(I'll keep on making those new mistakes, I'll keep on making them every day)
Quando saio da sala fria me deparo com a redação bastante movimentada. Os telefones tocam incansavelmente e parece que nunca recebemos tantas ligações anônimas como nos últimos dias. O mundo está uma loucura. Todos acham que sabem demais.
Aproveito as distrações para dar o fora dali o mais rápido possível, sem a certeza de que vou voltar. Algo que aprendi nesses anos é que sou absurdamente boa em fugir e não seria um problema fazer novamente. Pego apenas meu casaco que descansa na minha cadeira e vou em direção ao elevador. Preciso de um café.
•••
O tempo na margem do Rio parece ainda mais frio. Nem o conteúdo quente do copo em minha mão é capaz de melhorar a temperatura. Imagino que como de costume o tempo na Tailândia deve estar quente. Será que vou me acostumar com isso?
Mas que diabos? Por que estou se quer cogitando? Eu não vou para a Tailândia. Por mais curiosa que eu esteja, por mais que o meu espírito de jornalista queira descobrir sobre tudo e o meu lado aventureiro queira encarar essa insanidade, eu não vou.
Desencana, Sam. Vamos encontrar outra alternativa.
Converso comigo mesma para afastar os pensamentos traiçoeiros que tentam me arrastar.
Entro em um Pub que fica bem ao lado do meu apartamento. Na TV as mesmas reportagens que vi mais cedo. Apenas perguntas e mais perguntas. Absolutamente ninguém tem as respostas. Nem mesmo eu. Apenas suspeitas.
Não posso dizer exatamente quando entrei nessa pesquisa, mas não faz muito tempo. Vi algumas informações nas redes sociais, grupos de hackers se mobilizavam a favor de um movimento discreto que começava a crescer on-line, muitos agradecimentos inesperados e então estava ali, minha curiosidade pronta, aguçada e ansiando por uma resolução, por entender o que as pessoas comentavam.
Foi assim que percebi alguns comportamentos. Empresas vinham a público anunciar falência, grandes patrimônios que não se sustentavam mais e logo depois a justificativa: infinitos escândalos de corrupção, lavagem de dinheiro, crimes e mais crimes que não podiam ser enumerados. Alguém queria tirar a sujeira debaixo do tapete. Os empresários acusados dizendo terem sido chantageados, obrigados a fazerem seus pronunciamentos e ainda, sim, tendo seu dinheiro extorquido. Mas, por quê? No início pensei em criminosos fazendo por prazer ou em benefício próprio, mas estranhamente os movimentos da internet me deram um estalo e descobri que através dos servidores da ACorp essas quantias extorquidas estavam sendo desviadas para pessoas pobres, causas sociais, países em situação de miséria. Nada fazia sentido.
Encontrar o endereço pela ACorp não foi difícil. Foi um deslize, com certeza. Logo em seguida minhas investidas foram bloqueadas e nem as melhores técnicas que eu tinha foram capazes de continuar rastreando o caminho daqueles valores, exceto se eu conseguisse acessar o servidor físico... que fica em Bangkok... na Tailândia... dentro da maior empresa de tecnologia do mundo...
Sou despertada do meu devaneio por um toque insistente do celular no bolso do meu casaco. Espero que não seja a Charlotte. Ainda tenho umas 15 horas, provavelmente. Ao pegar o aparelho vejo uma mensagem de número desconhecido. Vem na estrutura de um aviso:
Noto meu tailandês bastante enferrujado (ou estou lidando com uma escrita ruim), me forçando a utilizar o tradutor do telefone:
Hum... Parece que não passei despercebida como havia imaginado. Felizmente alguém está mais preocupado do que eu, do contrário não teria se arriscado em enviar uma mensagem facilmente rastreável diretamente de Bangkok. Me faz pensar se o amadorismo foi proposital.
Droga. Lá vou eu novamente me deixando levar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SECRET
FanfictionNão ter orgulho do passado não é um problema. Difícil é ter que encará-lo após tantos anos fugindo. E quando você finalmente resolve aceitar, o coração tem escolhas completamente diferentes.