| Capítulo XIV|

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Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.

Friedrich Nietzsche

Witsel Rocha.

Linêsia saiu em direção as escadarias. O que provavelmente quer dizer que ela vai se trancar num dos quartos beber e surtar. Término de beber a água e jogo a garrafa na lata de lixo.

Se eu fosse Mahatma onde eu estaria?

Tenho a certeza que Linêsia não veio sozinho e Mahatma está aqui, só não entendo porque essa mudança de repente, Mahatma odeia barulho, odeia aglomeração, sem falar que ela odeia ser tocada, por mais inocente que seja o toque.

Caminho em direção a parte se trás da casa, onde tem uma pequena lagoa e da para ver a lua entre os arbustos. Ela está sentada na grama de calças jeans, jacket e sapatilhas brancas. Sua garrafa de álcool está vazia, suas mãos na grama apoiam seu corpo que está inclinado para trás, ela está de olhos fechados. Parece uma deusa, a deusa da lua.

Antes que eu pudesse me aperceber eu estava tirando fotos dela, ela sempre foi linda assim?

— Oi?— ela abre os olhos, e vejo desprezo. — Tudo bem?— me sento na grama.

— Não te interessa.

— Mahatma por favor, você sabe que precisava disso?

Ela me olhou, seus olhos escuros e frios me encaram, e eu posso sentir meu corpo arrepiar.

— Isso te diz respeito? Não. O que você contou ao meu pai? Porque ele não me deixa mais treinar no doju?— esbraveja.

— Nada do que ele já não saiba!

— Olha seu miserável!— ela me agarra pelo colarinho — Eu te odeio, te odeio, te odeio , te odeio!— me sacode — desde que te conheci minha vida tem virando de pernas ao ar, você só me trás má sorte e desgosto. Eu juro que se eu pudesse eu nunca teria vindo estudar naquela escola.

Puxei-a  pelo pescoço, e a beijei. Como a muito eu queria fazer, compensando todas as vezes que né segurei, que há evitei, que fingi não sentir. Pela primeira vez eu estava provando seus lábios, quentes, doces, carnudos e gostosos. Ela gemeu em minha boca quando agarrei seus cabelos por trás. E diferente do que cogitei , ela me puxou mais para si e me afundou no beijo.

Quando sentimos a falta de ar, nos separamos. Ela me encarou, sem palavras.

— Você é uma gaja fixe! Se um dia eu acordar e receber a notícia que você deu entrada no hospital por causa dessas lutas, eu serei a primeira pessoa a me sentir culpada...eu não sou do tipo de cara insensível, eu me preocupo e protejo os meus e você é a minha garota!— fiz uma pausa e toquei seus cabelos e nunca crescem, os fios negros dessa cabelo é o que mais me atrai — se tem coisa aí dentro que te incomoda — apontei para seu coração — você pode contar comigo. Sou um bom ouvinte, e sei esperar. Mas..., Não peça, que eu fique quieto enquanto você se destrói, é porque você bem imagina o carinho que eu sinto por ti.

Seus lábios começaram a tremer, começou a piscar os olhos, então ela chorou. Como uma criancinha, e essa é a primeira vez que a vejo tão frágil e vulnerável. Mesmo quando a derrotei no ringue, ela em nenhum momento demostrou fraqueza. Ela foi forte are ao fim.

Mas dessa vez não, ela está chorando. Ela está chorando.

— Eu quero morrer...eu não suporto mais viver...eu sinto falta dela...eu...eu também...e... Eu preciso dela...por favor...— ela tenta limpar as lágrimas, mas fica atrapalhada — dói mundo!— ela agarra seu peito, eu sei que ela não está totalmente consciente, porque a Mahatma que eu conheço, em sã consciência nunca admitiria isso. — Às vezes, eu penso que se...e.. eu tivesse nascido, meu pai teria uma vida diferente, uma família completa, não passaria maior parte do tempo em casa... às vezes eu penso...que...se ... Ele...ele passa maior parte do tempo no trabalho só para me evitar.

Ela não precisa verbalizar, mas agora eu entendo que todo esse drama, é por causa da mãe dela. Ela está sofrendo por causa da mãe, não consigo imaginar uma mãe deixando seus filhos assim. Será que a mãe dela está morta? Ou até há abandonou?

Lhe deitou no meu colo, e ela continua chorando, até que caiu no sono. E por outro lado, o pouco de álcool que tinha no meu organismo se foi. Dei um beijo na sua testa, antes de chamar o Uber e ligar para Mário.

— Estou indo para casa!— digo.

— São quase uma, não ias dormir na minha casa que é perto?— Mário.

— Ia, mas tive um imprevisto, se cruzares com Linêsia...

— Falando em Linêsia, encontrei ela deitada atrás duma das portas do quarto, abraçando uma vodka. Está bem zoado.— numa outra ocasião eu ia rir, mas agora estou preocupada, com o fato de ter de cuidar de Mahatma.

— Cuide dela, lhe leve para sua casa e não faça nada com ela.— ameaço.

— Eeh! Calma aí, que tipo de filho da puta você pensa que eu sou, sou mulherengo não estuprador caralho.— reviro os olhos, ele fala isso agora, mas esquece que perde os princípios quando está sobre influência dos amigos.

— É um lembrete! Mahatma nunca me perdoaria se acontecesse algo com Linêsia. E diga a Linêsia que Mahatma está comigo, a levarei para casa. OK?

— Tá!— diz chateado e desliga.

No mesmo estante recebo o sinal que o Uber chegou. Carregou a Mahatma, estilo noiva e passado pelo gramado principal, cheio de adolescentes embriagados, alguns deitados no chão outros vomitando e latas , muitas latas no chão.

— Mamãe...— ela resmunga, durante o percurso — v... volta por favor...eu irei me comportar, serei uma boa garota. Eu juro.

Eu olhei para ela, me desligado da realidade. E nesse estante eu abortei novamente os planos que eu tinha para ela. Eu a quero, mas, ela não merece ser amada as meias, e eu já posso à dar isso. Ela merece alguém que vai a amar por completo, sem meias palavras. Não a usar e descartar.

Descemos do Uber, paguei a corrida e a coloquei no ombro. Passei pelo porteiro, com muita dificuldade achei as minhas chaves, abri a porta principal e mal me pôs a andar o censor se ligou, odeio essas luzes. Estava começando a subir as escadas quando meu pai sai de seu quarto de roupão e me olha.

— Que horas são essas de chegar? E porque está com uma garota no ombro?

Meu pai não é tão liberal como minha mãe, se dependesse dele eu ia voltar às nove da noite, logo na hora que a festa começa.

— Primeiro eu não tive opção a não ser voltar, está é a Mahatma e estava passando mal. Lhe encontrei na festa em que eu estava.— chegou ao segundo andar — ou era isso, ou eu a deixa a própria sorte.

Meu pai afiou os olhos, mas respirou fundo e desistiu.

— Jovens!— revirou os olhos — tá! Eu aviso o Ford que ela está aqui.

— Obrigado pai.— ironizei o dado as costas e indo ao meu quarto.

Aqui tem dois quartos de hóspedes, eu podia colocar Mahatma num deles. Mas não me sinto seguro para tal, eu quero ter a certeza que ela irá dormir bem, e também quero sentir, por mínimo que seja, o seu calor.

A deitou na cama, só deu para tirar nossas sapatilhas, eu também cai no nosso. Estava cansado, o corpo delicado dela, não pesa nada.

O Que Me TorneiOnde histórias criam vida. Descubra agora