Capítulo 48

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Ouvi a Ju gritar do banheiro, um grito que fez todo o meu corpo gelar e meu coração parar de bater no meu peito, um grito que arrepiou minha espinha

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Ouvi a Ju gritar do banheiro, um grito que fez todo o meu corpo gelar e meu coração parar de bater no meu peito, um grito que arrepiou minha espinha. Levantei me sentindo desnorteado, e corri ao seu encontro. A encontrei de pé, seu corpo inteiro tremia e ela estava tão pálida que eu conseguia ver as suas veias finas. Seu rosto estava tomado de lágrimas, suas mãos estavam na barriga e quando desci os olhos para as suas pernas, vi que estavam sujas de sangue.

— Rodolffo... — sua voz saiu tão fraca que eu mal pude ouvir.

Me aproximei dela e segurei seu rosto entre as minhas mãos, limpando suas lágrimas com o polegar.

— Vai ficar tudo bem. — menti, eu sabia que não poderia estar tudo bem com todo aquele sangue. Peguei uma toalha e limpei suas pernas, tentando amenizar as coisas e a peguei no colo.

A coloquei na poltrona do nosso quarto apenas para vestir uma calça e um casaco, peguei meu celular e chaves, e corri com ela para o hospital, mesmo que no fundo eu soubesse que não havia nada mais que pudesse ser feito.

Eu senti meu coração parar de bater todas as vezes que ouvia um suspiro choroso escapar dos seus lábios. Tentei me manter forte quando o médico - da forma mais sensível e delicada que pode - nos confirmou que havíamos perdido o nosso bebê. Senti minhas pernas fraquejarem, a dor que eu sentia no meu peito era insuportável, mas eu precisava ser forte por ela, e fui.

A minha pequena tinha o olhar tão triste e perdido, que tive medo de que ela nunca mais conseguisse se recuperar disso, sabia que esse era um dos maiores medos dela quando iniciamos o tratamento.

Quando ela apoiou a cabeça no meu peito e chorou, eu a abracei bem forte e desejei poder retirar a dor que ela sentia, que eu pudesse de alguma maneira mudar as últimas vinte e quatro horas.

— Desculpa! — ela pediu entre soluços, e repetiu mais outras tantas vezes como se isso fosse de alguma forma culpa dela.

— Não tem o que se desculpar, pequena.

O caminho de volta para casa foi silencioso, a ajudei a tomar banho e dei um remédio que o médico receitou para que ela dormisse melhor naquela noite.

— Eu te amo muito. — afaguei seus cabelos e beijei sua testa com carinho.

Ela afundou o rosto em meu peito e chorou nos meus braços até adormecer, eu me senti pequeno e impotente por não poder fazer nada, além de abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, que nós ficaríamos bem.

Quando eu percebi que ela não acordaria, eu me levantei com cuidado e fui até o quarto que seria do nosso filho. Acendi a pequena luminária e me senti desabar enquanto chorava todas as lágrimas que eu reprimi desde que descobrimos sobre a perda da coisa mais importante da nossa vida.

Luke apareceu no quarto como se soubesse o que estava acontecendo, lambeu minha bochecha e deitou no meu colo no chão, abracei meu cachorro e chorei ainda mais.

— Vem amigão, preciso tirar essas coisas daqui.

Meu coração estava dilacerado enquanto eu juntava tudo em caixas, precisava me desfazer de tudo aquilo antes que ela acordasse. Não queria que ela sofresse ainda mais ao ver tudo aquilo, ela já havia passado por coisas demais. Me desfiz das roupas e dos sapatinhos, e desmontei o berço, coloquei tudo em caixas na garagem, apesar de tudo eu tinha esperança de que um dia ainda poderíamos usufruir de tudo aquilo.

Ao olhar para o quarto vazio, me perguntei o que ela acharia ao encontrá-lo assim pela manhã, mas estava tão cansado que decidi não me preocupar com isso agora. Voltei para o nosso quarto e entrei no nosso banheiro, joguei uma água no rosto antes de deitar ao lado da minha esposa.

Ela ainda fungava algumas vezes, mesmo dormindo em sono profundo, e eu a abracei e beijei seu ombro. Queria dormir, queria que meu corpo desligasse e eu conseguisse descansar, mas só consegui cochilar - e bem mal - o restante da noite.

Na manhã seguinte, ouvi meu celular vibrar em cima da mesa de cabeceira, e apenas estiquei o braço para pegar o aparelho. Era uma mensagem da minha irmã.

09h50 – Mia está chegando!

Engoli seco algumas vezes enquanto olhava para a tela do meu celular, nem havia percebido que a Ju estava acordada e que leu a mensagem também, até ela suspirar e se virar para mim com um sorriso triste.

— Tudo bem, não precisamos ir.

— Precisamos sim. — afirmou, segurou meu rosto e me deu um beijo carinhoso nos lábios.

— Ainda vamos ter o nosso, vamos ser pais um dia. — prometi, uma promessa que eu não sabia se seria capaz de cumprir. Minha pequena sorriu, aquele sorriso que não chegava até os olhos e ela acariciou minha barba, e mesmo que eu soubesse que ela queria dizer algo, ela permaneceu em silêncio apenas olhando para mim.

— Vamos receber a nossa afilhada. — chamou depois de um tempo e eu apenas assenti.

Depois da ApostaOnde histórias criam vida. Descubra agora