NICOLE SCHILLER
Ao longo do caminho, percebi que as construções mais altas se tornavam cada vez mais raras, sendo substituídos por montanhas e florestas densas, com casas solitárias afastadas da estrada. E quando o carro finalmente para, eu não sei se sinto alívio por poder sair de dentro daquela lata velha, ou se choro ao olhar minha volta.
— É...aqui?
Eu tinha pesquisado sobre Sitka no Google e fuçado algumas coisas por alto. Minha pesquisa informou que Sitka era pitoresca e
eclética, banhada pelo oceano Atlântico. Um point para atividades ao ar livre. Uma cidadezinha charmosa. E eu já me imaginava em um apartamento rústico, porém habitável, com vista para o mar, além de muitas oportunidades de tirar fotos
que futuramente me daria conteúdos para redes sociais.Mas aqui na minha frente era diferente
Muito diferente.
— Sim, aqui.— Bruno responde.
Vejo algumas poucas construções de dois andares. O restante são edifícios pequenos de um único piso. Uma escola, um hospital, uma barbearia, uma biblioteca e uma lanchonete. Todos com toldos pitorescos, nos quais não está estampado o nome de nenhuma grande rede.
Seguimos pela rua, e a cada passo, o ambiente se tornava mais assombrado, quase como se estivéssemos entrando em um cenário de filme de terror. As casas ao nosso redor pareciam esvaziadas de vida, com janelas retro e fachadas desgastadas. Era como se estivéssemos em uma cidade fantasma, onde o tempo havia parado. Quando finalmente paramos em frente a uma casa grande e antiga, fiquei dividida. Por um lado, impressionada por sua imponência; por outro, um tanto preocupada.
Será que o fato de ser a maior da rua era um bom sinal, ou meu alívio ao ver algo minimamente luxuoso era um indício de que em poucas horas meu padrão havia caído mais do que eu imaginava?
— Finalmente vocês chegaram!
Um homem coberto de graxa da cabeça aos pés surge na varanda. Ele desce os poucos degraus e se aproxima. Uma grossa e horrível barba cobre boa parte de seu rosto, e seus olhos são os mais visíveis. Pretos como a noite.
— Hey, Ander.
Os dois homens se cumprimentam rapidamente. Então o homem se vira para mim.
— Vejo que você cresceu e continua fazendo estragos, hein?
Ergui uma sobrancelha.
— Não tenho culpa se as confusões me encontram.
Ele soltou uma risada grave, mostrando os dentes amarelos.
— Isso é verdade quando se trata dos Schillers. Vamos entrar, temos muito a discutir.
Bruno e eu acompanhamos o homem. Levamos quase trinta minutos apenas para passar pela infinidade de sistemas de segurança entre a porta de entrada e a sala de estar. Câmeras, sensores e portas trancadas atrasaram nossa entrada por quase meia hora. Quando finalmente chegamos à sala de estar, meus olhos já estavam à procura de algo para comer.A sala era austera, com poucos móveis e telas piscando com dados complicados. As paredes estavam decoradas com animais empalhados, suas expressões congeladas em olhares vazios.
Um contraste estranho entre o tecnológico e o grotesco.
Meu estômago roncou, mas parecia que a única coisa a ser devorada ali eram as informações nos monitores.
— Você mora sozinho? — pergunto.
— Sim — Ele responde com indiferença.Eu suspiro e minha esperança de encontrar algo decente para comer desaparece. Um homem morando sozinho geralmente significa uma geladeira repleta de restos de comida e bebida, e um armário cheio de pacotes de macarrão instantâneo vencidos e enlatados.
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O Abismo dos Desejos Proibidos
RomanceBruno Hughes é gostoso, elegante, engraçado, e tem um olhar que pode derreter aço. E Nicole Schiller tem uma queda pelo melhor amigo de seu irmão desde que se lembra. No aniversário de dezesseis anos dela ele faz uma promessa, e ela espera pacientem...