('Cause everytime we touch, I get this feeling and everytime we kiss, I swear I can fly)
Rebecca ficou ausente do escritório por alguns dias. Não tivemos notícias dela, nem de Richie, nem de Irin... Nenhum dos Armstrongs apareceu na mídia. Sabíamos que Richie recebeu alta do hospital através de notícias veiculadas, mas nenhum aviso direto foi dado aos funcionários. Enquanto isso, a companhia enfrentava um completo desespero. As ações despencavam, os acionistas estavam preocupados e, mais uma vez, as palavras do Sr. Armstrong no dia em que me convocou até sua sala ecoavam em minha mente constantemente, me fazendo pensar em formas de ajudar, porém sem chegar a nenhuma conclusão que pudesse ser mais adequada do que insistir nos meus planos com Charlotte. Ajudá-la tornou-se também uma forma de ajudar Rebecca, e eu não poderia retroceder.
A ausência de Rebecca estava me incomodando, mas eu tentava ser resiliente diante de tudo o que aconteceu. Talvez ela estivesse passando alguns dias em família ou pensando em alguma estratégia para se recuperar. Pelo menos era o que eu dizia a mim mesma, tentando justificar que não cabia a mim procurá-la. Havíamos parado em um bom momento e eu não podia estragar isso.
O incidente ainda era lembrado, mas minha participação especial não solicitada deixou de ser mencionada, o que me permitiu encontrar um momento para conversar com Charlotte antes de ela retornar para a Inglaterra. Era o momento certo. Yha me questionou sobre Rebecca por alguns dias, mas acabou desistindo. Nam ainda estava decepcionada comigo, Nita não apareceu, e bem, Kirk e Tee também estavam em seu próprio mundo. Eu não estava chamando a atenção de ninguém.
Os 80 km de distância que percorria entre Bangkok e Ayutthaya eram suficientes para me permitir pensar com clareza. Estacionei o carro próximo ao templo Wat Phra Mahathat*, avisei Charlotte da minha chegada e nos dirigimos à entrada. O local estava movimentado, repleto de turistas, o que permitia que nossa presença não fosse notada facilmente. Apesar de já conhecermos o lugar, decidimos participar de um grupo turístico para passar despercebidas. Quando Charlotte se aproximou, quase não a reconheci. Um largo chapéu cobria sua cabeça, óculos e máscaras escondiam seu rosto. Passeamos calmamente entre as plantas, infiltrando-nos no grupo, que se dirigia ao nosso guia. Logo na entrada, fomos cativadas pela majestosidade do templo, com suas intrincadas esculturas douradas e ornamentos detalhados que reluziam sob a luz do sol.
Em certo momento, conseguimos nos afastar do grupo, que continuava explorando cada atração. Fomos diretamente à cabeça de Buda feita de bronze, localizada na base de uma árvore bodhi, a principal atração para os turistas. A grande quantidade de pessoas e o som dos sinos acionados pelo vento encobriam nossas vozes, permitindo que tivéssemos uma conversa mais privada, alternando entre idiomas.
— Sam, ainda não sei como pedir desculpas. Sinto-me muito mal por você ter passado por isso — sua voz embargada mostrava seu sentimento de culpa. Ela passou o braço pelo meu, em um abraço lateral, repousando a cabeça em meu ombro. Deixei minha cabeça repousar sobre a dela, em um gesto de carinho.
— Char, está tudo bem. Isso não importa mais. Na verdade, o que aconteceu foi muito relevante para nossos objetivos aqui.
Ela pareceu surpresa. — Como assim? Enlouqueceu?
Balancei a cabeça negativamente. — Escuta... — Fiz com que ela caminhasse comigo, ainda com o braço em volta do meu. Afastamo-nos até uma escada de tijolos, onde nos sentamos para ter privacidade. — Vou te contar tudo o que descobri até agora, ok? Mas você precisa se acalmar. Não temos nada concreto para divulgar ainda. Tenho muito o que investigar. Ainda não consegui acessar o servidor, mas já sei onde está e como chegar lá.
— Estou interessada nisso. Só não sei se é seguro continuarmos.
— A essa altura, não é seguro para mim ser Sam, Freen, ou qualquer que seja o nome... Estou encurralada em todas as histórias. — Meu riso foi sem graça. Meu cotidiano envolvia tentar me manter animada, apesar de tudo. Seu rosto confuso mostrava que esperava minhas explicações. — Bom, vamos recapitular. Você me enviou aqui porque temos um grupo dedicado a invadir grandes corporações, revelar corrupções, e eu consegui descobrir, por um erro deles, que estavam desviando dinheiro através dos servidores da ACorp, etc...
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SECRET
Hayran KurguNão ter orgulho do passado não é um problema. Difícil é ter que encará-lo após tantos anos fugindo. E quando você finalmente resolve aceitar, o coração tem escolhas completamente diferentes.