🌤️Capítulo XII.

739 117 10
                                    

(It's kinda been a couple crazy years for me, letting go of things that were a part of me)

— Ei! Bela adormecida! Acorda! — As palavras ríspidas, acompanhadas de um travesseiro jogado contra o meu rosto, me forçaram a abrir os olhos rapidamente.

O que foi? É feriado! Não vou para a empresa. Me deixe dormir! — Suplico para Nam, abraçando o item arremessado para me atingir, afundando meu rosto contra ele.

Eu sei! — Ela puxa o edredom que me cobre, deixando com que meu corpo reaja a brisa da manhã que invade o ambiente. — Mas você não vai ficar dormindo o dia todo! Vamos começar a dar um jeito na sua vida e ir ver a sua mãe! Dona Nun não merece que você esteja aqui e não vá falar com ela. — Satisfeita por tirar meu conforto, Nam cruza seus braços e me olha com repreensão. — Anda logo. Já estou pronta e te esperando. Vamos tomar café no caminho. Sem enrolar! Se eu tiver que voltar aqui, venho com um balde de água fria, Sarocha. — Muito imperativa, como sempre. Se vira e abre as cortinas, chocando meus olhos com tamanha claridade, após, se retira sem me deixar contestar suas ordens.

O que vou dizer para minha mãe? Não estou preparada para isso. Na verdade, ninguém nunca está. Imagina reencontrar sua família após 05 anos sem nenhum tipo de contato ou qualquer explicação do seu sumiço? Óbvio que mandei algumas mensagens para sinalizar que estava bem, além de tudo que já havia a feito passar, não poderia trazer mais uma preocupação. Eu só não me sentia pronta, não faço ideia de como começar a me desculpar. Nada será suficiente.

Meu corpo parece mais pesado do que o normal, ameaçando me forçar a ficar no estofado por mais um tempo. Minhas costas doloridas refletem a noite mal dormida, pensando em tudo que vem acontecendo nos últimos meses, anos... Quando me levanto, sinto uma breve pontada em minha cabeça, sendo forte indício de que não estarei tão disposta para o dia.

Sei que Nam não faz ameaças, apenas dá avisos. Por isso, me coloco de pé, apesar do mal-estar, depositando toda minha esperança de recuperação no banho que vou me permitir tomar. Não demoro a fazer a higiene matinal e após alguns minutos no banho sinto a água gelada vir de encontro a minha pele. — Ai, que droga! NAAAAAM! — Não me importo com os vizinhos quando grito, penso somente na raiva que sinto da minha amiga no momento.

Eu disse para andar logo! — Sua voz imponente não se sustenta em meio às suas gargalhadas.

Saio do banheiro bastante emburrada, com os passos duros para deixá-la ciente de minha revolta. Sem tempo para pensar muito no que vestir, pego uma saia preta curta, uma camiseta branca e meus crocs branco e verde. Penteio meu cabelo com gentileza, tentando não desfazer as discretas ondulações. Levo comigo apenas meu telefone e uma bolsa preta pequena.

Você vai assim? — Nam tem um claro tom de reprovação sobre o meu visual.

Qual o problema agora? Estou ótima. Vou ver minha mãe, não uma namorada. — Respondo, com um revirar de olhos e sustentando a minha cara fechada.

Não é a Rebecca, né? Senão estaria toda produzida... — Faz questão de me provocar mais uma vez antes de sairmos.

Nam conduz o carro pelo trajeto que tantas vezes fiz em direção à cafeteria de minha mãe. A loja é resultado de muito esforço e dedicação. Nós sempre fomos humildes. Depois que meu pai nos abandonou, as coisas não ficaram mais fáceis. Assim que tive idade comecei a procurar trabalho para ajudar e, apesar de todas as dificuldades, sempre ouvi que deveria me priorizar, valorizar meus estudos. Talvez se tivesse dado atenção somente aos conselhos que minha mãe me dava, não estaria nessa situação lastimável, relembrando todos os momentos da minha vida em que poderia ter feito diferente.

SECRETOnde histórias criam vida. Descubra agora