muito unidas e, apesar das discussões, ela era minha melhor amiga.

- Eu já vou indo. - digo - Até domingo.

Mamãe me dá um beijo na cabeça e pego minhas chaves do carro.

Giro a chave e o som do motor preencheu meus ouvidos.
De carro, o caminho da casa de mamãe até o apartamento de papai demorava aproximadamente vinte minutos. Fui o caminho todo ouvindo Taylor Swift, a rainha.

Ao chegar no residencial, subi as escadas e toquei a campainha. Escutei o barulho das latinhas e vidros sendo espalhados, provavelmente papai fazendo caminho até a porta, e a porta foi aberta.
Meu pai, como sempre, estava um caco.

- Ah, é você. - ele diz, dando espaço para eu passar.

Entro na casa dele e percebo que ele já estava deitado no sofá, mudando os canais da televisão.

Respiro fundo, pegando um saco preto de lixo e começando a catar as latinhas e garrafas de vidro no chão.

- Como foi sua semana? - pergunto, tentando puxar assunto.

- Uma merda, como sempre. - ele responde - Não aguento mais a cara do LaRusso em todos os outdoors da cidade.

LaRusso não era tão ruim quanto papai falava, já que mamãe morava no mesmo bairro que ele, Daniel já nos chamou para churrasco na casa dele, mas eu tinha a sensação de que ele não gostava muito de mim por eu ser filha de quem sou.

- O senhor não deveria estar trabalhando?

- Eu falei que a mulher estava agindo como uma vadia e eles me dispensaram. - Johny se levantou do sofá - Vem, quero ver como está seu chute.

Reviro meus olhos.
Desde que eu era pequena, passava quase todos os fins de semana com Johny treinando karatê, acho que dessa forma ele se sentia menos vazio, talvez achando que estava fazendo algo bom para mim e para si mesmo.
Eu sempre gostei de karatê, estava no sangue, mas às vezes eu queria fazer outra coisa com meu pai.

Chegamos do lado de fora do prédio e percebo que está anoitecendo, me deixando com preguiça.

- Não vou chutar bem de jeans. - aviso, me colocando em posição em frente ao saco.

DUMB BLONDE [Falcão - Eli]Onde histórias criam vida. Descubra agora