ANTES
Eu estava preocupada.
E mesmo que Rodolffo tenha falado mais de cinquenta vezes que ficaria bem, eu não deixava de me sentir assim. Olhava de minuto em minuto para o celular, esperando que ele me mandasse alguma mensagem, e eu sabia que ele era teimoso ao ponto de que mesmo que precisasse de mim, ele não iria me falar para não me incomodar.
As letras do manuscrito em minhas mãos pareciam embaralhar na minha frente, não conseguia manter o foco em minha leitura, e lia a mesma linha mais de dez vezes. Tudo isso era injusto com aquela obra tão bem escrita e bem desenvolvida, ela merecia mais da minha atenção, mas o fato de "A Arte do Encontro"* ter como um dos personagens principais, um chef de cozinha que me lembrava demais o meu Rodolffo, não me ajudava a focar mais, só fazia com que eu pensasse ainda mais nele.
Marquei a página em que eu estava, e respirei fundo antes de me levantar da minha mesa e sair em busca de cafeína, ou qualquer outra coisa que me mantivesse alerta até o fim do expediente.
Me servi com cappuccino e vi que na mesa havia uma caixa com donuts nos mais variados sabores e com coberturas que pareciam gostosas, já peguei logo dois, na esperança que o açúcar me ajudasse a vencer o dia, mas as horas pareciam se arrastar lentamente. Dei uma mordida em um deles com cobertura de chocolate e voltei para a minha sala.
Enquanto comia, alcancei meu celular e desbloqueei a tela, abri minha última conversa com ele, mas não havia nada novo e eu suspirei antes de mandar uma nova mensagem.
15h45: Oi, tudo bem aí?
Esperei um pouco com a tela aberta, esperando uma resposta que não veio de imediato. "Ele pode estar dormindo", pensei e bloqueei novamente a tela. Terminei meu donut, e pouco tempo depois ouvi uma batida suave na minha porta.
— Pode entrar. — pedi e vi uma Kate sorridente aparecer na minha sala.
— Posso falar com você? — perguntou e eu assenti prontamente.
— Claro!
Ela caminhou até a minha mesa, alisando o terninho azul marinho e perfeitamente alinhado, antes de se sentar à minha frente, com um sorriso fraco nos lábios.
— Como estão as coisas?
— Ah! Estou lendo um novo livro e acredito que ele faz o perfil da editora, tem uma história bonita e envolvente e acredito que os leitores irão gostar bastante. — relatei, imaginando que ela queria falar sobre o meu trabalho, mas ela negou com a cabeça.
— Não foi isso o que eu queria saber. — ela sorriu simpática — Não temos ressalvas sobre seu trabalho aqui, na verdade estamos gostando bastante de você, dá para ver o quanto é apaixonada por literatura e o quanto se dedica a isso, seu professor não mentiu ao lhe fazer todos aqueles elogios. O Matthew também está impressionado. — contou e eu sorri, me sentindo orgulhosa — Estou querendo saber sobre você, e também sobre o seu namorado, todos soubemos e lamentamos pelo o que aconteceu no último jogo.
— Ele sofreu uma entorse bem séria no tornozelo direito, pelo que pesquisei é uma lesão bem comum entre os atletas e a maioria consegue se recuperar, mas sei que isso tem tirado o seu sono à noite, mesmo tentando não demonstrar para mim.
— Homens, huh? — deu uma risadinha compreensiva e eu sorri também — Sempre tentando resolver tudo sozinhos, orgulhosos demais para dizer quando precisam da gente.
— Nunca vou entender essa dificuldade deles admitirem que precisam de ajuda, fiquei a manhã inteira e parte da tarde esperando que ele me mandasse alguma mensagem, morrendo de preocupação com ele, se vai tomar o remédio na hora certa, se vai conseguir fazer a compressa e se está conseguindo se alimentar. — confessei, levando uma das minhas mãos até a minha têmpora e massageando de leve.
— Percebi que você está mesmo tensa, e posso te dizer uma coisa? — Kate perguntou e eu concordei com a cabeça — A vantagem de trabalhar no mercado editorial, é que nada é tão urgente assim, nem caso de vida ou morte, e melhor ainda, o que faz aqui, sei que consegue fazer de casa. — piscou para mim e eu pisquei algumas vezes para ter certeza que eu estava entendendo onde ela queria chegar — Sei que se fosse eu no seu lugar, eu estaria uma pilha de nervos, não conseguiria deixar Matthew sozinho.
— O que quer dizer, Kate? — perguntei e ela me ofereceu um sorriso simpático.
— O que estou sugerindo é isso mesmo que está pensando, você é compromissada, e sei que vai se dedicar igual mesmo de casa.
— Kate, eu nem sei o que dizer. — senti meus olhos marejarem, ela pareceu tão dura nas nossas primeiras interações, que nunca esperei tanta consideração dela agora — Obrigada, de verdade!
— Vá para casa. — pediu antes de se levantar e ajeitar o terninho, e eu assenti prontamente.
Assim que ela deixou minha sala, comecei a separar e organizar minhas coisas para ir embora, me sentindo aliviada por poder estar com ele durante a sua recuperação, acompanhar nas sessões de fisioterapia, mesmo que ele finja que não precise de mim.
Olhei meu celular, e a mensagem ainda não havia sido respondida e eu suspirei antes de colocar tudo na minha bolsa, e deixar a minha sala.
— Kate me informou que vai trabalhar de casa. — Sam disse sorridente assim que cheguei à recepção.
— Sim. — confirmei e sorri — Estou levando alguns manuscritos, e volto para buscar mais assim que possível. Qualquer coisa que precisarem me liga, ok?
— Vá tranquila, Ju. — ela acenou conforme eu saía e eu acenei de volta.
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N/A: *Referência a fic "A arte do encontro" da LilithTrin
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Depois da Aposta
FanfictionNova cidade, nova vida! Em San Francisco, Rodolffo se prepara para ingressar nos 49ers, enquanto Juliette inicia seu trabalho na White Castle Publishing. Tudo na vida deles ia bem, cada dia mais apaixonados um pelo outro e não poderiam estar mais fe...