AGORA
Estava sendo difícil me readaptar a trabalhar no escritório.
Kate foi muito compreensiva e generosa em entender que Rodolffo precisava de mim, ela também era apaixonada por Matthew e disse que também faria de tudo por ele, e que conseguia entender bem a minha necessidade de estar com Rodolffo naquele período de recuperação.
Tentei me dedicar ao máximo ao trabalho no período em que trabalhei em home office, mas mesmo assim estava com meu trabalho atrasado, então eu sabia que levaria alguns dias, talvez semanas para colocar tudo em ordem.
— Nenhum ursinho, caixa de chocolates ou flores? — Travis provocou, no minuto que entrou na nossa sala, observando a minha mesa e vendo apenas os manuscritos, garrafa de água e meu porta canetas — O namorado desistiu de marcar território?
— Travis, me faz um favor? — levantei meu olhar do manuscrito que eu lia e olhei para ele — Cala a boca.
— Uau, acho que toquei na ferida. — continuou provocando — Problemas no paraíso?
— Problema nenhum. — menti, voltando a atenção para a minha leitura — Meu único problema é você enchendo o meu saco quando estou tentando trabalhar.
— Me avisa se o grande astro do futebol sair de campo, adoraria te levar para sair. — piscou e ajeitou o terno, enquanto caminhava até a porta — Vou ficar fora uns dias.
— Não me importo com o que vai fazer, Travis. — rebati e ele deu uma risadinha — E muito menos tenho interesse em sair com você. — completei e ele deu de ombros, sem deixar o sorriso sair dos lábios.
— Se tem uma coisa que eu sou, é persistente. — disse antes de sair e eu rolei os olhos.
Lembrei das palavras de Rodolffo no dia de Ação de Graças, dizendo que eu merecia alguém como o Travis. Eu sabia que ele sentia ciúmes do meu colega de trabalho, mas eu nunca demonstrei qualquer interesse nele, e não sei porquê do nada ele veio com essa conversa.
Eu estava disposta a tentar conversar com ele hoje, exigir que ele me explicasse toda aquela mudança de comportamento repentina, para mim não fazia sentido algum tudo o que aconteceu naquele dia. Minha mente não conseguia assimilar tudo aquilo, não era possível que alguém mudasse de ideia tão rápido, e eu não aceitava que aquele Rodolffo que fez planos comigo para a vida e que disse que estava disposto a qualquer coisa comigo, foi o mesmo que me abandonou e nem quis me ouvir.
Aquela ligação acendeu uma chama de esperança em meu peito, me fez ver que ele também sente minha falta.
Coloquei em dia o máximo de trabalho que eu consegui, e ao final do expediente eu fui embora decidida a acabar com aquilo, mesmo que fosse para acabar de vez. Eu não poderia mais viver com as reticências, eu precisava de um ponto final.
Fui em casa apenas para tomar um banho, e trocar minhas roupas. Fiz uma maquiagem leve para esconder as olheiras pelas noites mal dormidas, saí de casa e segui para o endereço do Nick, esperando que ele ainda estivesse morando na casa do amigo de time.
Senti minhas mãos trêmulas e minha garganta seca quando parei no endereço dele, lembranças da última vez que eu estivesse aqui vieram me assombrar, lembranças do dia que ele nem mesmo quis me receber.
Respirei fundo antes de sair da caminhonete dele, e depois de acionar as travas, eu parei em frente à portaria e toquei o interfone, não levou muito tempo até que eu ouvisse a voz de Nick do outro lado.
— Nick, sou eu, Juliette. — anunciei e ouvi o atleta suspirar — Por favor, não desliga, eu preciso falar com ele.
— Ju, vou te deixar subir, mas não posso te garantir que ele vai te receber.
— Eu preciso tentar. — insisti e algum tempo depois o ouvi apertar o botão que liberava a minha entrada.
Senti como se tudo estivesse em câmera lenta, enquanto eu caminhava até o elevador e apertava o botão do terceiro andar. Minha garganta parecia que ia fechar, e minha barriga estava tão gelada quanto as minhas mãos. Eu apertava os dedos enquanto aguardava o elevador chegar ao andar, com medo e ansiosa para o nosso reencontro.
Fui recebida por Nick assim que deixei o elevador, e sorri ao vê-lo.
— Que bom te ver. — disse ao me abraçar, dando um beijo carinhoso em meus cabelos.
— Como ele está? — perguntei e ele me deu um sorriso amarelo.
— Não vou mentir, ele não está bem.
— Ele sente dor ainda? Achei que o tornozelo dele já estivesse melhor. — voltei a perguntar, achando que ele se referia ao tornozelo dele, e Nick negou enquanto sorria.
— A dor dele é aqui. – respondeu, apontando para o peito e eu senti meus olhos marejarem e meu lábio inferior tremer com aquela informação — Entra, tenta colocar juízo na cabeça dele. — ele se afastou para que eu entrasse no apartamento dele e eu entrei — Você se lembra onde ele está, certo? — perguntou e eu assenti.
— Obrigada, Nick.
— Boa sorte!
Segui pelo corredor, que nesse momento parecia muito maior do que era, meu coração parecia que ia pular para fora do meu peito. A porta do quarto estava entreaberta, e assim que me pus à frente dela, eu pude ver ele deitado, lendo um livro, e aquilo me fez sorrir. Bati duas vezes antes de terminar de abrir a porta e entrar, ele tinha os olhos arregalados quando me viu.
— Juli. — ele se levantou da cama de sobressalto e colocou o livro que lia sobre ela — O que veio fazer aqui, pequena?
Precisei segurar a vontade de pular em seus braços quando o ouvi me chamar pelo apelido. Ele parecia abatido, e me fez lembrar a época em que nos separamos quando descobri da aposta.
— Vim conversar com você, eu quero entender o que aconteceu, o que eu fiz de errado.
— Você não fez nada errado...
— Então o que houve? — perguntei tentando me aproximar, mas ele recuou. Suspirei antes de voltar a falar — Eu não vim aqui para te convencer a ficar comigo, eu quero que fique comigo porque você escolheu isso. — disse com a voz embargada pelo choro — Eu vim aqui te dizer que eu ainda te amo, e acho que nunca vou deixar de amar. Não sei de onde tirou essa ideia de que você não me merece, e que você não é bom para mim, sendo que os meses com você foram os melhores da minha vida. Você me prometeu casamento e filhos, e promessas não são feitas para serem quebradas assim.
— Pequena, você pode viver sem mim.
— Eu sei que eu posso viver sem você. — disse firme — Eu só não quero!
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Depois da Aposta
FanfictionNova cidade, nova vida! Em San Francisco, Rodolffo se prepara para ingressar nos 49ers, enquanto Juliette inicia seu trabalho na White Castle Publishing. Tudo na vida deles ia bem, cada dia mais apaixonados um pelo outro e não poderiam estar mais fe...