ANTES
Já estávamos na metade do jogo, nosso time estava muito à frente do adversário, mas ainda não era hora de comemorar ou dar o jogo por vencido, uma virada sempre podia acontecer. Minha mão ainda doía um pouco, mas estava conseguindo fazer os arremessos.
— Down, set... — gritei e Nick se preparou para me arremessar a bola — Hut! — voltei a gritar e recebi o arremesso do meu colega nas mãos.
Assim que eu a recebi, parei alguns segundos para analisar minhas opções, e acabei arremessando para o Thomas, que não conseguiu chegar na linhas das trinta e cinco jardas, antes de ser derrubado pelos adversários.
Vi que eles estavam vindo com muita maldade em cima dos nossos jogadores, sem se importar muito em fazer faltas. Na terceira descida, percebi que os jogadores para quem eu podia arremessar, estavam bloqueados, vi uma brecha na defesa e resolvi correr para tentar marcar os pontos, mas não fui rápido o suficiente e me derrubaram, nem sei quantos jogadores caíram em cima de mim antes que o juiz apitasse.
Caí de mal jeito no gramado, e senti meu tornozelo na hora, não era uma dor comum e quando o treinador viu que eu não me levantei de imediato, ele gritou meu nome, tentando chamar a minha atenção. Fiz uma careta quando tentei apoiar o pé no chão para me levantar, e pouco tempo depois a equipe médica já estava em campo.
— Meu tornozelo. — reclamei, e gemi de dor quando o médico do time tocou no meu tornozelo.
— Ele não vai conseguir jogar assim. — o médico falou com o auxiliar, que já trouxe a maca para que me retirassem de campo.
Me levara para a tenda médica na lateral do campo e lá eles retiraram meus tênis e meia, para analisarem meu tornozelo. Ele estava começando a inchar, e já era possível ver uma mancha arroxeada surgindo na parte interna, jogaram um spray para ver se aliviava a dor, colocaram um tipo de bandagem, e quando viram que não tinha jeito, me levaram direto para o hospital.
Passei por diversos exames, e nesse momento eu já não conseguia esconder minha preocupação, pela cara que os médicos do time faziam todas as vezes que analisavam um novo exame, eu sabia que não era bom.
— E então doutor? — estava ansioso, todo aquele mistério estava me matando.
— Você sofreu uma entorse nível três, e vamos precisar imobilizar seu tornozelo, não conseguirá jogar pelos próximos dias. — informou e eu suspirei — Nesse tipo de entorse, há um risco de instabilidade permanente no tornozelo.
— Permanente? — perguntei com o cenho franzido — Quer dizer que não vou mais conseguir jogar?
— Há um risco, podemos tentar uma cirurgia, mas não é algo que recomendo agora. Você vai ficar algumas semanas com a bota imobilizadora e depois queremos que faça fisioterapia, aí sim saberemos se você estará ou não apto para voltar pro campo.
— Entendi. — assenti, tentando parecer o mais firme possível, mas sentia todo o meu corpo gelado com a possibilidade de nunca mais poder jogar.
Me formei em administração para ter uma segunda opção, meu pai sempre me deu apoio para me tornar jogador, mas sempre me falava que a minha vaga em sua empresa estava garantida se eu quisesse. Porém, isso nunca passou pela minha cabeça antes, futebol era o meu sonho.
Meu tornozelo foi imobilizado, e o médico me passou as orientações sobre os medicamentos que eu deveria tomar, e também as compressas que deveriam ser feitas para ajudar na recuperação. Quando saí do consultório, vi que a Juliette me esperava aflita e tentei sorrir para que ela não ficasse tão preocupada.
— O que houve?
— Vou ficar de molho uns dias. — brinquei e ela assentiu, encarando por um tempo a bota no meu tornozelo e as muletas.
— Senta aí e me espera, vou conversar com seu médico. — disse e eu neguei.
— Não precisa, pequena. Ele já me passou tudo.
— Eu insisto.
Juliette bateu na porta do consultório e entrou em seguida, me apoiei nas muletas e me sentei na cadeira e fiquei esperando até que ela terminasse.
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Juliette, Kylie e Rallyson estavam entretidos em uma conversa sobre bebês e casamento, enquanto eu estava sentado à mesa junto com o Owen.
— Sente saudades do futebol? — perguntei e meu amigo negou.
— Amava jogar, mas também amo a minha vida como está agora. — respondeu, bebendo um pouco da sua cerveja — E você, como está sua cabeça com essa lesão?
Suspirei pensativo antes de responder.
— Eu fico querendo ser otimista, outros QB's* já tiveram a mesma lesão do que eu, e conseguiram voltar a jogar sem problemas, mas eu tenho pensado em como será minha vida longe do futebol.
— Deve ser uma merda tudo isso, sei que esse sempre foi seu sonho.
— É. — cocei a barba e levei minhas mãos até meu cabelo, bagunçando meus fios.
— Além disso, tem mais alguma coisa te incomodando? — meu amigo me conhecia demais, e eu sabia que ele notaria que havia algo além.
— Eu estou me sentindo culpado pelas coisas que aconteceram com a Ju. — contei e meu amigo franziu a testa, confuso com o que eu dizia.
— Você não tem culpa. — ele afirmou e eu dei uma risada fraca.
— Pior que eu tenho, se não fosse aquela aposta estúpida, nada disso estaria acontecendo. — rebati — Eu fico pensando às vezes em como as coisas seriam se não fosse aquela aposta, e eu sempre chego à conclusão de que Yuri não se aproximaria dela, se eu não tivesse aceitado o desafio.
— Irmão, não tem como você saber disso.
— Yuri só se aproximou dela por minha causa, e tudo virou essa merda por causa disso. — voltei a afirmar — Ela tenta se fazer de forte, e minha pequena é forte pra caralho, mas ela tem pesadelos às vezes, e sei que ela evita falar comigo do assunto por medo que eu termine de surrar o Montgomery. — fechei os olhos, as lembranças do dia da festa voltando para minha mente — Naquele dia eu senti tanta raiva, eu acho que nunca senti tanta raiva assim antes, e eu nem sei se eu teria parado se não fosse a Juli.
— Não vai te fazer bem ficar se culpando agora, infelizmente a aposta aconteceu, e vocês conseguiram passar por cima disso, e sei que por mais difícil que esteja agora, vocês vão superar isso também.
— Eu sei, mas eu não paro de pensar que talvez ela estivesse melhor sem mim. Ela passou por tanta coisa, e mesmo assim não pensou duas vezes antes de deixá-lo impune só para me livrar da cadeia, às vezes eu penso que não mereço isso.
— Não pensa assim. — pediu, tocando meu ombro em conforto — Eu também estaria puto se eu soubesse que o cara que fez essas coisas com a minha namorada estivesse livre, mas uma coisa que a Bianca disse e é verdade, é que pessoas como ele sempre voltam a errar, e quando isso acontecer, ele vai pagar por tudo o que ele fez.
— Eu não queria que mais ninguém passasse pelo que a Juli passou, se eu não tivesse chegado a tempo...
— Você chegou, e impediu que algo pior acontecesse.
— E agora ele está livre...
— Por enquanto. — Owen tentou ser otimista e eu assenti.
Enchi minha boca de água, e refleti por um momento sobre tudo, e eu sabia que não conseguiria ser tão amistoso com o Montgomery caso ele tentasse qualquer coisa com a Ju de novo.
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N/A: *QB abreviação de quarterback.
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Depois da Aposta
FanfictionNova cidade, nova vida! Em San Francisco, Rodolffo se prepara para ingressar nos 49ers, enquanto Juliette inicia seu trabalho na White Castle Publishing. Tudo na vida deles ia bem, cada dia mais apaixonados um pelo outro e não poderiam estar mais fe...