Capítulo 43 - Não se acomode. O esforço nunca termina.

113 18 1
                                    

NICOLE SCHILLER

Acordei com o penetrante e irritante toque do despertador entoando o mesmo som, uma e outra vez. Só para parar e começar tudo de novo alguns segundos depois. Eu gemia e rolava para as minhas costas. Mesmo com os olhos ainda fechados, um pouco do brilho do dia veio através das minhas pálpebras. Eu abri meu olho esquerdo e tento ajustá-lo à luz antes de abrir o outro. Eu tive poucos segundos felizes de verdade, pensando que eu estava de volta a Washington DC, antes da realidade me bater. Pisquei algumas vezes antes de me arrastar sentada. Imediatamente senti a umidade no ar. A chuva respingado ruidosamente na vidraça, parcialmente obscurecendo um céu.

Exalei e fiquei ali por alguns momentos, me perguntando que horas eram.

6:00 PM

O quarto estava silencioso, eu não podia ouvir qualquer barulho. O conhecimento de que eu estava sozinha me golpeou com uma extraordinária sensação de alívio.
Eu saí da cama e cambaleei e deixei uma trilha de roupas até o banheiro. Quando vi meu reflexo no espelho, congelei, completamente atordoada com o que
vi. Ontem após o banho eu tentei usar um dos meus cremes faciais para melhorar a textura e aspecto de meu rosto. Mas ir dormir sob choro fez seu trabalho de reversão. Marcas vermelhas estavam sob o inchaço em meus olhos de tanto chorar, mas isso não era o pior de tudo. Era a expressão em meus olhos. Era vazia e abatida. Não reconheci essa sombra desesperada de uma garotinha na minha frente.

Eu a desprezava.

Aquela não era a Nicole Schiller que eu conhecia. Não era a mulher forte, confiante e destemida que sempre fui. Eu precisava me reconectar com a minha essência, recuperar meu amor-próprio, minha força e meu autocuidado. Eu não era alguém que se deixava abalar por qualquer adversidade ou por palavras duras. Eu era Nicole Schiller. E, se havia uma coisa que eu sempre soube fazer com perfeição, era ser exatamente quem eu nasci para ser.

Linda, corajosa e imbatível.

Depois de um banho demorado, onde usei cada tipo de creme, loção e óleo que consegui encontrar, finalmente saí, envolta em uma toalha. Escolhi um dos meu vestido maxi favorito, um que sempre me fazia sentir poderosa. Sabia que vestir algo bonito poderia mudar meu humor.

Em frente ao espelho, apliquei uma maquiagem leve, suficiente para apagar os traços da noite anterior. Assim que terminei, olhei para o reflexo, agora renovado. Eu estava pronta. Não apenas para o dia, mas para retomar o controle das minhas emoções, e encarar o mundo de volta sem abaixar a cabeça.

Eu desci a escada do sótão com cuidado, cada degrau rangendo levemente sob o meu peso. Quando meus pés finalmente tocaram o chão, fui recebida por um corredor que parecia estar imerso em um silêncio absoluto, tão profundo que quase podia ouvir a minha própria respiração. A luz do dia, filtrada pelas janelas empoeiradas, iluminava o ambiente de uma maneira que eu não tinha notado antes. Cada canto, cada detalhe que antes parecia insignificante, agora estava gritando por atenção.

Conforme vou andando, sinto a inquietação tomando meu passos. A quantidade de câmeras e sensores espalhados pelas paredes e pelo teto, muitos deles quase imperceptíveis, era algo assustador. Cada movimento que eu fazia, cada passo que dava, era capturado por múltiplas lentes, registrando cada segundo da minha existência. Era como se o próprio espaço estivesse observando. E, por mais que eu tivesse crescido rodeada por essa tecnologia, convivido com ela todos os dias, naquele momento, aqui a presença constante dessas máquinas vigilantes me causou um calafrio, fazendo-me questionar até onde essa vigilância poderia ir.

— Aquele velho maluco. —Eu resmungo.

Virei à esquerda para ir à cozinha antes de perceber que a direção estava errada. Parei e comecei a andar na outra direção. Só
que não olhei para onde estava indo antes. No segundo passo, colidi com alguém. Me atrapalhei quase indo de bunda no chão, mas consegui me equilibrar. Quando consegui me estabilizar, levantei o olhar para identificar a pessoa com quem colidi.

O Abismo dos Desejos ProibidosOnde histórias criam vida. Descubra agora