(I messed up tonight, I lost another fight. I still mess up, but I'll just start again)
Desde que comecei a fazer perguntas venho recebendo algumas mensagens ameaçadoras. Não havia recuado, pois enviar ódio pelas redes sociais é fácil, qualquer um pode fazer. Mas, no momento, recebi pela primeira vez no meu telefone pessoal e isso demanda um pouco mais de competência e seriedade de seja lá quem deseja me afastar da história.
Não devo começar a considerar que talvez quem está em perigo verdadeiramente é a Sam?
Nem havia cogitado a ideia de me aprofundar nisso até o momento em que Charlotte expôs para mim quais eram seus planos. Se eu estiver realmente segura longe daqui, onde já sabem muito sobre mim, talvez seja melhor evitar que descubram mais.
Termino de escovar meus dentes e permaneço encarando o espelho. Levo as mãos até o coque que segura meus fios e faço com que sejam soltos, caindo delicadamente sobre meus ombros. Passo meus dedos por entre as mechas, tirando qualquer embaraço, e logo consigo ver o loiro liso cobrindo minha nuca e me fazendo soltar um suspiro.
— Se preciso fazer Sam sumir, devo começar pelo cabelo.
Digo em voz alta, como se falar fosse alterar o rumo das coisas.
Vou em direção à cozinha quando noto meu chá pronto. Sirvo em uma xícara que tenho desde que me lembro. Foi pintada a mão com alguns animais fofos e é a última lembrança que tenho do meu pai. Além de ser o único presente que já me ofereceu é também algo que me deu logo antes de abandonar a mim e minha mãe na Tailândia e tentar se aventurar pelo mundo. Não temos nenhum tipo de contato e eu não consigo entender o meu apego com a caneca. Algumas partes de nós nunca ficam para trás, de fato.
Apoiada no balcão e girando o utensílio esboço um sorriso no canto dos lábios ao ver a pequena fissura na alça. Lembro como se fosse ontem como minha mãe me confortou quando fiz a rachadura. E de pensar que já estou há quase 5 anos sem vê-la e sem trocar uma palavra meu coração dói. Ela não merecia ser refém das minhas escolhas erradas. Não consigo imaginar como irá me receber quando eu voltar para a casa. Ou talvez procurá-la não deva ser a decisão mais correta.
Preciso conversar com a Charlotte.
Ajeito a camisa de medida superior ao meu tamanho, fazendo com que cubra adequadamente o short bem curto que visto. Gosto de dormir assim, confortável. Antes de me deitar tiro meu telefone do carregador e tento ligar para a minha chefe-amiga, que não me atende.
Fico um pouco mais aliviada após a conversa, por mais breve que tenha sido. São 21 horas e eu preciso começar a arrumar minhas malas. Mas, o que levar de uma vida que não existe?
•••
O ritual matinal foi diferente. Me demorei na cozinha a fim de despedir de todos os meus chás. Se tem algo que eu gosto nos ingleses é o fato de apreciarem a bebida. O banho foi mais demorado do que o normal e como em um "adeus" eu não tive pressa em passar a escova no meu cabelo. A ansiedade estava tomando conta de mim desde a noite passada, quando tomei a decisão de partir e começar novamente. Meu coração aperta todas às vezes que abro o contato de minha mãe sem saber se devo procurá-la. É um problema para a "eu" do futuro, com certeza.
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SECRET
Hayran KurguNão ter orgulho do passado não é um problema. Difícil é ter que encará-lo após tantos anos fugindo. E quando você finalmente resolve aceitar, o coração tem escolhas completamente diferentes.