08 de Maio.
Meu pai saiu cedo para trabalhar, já são treze e eu ainda estou na cama em plena quinta feira. Hoje não vou a escola porque é feriado, alusivo ao dia das mães, o dia que eu menos gosto. E odeio ainda mais porque a escola organizou uma atividade em família, a qual eu não contei meu pai e nem pretendo contar. Me contento em permanecer na cama imóvel e sem mãe.
Como será que é ter uma mãe? Alguém para te ver sorrir e chorar, para te calar e te animar, alguém que faça seu dia valer a pena. Como é chegar e encontrar sua mãe cozinhando? Como os filhos se sentem quando a mãe ralha com eles? O que as mães gostam de ser oferecidas no dia das mães? O que as mães oferecem aos filhos no dia das crianças?
Será que ela pensa em mim? Será que ela pensa em voltar? Será que ela tenta entrar em contacto e meu pai não deixa? Será que ela se recorda do meu aniversário? Será que ela se arrepende?
O som da campainha me desperta totalmente dos meus pensamentos. Me sentei na cama antes de tirar uma das poucas fotografias que tenho dela, ela é linda, morena, de cabelos longos, parece alta e de corpo magro, ela tem um sorriso malandro, um sorriso tão belo que eu não consigo ter. Ela está de moletons, fazendo pose para foto enquanto agarra um boneco de neve, se está tão feliz assim, deve ter sido antes da gravidez.
Guardo a foto, junto das outras que guardo no armário. Até aos cinco anos eu estava constantemente perguntando para o meu pai onde estava minha mãe, e ele sempre dizia, ela fez uma viagem, mas assim que possível ela volta. Mas no ensino básico, no meu primeiro dia das mães, eu entendi que ela nunca voltaria.
Meu pai me mostrava fotos dela, antes e depois da gravidez, algumas das quais diz com ela. E a dado período eu fiquei com todos as fotos, pois meu pai quis se livrar delas. Eu sei que continuo me agarrando à esse sentimento, que talvez algum dia ela volte.
— Olá. — essa é a primeira vez que vejo Witsel de roupa casual, e ele fica muito charmoso. Witsel é cem por cento belo, mas o que eu mais gosto nele, são seus olhos azuis, transmitem tanta calma, que eu amaria ter.
— O que faz aqui?
— Dócil, como um coice!— ele me encarou de baixo para cima. Essa também deve ser a primeira vez que ele me vê de roupas normas, ou seja, short e moletons. Cabelo preso num coque alto e bagunçado.— Não te vi na escola então decidi vir te ver!
— Não era suposto você estar com sua família? Curtindo o dia da mãe.— inclino a cabeça colocando as mãos no bolso do moletons.
— É! E eu estava, mas quando não ti vi fiquei aborrecido, então deixei meus pais e minha irmã para vir te ver. Saber se está bem. Você não tem hábito de faltar as aulas. Fiquei preocupado.
Falando desse jeito até meu coração derrete, Witsel é extremamente atencioso. Além do meu pai, e da Linêsia algumas vezes, não estou acostumado a receber esse tipo de atenção.
— Eu estou bem!— dei um riso fraco — Não devia deixar sua família para vir me ver.
— Do momento você é minha prioridade!— disse simples.
— Entra!— disse me dado por vencida, não consigo mais o afastar. Preciso um pouco disso. De atenção, por mínima que seja. — Seja oficialmente bem vindo a mim humilde casa, aqui no armário deve ter — abro e vejo uma quantidade absurda de pipocas diferentes e bolachas e doces. — E na geladeira tem, bolo com cobertura de chocolate e refrigerante. O que vai querer?
— Um pouco de tudo — ele apareceu perto de mim — vamos fazer uma mini festa!— ri — se seus pais não forem a ficar braços é claro.
— Sou filha única e tudo que você vê meu pai comprou para mim, e hoje é seu dia de sorte!— sorri lhe entregando as pipocas, bolachas, alguns doces — meu pai volta tarde do trabalho.
Peguei o bolo e o suco e lhe conduzi a sala de estar. Colocamos tudo no carpete, nós olhamos antes de rir.
— Vamos assistir o que?
— Algum seriado que gostaria de maratonar?— ele pergunta.
— K. C agente secreta?
— Gosto.
E passamos a tarde assim, comendo, rindo, assistindo, conversando de coisas aleatórias. Não esperava que o meu dia fosse terminar de forma diferente, essa data sempre foi melancólica para mim, e agora. Por um instante me esqueci de tudo.
— Gosto quando você sorri de verdade, e não é sarcástica ou debochada! Gosto de seu verdadeiro eu, até do falso, mas o verdadeiro se solta mas.
Estamos encostados um no ombro do outro, e são praticamente dezoito horas.
— Faz parte do que eu sou, ser sarcástica, debochada, irônica. — digo cansada — tenho muitas emoções presas, sou depressiva, sofro de ansiedade, tenho surtos. Mas tudo isso faz parte de quem eu sou! Sei que não é saudável, e que isso prejudica meu socialismo, mas eu não sei ser de outro jeito. Nasci assim, gosto de mim assim, as vezes nem sinto vontade de sair desse estado. Me sinto bem, perdida em me mesmo.
Ele não disse nada, simplesmente baixou minha cabeça até suas coxas, e fez cafuné em meu cabelo. Aquilo foi o bastante, eu não precisava de nenhuma outra palavra, só a presença dele já bastava.
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O Que Me Tornei
Roman d'amourO óbvio é a verdade mais difícil de se ver. Mahatma foi abandonada pela sua mãe quando ainda era pequena. Desde então sendo cuidada e protegida pelo seu pai. O porquê de sua mãe ter a abandonado e a dor da rejeição é algo que sempre lhe perseguiu. M...