(Don't you wanna know, could get out of my hands)
— E você, Freen? Não esperava te ver aqui. Achei que estava trabalhando em... — O desespero toma conta de mim automaticamente. De todas as coisas erradas que poderiam acontecer essa noite, Nita revelar tudo para Rebecca era a última que eu poderia imaginar. Minhas mãos trêmulas deixam nítido o movimento incessante do líquido na taça de cristal.
— Sim. Eu estava. Já estou aqui na ACorp há uns meses. — Interrompo sua frase antes que seja completada. Preciso tentar controlar o rumo da conversa ou vou estar muito ferrada.
A expressão de Rebecca ainda é incompreensiva. Não entende o que está acontecendo e não parece estar interessada em saber.
— Vocês se conhecem? — É tudo que ela pergunta, não para mim, mas para Nita.
— Sim. Há muito tempo. Temos uma linda história juntas. — A resposta de Nita faz meus olhos arregalarem e consigo notar as sobrancelhas de Rebecca se juntando, esperando uma explicação.
O sorriso de Nita começa a se abrir, vejo que se sente vitoriosa em todos os sentidos. Já estou a espera da revelação e pensando em todas as formas em que posso sair daquele lugar isolado e voltar para a casa. Talvez encontrar Charlotte e voltar imediatamente para Londres. Penso se não há como sair pela porta dos fundos, fingir resolver algo e simplesmente desaparecer do mapa.
Meus planos são interrompidos com a aproximação dos pais de Rebecca. Eles colocam a mão sob seus ombros. A mãe abre os braços para recebê-la e posso dizer que existe um conflito nela, entre continuar os questionamentos para Nita ou ceder ao carinho dos pais. O olhar esperançoso de sua mãe parece ser a resposta certa, pois ela a abraça afetuosamente.
— Filha, vamos ali. Precisamos te apresentar algumas pessoas. Seu irmão já está lá. Peço licença a vocês para nos retirarmos. — O pai de Rebecca intervém para retirá-la dali e sinto como se pudesse respirar novamente.
Começam a se afastar até que Rebecca para no meio do caminho e olha para trás. — Freen, você não vem? — Novamente não é uma pergunta, sim uma ordem.
Antes que eu possa abrir a boca para respondê-la, Richie aparece, jogando os braços em volta do corpo de Rebecca. — Irmãzinha, deixe-a aproveitar a festa. Ela se dedicou tanto! Está dispensada, Srta. Chankimha. Aproveite. Nós vemos mais tarde para irmos para a vila, ok? — Ele pisca para mim e puxa Rebecca para acompanhar os familiares. Fico grata novamente pela presença do Sr. Armstrong, mas não parece o mesmo para Rebecca, que se afasta a contra-gosto.
— Finalmente... Eu estava doida para conversar a sós com você. — Nita recobra minha atenção, dando alguns passos para se aproximar. Ao ficar com o corpo bem rente ao meu, coloca a mão livre em minha cintura, forçando a extensão dos dedos para me apertar. Seus lábios depositam um beijo delicado em meu maxilar e após descansam em minha bochecha. Quando minimamente se afasta, a mão que estava em minha cintura passa a acariciar, com as costas dos dedos, a bochecha umedecida pelo beijo. Ao longe, consigo ver Rebecca nos encarando, com os braços cruzados.
— Eu devo dizer que estou muito surpresa de vê-la aqui, Nita. Nunca imaginei nos esbarrarmos dessa forma. — Ao encerrar minha fala, subo a taça até minha boca, tomando a bebida e deixando Nita um pouco mais longe.
— E foi uma surpresa ruim? Desde aquele dia do hotel fiquei esperando que você iria me ligar, mas como disse que iria voltar para a Inglaterra, não deixei as expectativas falarem muito alto.
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SECRET
FanfictionNão ter orgulho do passado não é um problema. Difícil é ter que encará-lo após tantos anos fugindo. E quando você finalmente resolve aceitar, o coração tem escolhas completamente diferentes.