NICOLE SCHILER
Quando o corpo de Anna para de tremer eu seguro seu rosto em minhas mãos para analisar. Ele estava bastante machucado, um olho estava praticamente fechado pelo inchaço e seu maxilar estava enorme, possivelmente duas vezes o tamanho original.
— Você precisa ir para o hospital. Seu maxilar pode estar quebrado
Ela balança sua cabeça, em pânico.
— Não. Não. Não quero. Meu maxilar está bem, eu estou falando sem nenhum problema. Eu só preciso tomar alguns remédios e descansar. —Ela diz com sua voz turva e queixosa.
— Anna, você não está bem— Eu digo calmamente. — Você precisa de cuidados médico.Ela ficou em silêncio por alguns segundos e depois exalou pesadamente.
— Sem hospital. Eles irão querer saber como isso aconteceu. Seria dito à polícia, e eles poderiam fichar Aaron por acusação de agressão.
Meus olhos apertam diante da sua justificativa.
— Mas seu marido merece pagar pelo que fez. Ele não pode ficar livre.— Eu digo indignada.
Ela balança a cabeça.
— Não pense que Aaron seja um monstro. Ele apenas não estava em um bom dia. E ele não se controla bem em dias assim, é um defeito dele.
— Defeito? Você chama isso de defeito?Animosidades faíscam dentro de mim e descrença queima a ponta da minha língua.
Anna encolheu os ombros e seus olhos piscaram lentamente e ela fungou.
— Ele não queria me machucar desse jeito.
— Como não queria te machucar? —Minha voz começa a subir o tom — Ele fez o inferno em você.
— Foi só um momento de estresse.
— Você pensa assim porque ele ainda não te matou. E acredite, para matar basta um momento.Ela lambeu os lábios rachados, suas enormes pupilas dilatadas.
— Aaron não seria capaz de matar. Ele é inofensivo.
— Mesmo, então o que significa esse rosto machucado e claros sinais de tentativa de afogamento?
— Ele não...
— Pare de tentar arrumar desculpas para ele —Eu a interrompi em uma explosão — Você não quer ir ao hospital porque não quer prejudicar ele, e também não quer denunciá-lo por não querer atingir ele. Quando você vai parar de pensar no bem estar dele e começar a pensar em você?Não há nenhuma resposta da parte dela, apenas olhos culpados que expõem o
quão perdida ela está. As lágrimas deslizavam pelo seu rosto enquanto ela soluçava baixinho, provavelmente ela nem mesmo compreende a gravidade da sua situação.— Droga, eu sei que a dificuldade disso está além do que eu possa imaginar, mas você tem que acordar, Anna. Senão por você, acorde por seu filho e irmã, acabe de uma vez com essa situação. Basta uma decisão sua e eu ligo agora para meus advogados. Eles podem te ajudar a conseguir uma ordem de restrição e também lidar com o pedido de divórcio o mais rápido possível, assim como minimizar seu envolvimento para que você não precisasse ver o rosto de Aaron ou falar com ele.
— Divórcio?—Ela pergunta em uma voz trêmula, paralisada de terror.— Eu não sei se eu estou pronta para isso.Eu assobio, perdendo meu controle e
deixando a frustração e irritação vomitarem para fora de mim. Eu gostaria de conseguir ser gentil nas escolhas das minhas próximas palavras, mas gentil não vem fácil para mim, então opto pela honestidade.— Você não acha que está pronta? Você já se olhou no espelho, Anna?—Minha voz expressa meu temperamento — Quanto mais de pancadas você precisa para estar pronta? Talvez quando você não estiver espaço suficiente para ser agredida e as crianças se tornem alvos.
Os músculos faciais de Anna se contraem quando ela fecha os olhos e uma inundação de lágrimas escorre pelo seu rosto. É uma demonstração de angústia que ela não pode controlar, e de repente eu me sinto culpada por colocar esse peso em cima dela. Nesse momento eu percebo que Anna não é abusada apenas fisicamente, seu psicológico também estava ferrado. Era típico de todo agressor a necessidade de manter suas vítimas confusas, fora de equilíbrio, perpetuamente inseguras de si mesma e dispostas a concordar com tudo que lhe for proposto. E sendo um maldito agressor o marido de Anna claramente age assim, dessa forma ele pode manipular ela com mais facilidade.
— Inferno, eu sinto muito. Não queria te deixar mais tensa. É só... não é fácil ficar calma quando eu vejo o que aquele covarde fez com você.— Respirei longa e
irregularmente. — Isso tudo está errado, Anna. Sua segurança e das crianças que dependem de você precisa estar em primeiro lugar. Aaron é um grande covarde de merda que deve pagar por cada um dos seus atos. Ir para cadeia é mínimo do que ele merece.Ainda com lágrimas caindo pelo seu rosto em um fluxo constante de angústia, ela sufoca um soluço e me encara com olhos escuros. Sua mandíbula se apertou ao me ouvir falar sobre seu agressor e de repente parecia que eu era seu carrasco.
— Muito obrigada por sua preocupação, Nicole, mas eu sei o que estou fazendo.
Eu não preciso de uma dessas ordem de restrição, e nem tenho a intenção de pedir divórcio.
— Quer perder sua vida por um homem então?
— Eu já disse que ele não seria capaz disso.
— Como você pode saber? Com certeza pensou um dia que ele nunca te espancaria também.
— Eu sei que ele nunca me mataria porque eu o amo, e sei que ele também me ama. O que acontece é que tem momentos que ele fica perdido dentro de si. Aaron teve um passado difícil e está ferido.
— Você também está ferida. Não só fisicamente mas na sua mente também. E se ele te amasse, não te machucaria. Porque nada, absolutamente nada, justifica ele descontar as fodidas frustrações em você.Um som sufocado escapa de seus lábios. Em voz baixa, como se o esgotamento estivesse próximo ao rompimento, ela diz:— Eu compreendo sua tentativa de me ajudar, Nicole. Mas eu sei o que estou fazendo, meu amor vai curá-lo..
— Não, Anna. Você não sabe.— Eu lato. A raiva enrolando meus nervos. — O amor não cura tudo. E eu espero que você se torne ciente disso a tempo, porque existem duas crianças que dependem de você.Encolhendo os ombros, ela apenas olha para mim com os olhos cansados.
— É pensando nelas que eu te chamei aqui.
Quero saber se você pode ficar com minha irmã e meu filho por algumas noites.Surpresa me atingiu e uma leve risada em descrença me escapou.
— Você está brincando comigo, certo?
Ela sacudiu a cabeça, enquanto me olhava com um olhar seco e meio pálido que transmitia a ideia de que o cansaço havia roubado todas suas energias.
— Eu sei que é um pedido atípico já que você nunca teve muito contato com as crianças, mas eu não tenho nenhum familiar e você é a única pessoa na qual eu posso confiar. E serão somente algumas noites, só até que eu consiga acalmar meu marido. Normalmente eu consigo fazê-lo voltar ao normal em duas ou três noites.
— Que droga de pedido louco é esse? Você espera que eu fique com suas duas crianças enquanto você brinca de roleta russa com o humor do seu marido agressor?Anna suspira parecendo muito cansada de toda situação. Seus traços são de uma pessoa exausta em todos os sentidos da
palavra.— Só por três noites, Nicole. É tudo que eu te peço. Se você quer mesmo me ajudar, eu te imploro que cuide das crianças.
Dessa vez quem suspira sou eu. A situação também facilmente me esgotou, e eu vejo nos olhos de Anna que ela ainda acredita muito na sua relação com o marido. As crianças são os únicos que sofrem sem direito a uma decisão nesse lar conturbado.
Então se há a possibilidade de eu afastá-los disso tudo eu sinto o dever de fazer, mesmo que momentaneamente.— Ok, eu irei levá-los. Mas antes, vou chamar uma profissional para dar uma olhada em você.
— Não precisa, eu estou bem.
— Isso não está em discussão — Eu digo já pegando meu celular e iniciando a chamada.
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O Abismo dos Desejos Proibidos
Lãng mạnBruno Hughes é gostoso, elegante, engraçado, e tem um olhar que pode derreter aço. E Nicole Schiller tem uma queda pelo melhor amigo de seu irmão desde que se lembra. No aniversário de dezesseis anos dela ele faz uma promessa, e ela espera pacientem...