Capítulo 19-Os perigos crescem se os desprezamos.

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NICOLE SCHILER

Eu tento gritar, mas nenhum som sai. Uma  mão cobre minha boca e captura meu grito e o empurra de volta para dentro de mim. Meu coração está surtado no peito e pontos pretos dançam na minha visão. Eu nunca fui boa com lugares apertados, e
estar presa entre os braços desse ogro é estar dentro de um espaço apertado pra caralho.

Eu tento reagir.

Nesse momento gostaria de lembrar do treinamento que recebi por toda minha infância e adolescência, mas é difícil colocar em prática aqui. O que domina é o medo crescente. Eu mordo a mão e sinto gosto de sangue. O xingamento alto do homem me segurando me deixa saber que fiz algo doloroso para ele, mas o bastardo não me solta. Meus pés ainda não tocam o chão. Eu ataco, chuto para trás. Meus calcanhares batem em ossos e músculos fortes, mas o aperto ao meu redor não cede.

Eu não sei por quanto tempo fui carregada, mas o cansaço consequente da minha luta para me libertar pareceu evaporar quando me vi diante de uma van digna de um pesadelo. Sua aparência era tão aterrorizante que parecia ter emergido de um mundo sombrio e esquecido, suas janelas suja, com partes amassadas e pintura descascada exalando uma aura de perigo.

Meu coração acelerou ainda mais diante dessa visão sinistra, e um arrepio percorreu minha espinha, como uma onda de medo se espalhando por todo o meu corpo. A visão daquela van significava encarar o desconhecido, o horror, a possibilidade de nunca mais ver a luz do dia. No entanto, meu pavor não me impedia de lutar como um gato arisco lutando pela sua sobrevivência. Eu chutei, gritei e me contorci, agarrando-me a qualquer resquício de esperança, pois sabia que entrar naquele veículo era equivalente a assinar minha própria sentença de morte.

Eu não queria morrer, não assim, não nas mãos desses desconhecidos cruéis.

— Fique quieta! — O meu captor gritou, a voz carregada de ameaça e impaciência.

No entanto, eu não me deixei dominar pelo desespero, continuando a me debater com tanta força que mais outro homem tem que segurar minhas pernas para conseguir me
conter.  Lágrimas de frustração se misturaram ao suor em meu rosto enquanto eu lutava contra o inevitável.

— Me solta! Me. Solta. Va... — Minha voz vacilou, engasgada pela garganta seca e pelo medo sufocante. Eu estava lutando não apenas contra o homem que me segurava, mas contra minha própria angústia avassaladora.
— Sua puta encrenqueira— O outro homem estalou e então minha cabeça gira quando algo duro e contundente bate contra a parte de trás do meu crânio.— Fique em silêncio ou será pior.

Como se quisesse dar veracidade para sua ameaça, ele me atinge com outra batida forte na cabeça. Eu não consigo gritar. Algo me sufoca na garganta. Não há luta ou
gritos ou arranhar furiosamente pela minha vida. Tudo que há é uma
sensação de afundamento e escuridão.
Somente escuridão. O vazio me envolve, levando-me para longe dos eventos da última meia hora. Eu durmo, ou perco a consciência, não sei. É como se eu
ainda estivesse acordada porque posso sentir a van balançando de um lado para o outro quando ela vira nas estradas. Minha audição ainda é capaz de pegar trechos de conversas, distantes e abafadas, mas não consigo compreender as palavras.

Nós viajamos por bastante tempo. Eu não tenho ideia de quanto. Poderia ser horas, poderia ser apenas alguns minutos. Tudo é um borrão.

Que porra eu me meti?

Ainda sinto-me desorientada, mas algo dentro de mim se esforça para emergir daquele estado nebuloso. No entanto, meu corpo parece discordar dessa retomada, e a primeira reação que experimento é uma onda de náusea terrível que se estende até meu estômago. Um solavanco na van me faz perceber que agora estamos indo por uma estrada de chão batido, e o balançado rapidamente me faz vomitar no piso de metal frio e áspero da van. Esse é o único alívio momentâneo que consigo encontrar para os efeitos colaterais de uma possível concussão.

O Abismo dos Desejos ProibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora