Capítulo 40 - A mudança é o começo

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NICOLE SCHILLER

O dia mal amanheceu e eu já estou de mau humor. Matizes suaves de dourado e rosa pintaram o céu, mas eu não conseguia desfrutar da beleza. Havia algo terrível em deixar sua própria casa. Irônico, considerando que lutei muito com meu pai para sair de lá. Agora que fui ordenada a sair, eu sentia como se meus pés estivessem enterrados no cimento. Mesmo depois de uma montanha de croissants e café, eu ainda estou me sentindo um lixo. E para completar, ter que me despedir da minha família deixou-me emotiva.

— Se cuide, abelhinha. Por favor, fique bem e saudável. Eu te amo — Minha mãe já é uma bagunça de lágrimas.
— Eu também, mãe.

Eu a abraço mais uma vez antes de entrar no carro. Eu não olho para trás enquanto o carro se afasta porque isso seria mais doloroso. Tudo que eu faço é segurar o máximo possível as emoções dentro de mim. Quando chegamos no aeroporto, tudo é muito rápido e menos de quarenta minutos depois o avião está descolando.
As primeiras horas no avião é repleta de tensão para mim, especialmente quando eu sou obrigada a responder as instruções de Bruno. E ele parece tão interessado em me passar quanto eu em responder.

— Preciso que isso fique bem alinhado em sua mente, Nicole. São regras simples, que você precisa seguir para que tudo ocorra bem.

Eu suspiro, muito cansada disso.

— Eu já entendi, você não precisa ficar repetindo isso de instante em instantes.
— Se tratando de você, nunca é demais relembrar as regras.

Eu tiro a venda dos meus olhos bruscamente e encaro ele.

— Eu já disse que entendi, ok? E não se preocupe, vou seguir à risca porque quanto antes isso acabar e eu puder ficar longe de você, melhor.

Essas palavras ecoaram pelo avião, garantindo um silêncio absoluto por toda a viagem. Quase doze horas se passaram até o momento do pouso, e eu mal podia esperar para respirar um pouco de ar fresco. Quando o avião finalmente toca o solo, sinto um alívio imediato, como se um peso enorme tivesse sido tirado dos meus ombros. O aeroporto é pequeno e pouco movimentado, um contraste gritante com os grandes e movimentados a que estou acostumada. As luzes são mais suaves e menos ofuscantes, e o barulho constante de anúncios e multidões apressadas está ausente.

A calmaria é quase surreal.

Assim que desço do avião, sou recebida por um vento suave que carrega o cheiro de sal marinho e vegetação úmida. O ar é frio e traz consigo a essência da floresta e do oceano ao redor. Olho ao redor, procurando sinais de vida, mas vejo apenas algumas poucas pessoas, todas parecendo relaxadas e despreocupadas.

— Vamos, é por aqui — Bruno puxa meu braço.

Eu imediatamente tiro meu braço da sua mão. Minha pele queimando onde ele me tocou.

— O que? — Ele me encara confuso.

Sem nenhuma palavra, eu me afasto e começo a caminhar na direção do pequeno aeroporto. O vento frio do fim de tarde me faz encolher os ombros enquanto Bruno aperta o passo ao meu lado. Seguimos em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos, enquanto o som dos nossos passos ecoa no piso. Ao ver o sedã de luxo nos esperando do outro lado, um alívio toma conta de mim. Pelo menos, não precisaremos enfrentar o aperto de um carro pequeno. O máximo com que tenho que me preocupar nesse carro é se devo ligar ou não o ar-condicionado.

— Sr e Sra. Martin— O homem de terno escuro ao lado do carro nos saúda assim que nos aproximamos.

Quase não respondi ao cumprimento, esquecendo momentaneamente dos nossos sobrenomes falsos. Mas então, recobro a compostura e sorrio, assentindo com um balançar suave da cabeça. Bruno e o homem trocam algumas palavras rápidas sobre os detalhes da viagem, enquanto eu observo o interior luxuoso do carro através da janela, sentindo uma leve ansiedade pelo que está por vir.

O Abismo dos Desejos ProibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora