Capítulo 24-Devemos ir buscar a coragem ao nosso próprio desespero.

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BRUNO HUGHES

Com as instruções de Adam em mente, Deive e eu nos dirigimos para a sede da empresa. A ansiedade em nossos passos eram palpáveis, impulsionadas pela necessidade de encontrar respostas e evidências. Após menos de trinta minutos de espera, obtivemos o tão esperado acesso às filmagens das câmeras da região, bem como da residência do promotor. O peso do desconhecido pairava sobre nós enquanto selecionamos a data, buscando a que correspondesse com aquela que desejávamos.

Assistimos atentamente às imagens, percorrendo cada momento da movimentação de Nicole no dia em questão. Após minutos de análise minuciosa, finalmente encontramos as imagens que precisávamos. As câmeras haviam registrado a chegada de Nicole à casa do promotor pela manhã, uma aura de raiva claramente visível ao redor dela. Concentramo-nos na entrada e saída da casa nos minutos seguintes, sabendo que cada pessoa que aparecia nas imagens poderia ser uma testemunha potencial. Além do motorista de Nicole, identificamos uma médica e uma enfermeira, que provavelmente estavam relacionadas à amiga que ela estava tentando ajudar.
Observamos cada detalhe atentamente, acompanhando a movimentação com cuidado. Vimos Nicole sair da casa com as crianças, assim como a intervenção da polícia para afastar os seguranças que ela havia deixado no local na noite do mesmo dia. E finalmente, encontramos as imagens do momento em que Nicole seguiu o promotor.

— É o suficiente. — Deive pausou as imagens e começou o processo para fazer uma cópia das evidências.

Enquanto as imagens eram copiadas, o silêncio preenchia o ambiente. Sentindo meus passos pesados, parei na frente da grande janela. Com a noite alta, meu reflexo era nítido na vidraça e fiz uma careta. O que eu vi foi chocante. O estranho olhando para mim parecia uma merda assustadora. Minhas sobrancelhas estavam baixas e pesadas sobre o piscar dos meus olhos que estavam atualmente alguns tons mais escuros do que o seu habitual azul cobalto. Meus lábios estavam pressionados em uma linha sombria, meu rosto afundado com stress.

— Agora precisamos encontrar a esposa do promotor. — Deive quebrou o silêncio.

Com um olhar ainda concentrado em minha imagem, eu concordei.

— Eu não vi a mulher do promotor em nenhuma das imagens. Ela ainda pode estar na casa.— Eu digo
— É uma possibilidade. Vamos mandar alguns homens verificar a casa.
— Eu acho mais prudente que nós verificássemos pessoalmente. Quanto menos pessoas souberem do que estamos fazendo, melhor

Deive reflete por um momento.

— Você tem razão. Quanto menos pessoas envolvidas, menor a chance de algum vazamento. Vamos fazer isso nós mesmos.

Concordei.

— Exatamente.

Com a cópia das imagens finalizada, nós voltamos ao carro e seguimos em direção à casa do promotor. A atmosfera dentro do veículo era densa, e foi multiplicada quando estacionei o carro no meio-fio. Olhando para o bairro ao meu redor, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que caminhavam na rua aquela hora. Havia até mesmo crianças brincando em um parquinho que parecia um pouco deteriorado, mas ainda caloroso. A casa do promotor estava situada no final de uma longa estrada da vizinhança suburbana e aparentemente respeitável.

— Vamos lá.

Deive e eu saímos do carro e nos aproximamos da varanda da casa elegante, uma das poucas da rua. Estava tudo escuro, e precisei ligar a lanterna do celular enquanto me movia cuidadosamente em direção à porta da frente. Olhei através da pequena vidraça na porta, mas não vi qualquer sinal de vida. Tudo estava silencioso.

— Você está com sua arma?— Deive perguntou.

Eu balancei a cabeça.

— Você acha que é um bom momento entrar agora com essas pessoas olhando?

Deive passou um olhar ao redor, captando os olhares curiosos enviados em nossa direção. Por fim, ele deu de ombros.

— Não temos tempo para malditos fofoqueiros.

Ele tentou girar a maçaneta da porta e esta se abriu. Lá dentro, imediatamente eu pude sentir que algo terrível tinha acontecido ali. Tudo estava revirando, todos os móveis jogados, vidros espalhados pelo chão e havia manchas de sangue. Não havia sons na casa que não os feitos por mim e Deive.

O lugar parecia vazio.

— Você fica com a esquerda e eu com a direita.— Deive diz dando passos adiante no corredor da frente.

Com a Glock pronta para qualquer eventualidade, sigo Deive quando começamos a explorar a casa. Eu sigo ele por alguns passos antes de chegar a bifurcação que exige nossa separação. A casa permaneceu em silêncio conforme eu seguia analisando cada porta. Depois de verificar um escritório, um banheiro e dois quartos eu confirmei que esse lado da casa estava realmente vazio. Mas com as luzes ligadas, indicando que as últimas pessoas que passou por aqui tinha saído
apressadamente. E estou começando a pensar que nossa vinda foi em vão quando me aproximo da próxima porta. E assim que abri senti a respiração parar em minha garganta.

— Deive — Eu gritei.

Menos de dez segundos e ele está a ao meu lado.

— Porra!— Ele xingou quando seus olhos viajam até a mulher morta deitada no chão do quarto, com sangue acumulado em torno dela.
— É a enfermeira.

Eu me aproximo apenas para confirmar a morte e analisar a cena. Ela não viu seu assassino chegando. O spray de sangue na cômoda mostra que ele veio por trás dela. Não há nada quebrado ou quaisquer sinais de luta.

— Se Nicole deixou a enfermeira aqui para cuidar da esposa, e agora a enfermeira está morta é porque ou ele levou a mulher para outro lugar ou ele também matou a esposa— Eu digo, seguindo a linha de pensamento mais óbvia.

As circunstâncias não eram das melhores e não havia muito a ser deduzido. As opções pareciam claras como água, ainda que nebulosas em sua verdadeira natureza.

— Você olhou todos cômodo com cuidado?— Deive questiona e eu entendo o que ele está querendo dizer.
— Com exceção desse, eu olhei cada maldito palmo dos outros cômodos e não havia nem sequer sinal de um quarto oculto.

Ele suspira com evidente raiva e frustração.

— Porra do caralho — Ele xinga.— O promotor estava no cativeiro e provavelmente é um dos corpos derrubados na invasão. Onde quer que essa mulher esteja, se ela já não estiver morta, ela não tem muito tempo.
— Porra.

Raiva e frustração também me rodearam com força. E não somente porque havíamos poucas chances de encontrar a principal testemunha de Nicole. Havia também duas crianças que em breve se tornariam órfãs.

— Eu vou ligar para os federais. Eles...— Eu começo a dizer, mas Deive faz um sinal para que eu fique em silêncio.

Seu semblante está concentrado e ele começa a se mover lentamente pelo quarto. Eu acompanho sua movimentação em silêncio, havia aprendido a muito tempo sobre a audição afiada dele. Então parando ao lado da cama ele começou a empurrar ela para fora da sua posição.

— O que diabos você está fazendo?

No entanto, antes que eu pudesse receber uma resposta, Deive se abaixou rapidamente, aproximando seu rosto do chão de madeira.

— Há alguém aqui embaixo— Ele murmurou, como se compartilhar a informação em voz alta pudesse de alguma forma desmentir suas suspeitas.

Eu repito sua posição e de início não ouço nada. Mas em seguida escuto um arranhar no assoalho debaixo juntamente com um
choro fraco.

— Você ouve isso?
— Sim, é ela. Só pode ser ela.— Eu digo enquanto esperanças me enche novamente.
— Nós precisamos achar um acesso.

Deive começou a sondar o piso. Eu o ajudo, mas não há qualquer sinal de um possível espaço debaixo da casa. Tudo o que vejo era apenas uma fundação de madeira sem qualquer abertura.

— Aqui.

Deive alcançou um pedaço partido de treliça no chão, mostrando uma abertura no local. Com facilidade ele conseguiu abrir a pequena porta quadrada para o forro sob a casa. Se debruçando, ele usou a lanterna do celular para espreitar o interior. A luz revelou um rosto aterrorizado.

— Aaron?— Ela sussurrou

O Abismo dos Desejos ProibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora