AGORA
Não sei por quanto tempo eu fiquei sentada ali no banheiro chorando, até que ouvi uma batida suave na porta e a voz grossa de Rodolffo do lado de fora perguntando se estava tudo bem. Enxuguei meu rosto com as costas das mãos, não me importando muito em borrar minha maquiagem.
Respirei fundo algumas vezes, forçando a minha voz a sair da minha garganta de forma firme.
— Já vou. — mas minha tentativa de soar firme falhou e minha voz saiu embargada e baixa demais, e sei que ele foi incapaz de me escutar, já que voltou a bater dessa vez de forma mais insistente. Pigarreei algumas vezes para limpar minha garganta e falei mais alto — Já vou.
— Juli, abre aqui. — percebi pela seriedade da sua voz que ele percebeu que eu chorava — Por que está chorando, meu amor?
— Só um minuto. — pedi, na tentativa que ele esperasse na sala enquanto eu me recompunha, não queria estragar o Natal dele, ainda mais depois dele ter me contado sobre o seu sonho há apenas algumas horas atrás. E também não queria que nossa família se preocupasse, afinal nada grave havia acontecido, eu só estava triste por ter criado expectativas.
— Se não abrir, eu vou arrombar. — sua voz saiu ainda mais séria e imponente e eu resolvi abrir logo e evitar um escândalo.
Olhei para o espelho e limpei o que deu do meu rímel borrado, antes de destrancar a porta e a abrir.
— O que foi, pequena? — perguntou preocupado e eu não consegui dizer nada, assim que o vi na minha frente senti as lágrimas voltarem aos meus olhos como cachoeiras, e eu afundei meu rosto em seu peito e permiti que ele me abraçasse e me consolasse.
Sei que parecia estupidez eu estar sofrendo tanto por algo que nem mesmo era certo, era apenas uma suspeita, uma suspeita que eu queria que fosse verdade, e saber que ele queria tanto quanto eu, era ainda mais reconfortante.
Não tinha justificativas para o que eu sentia, só sei que sentia e estava sofrendo pela minha "perda".
— Você tá me deixando preocupado, me conta o que aconteceu? — tornou a pedir, seu queixo estava apoiado no topo da minha cabeça, e seus braços fortes me envolviam, eu me sentia tão bem dentro do seu abraço, como se ele tivesse sido feito apenas para me abraçar, a forma como nos encaixávamos, parecíamos peças de quebra-cabeças, que foram feitos apenas para encaixar um no outro.
— Desculpa. — pedi, sem saber direito pelo que eu me desculpava, minha cabeça pensava uma coisa, mas minha boca parecia ter vida própria.
— Pelo que, linda? — ele se afastou um pouco de mim, não muito, apenas o suficiente para segurar meu queixo e levantar minha cabeça para que eu olhasse em seus olhos, aqueles que eram capazes de arrancar qualquer coisa de mim.
— Minha menstruação acabou de chegar. — contei e ele ficou alguns segundos olhando para mim, vi o sentimento de decepção passar em seus olhos castanhos, a mesma decepção que eu mesma sentia, antes do olhar dele se tornar amoroso novamente e ele me presentear com seu sorriso galante, que faziam aquelas covinhas charmosas aparecerem em sua bochecha.
— Não precisa chorar por isso, amor. — disse calmo, mas conseguia sentir sua voz levemente embargada.
— Eu realmente achei que estivesse grávida.
— Não fica assim pequena, sei que não estávamos sendo tão cuidadosos nos últimos tempos, mas foi a primeira vez que gozei dentro. Sei que o atraso fez com que a gente criasse expectativas, mas não é o fim do mundo. — sorriu e fez um carinho em minha bochecha, aproveitando para limpar minhas lágrimas com o polegar — Você quer engravidar agora?
— Eu quero. — confessei e ele sorriu ainda mais.
— Também quero, daqui pra frente a gente descarta a camisinha e começa a tentar, sabe que treinar vai ser a melhor parte, certo? — perguntou com um sorriso safado e eu sorri também.
— Você está certo, não sei porque fiquei tão emotiva, desculpa.
— Para de se desculpar, é normal se sentir assim. — ele me puxou para um abraço e me deu um beijo carinhoso no topo da cabeça — Nosso Theo vem quando a gente menos esperar, agora limpa essas lágrimas e vamos voltar para a sala, hora de trocar presentes.
Seu tom animador me fez melhorar, e eu decidi fazer o que ele sugeriu. Limpei minhas lágrimas e retoquei a minha maquiagem, a última coisa que queria, era que ficassem perguntando o que havia acontecido. Voltamos juntos para a sala, e nos divertimos muito quando abrimos nossos presentes.
Ver a cara de Rodolffo quando ganhou um suéter bordado com uma rena, a mesma que ajudou na origem ao seu nome, foi impagável e me rendeu muitas risadas. Poderia me acostumar em ter vários natais como esse, e esperava um dia ser acordada pelo nosso filho, que acordaria animado demais para ver o que Papai Noel havia deixado debaixo da árvore.
Rodolffo me presenteou com um e-reader, ele já estava com a biblioteca cheia com os livros que eu mais amava, mesmo amando ler os livros de forma tradicional, achei atencioso da parte dele. E pensar que esse Rodolffo tão atencioso de hoje, era o mesmo que me criticava tanto por ser nerd. Quem diria que tudo mudaria de forma tão drástica.
Eu sou péssima para dar presentes, e depois de quase endoidar para encontrar o presente perfeito para ele, acabei em frente a uma loja de eletrônicos, e foi lá que acabei comprando um Playstation. Mesmo sabendo que talvez ele não tivesse tanto tempo para jogar, eu sei que ele ama, e pela forma que os olhos dele brilharam quando ele abriu, eu percebi que acertei.
Apesar de tudo, esse Natal foi incrível.
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Depois da Aposta
FanfictionNova cidade, nova vida! Em San Francisco, Rodolffo se prepara para ingressar nos 49ers, enquanto Juliette inicia seu trabalho na White Castle Publishing. Tudo na vida deles ia bem, cada dia mais apaixonados um pelo outro e não poderiam estar mais fe...