Acordo - 5

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   — Fingir namorar pra irritá-los? — Nero repetiu em voz baixa.

   Bebi um pouco do refri que não ofereci a ele e foquei minha atenção no jogo passando pelo meu computador.

   Eu deveria ir até sua casa mas quando meus pais sairam dizendo que iam demorar eu resolvi convidá-lo para vir aqui aos berros.

   — Talvez até o fim do ano letivo se nos suportarmos, mas não acho que vá durar tanto — disse o óbvio — Você sabe o motivo pelo qual eles te querem longe de mim, eu não sei mas é satisfatório saber que irrita tanto.

   — Sua simples existência os irrita, Você irrita qualquer um na verdade.

   — Vindo de você, querido, isso é um elogio.

   Xinguei quando morri e aproveitei a pausa para olhá-lo.

— Existem dois motivos a mais — ele simplesmente resolveu ignorar minha provocação.

   — Quais seriam? — questionei comendo um pouco de pipoca antes de me virar na sua direção.

   — Nancy odeia ter que dividir as coisas e Arianne meio que sente algo por mim — revelou o que já sei — A idéia de você me namorar quando nem sua melhor amiga conseguiu parece perturbá-la — isso explica o motivo de Ariannd ter chorado — E ela é a única pessoa na qual Nancy se importa de verdade então significa que quer fazer a melhor amiga feliz... Mas ela não pode juntar nós dois se eu estiver com você. Outra idéia que pode perturbá-la e se Nancy está perturbada todos os três estão.

   — Interessante — comentei.

   — Mas o que eu iria ganhar com tudo isso?

   — Além de se vingar dos seus "amigos" — fiz aspas com os dedos, estive pensando nessa pergunta — Você não perderá sua popularidade, tipo, aparecer namorando sua maior inimiga dentro da escola do dia pra noite vai gerar os maiores dos alvoroços, sejam comentários bons ou ruins as atenções estarão em você — respondi com calma girando a cadeira na sua direção, no armário dos zeladores a preocupação que ele me transpareceu foi essa — E mesmo que os rumores se esfriem, rumores que vão esquentar a cabeça do quarteto fantástico, nós daremos um jeito de causar mais.

   — Se você tá fazendo isso pra se vingar deles — Nero coçou a sobrancelha e se sentou na ponta da minha cama — Como vai se vingar de mim?

   — Não estou fazendo para me vingar de ninguém, apesar de ser um ótimo motivo — expliquei — Mas minha mãe descobriu que eles ainda enchem meu saco com o bullying infantil deles, eu acabei mentindo e disse que estava saindo com você para deixá-la mais tranquila.

   — Por que eu?

    — Por que não? — tomei o resto do refrigerante — Você faz meu tipo, é alto, tem um cabelo legal, olhos castanhos e gosta de esportes. Além do mais, era você ou Giorge.

   — Eu faço seu tipo? — dessa vez ele sorriu maliciosamente.

   — Meu Deus, vai começar — revirei os olhos — Eai, vai aceitar ou não?

   — Nós poderemos nos beijar? — a pergunta me pegou desprevinida.

   — Não acho que tenha necessidade disso — fui rápida em responder — Mas também acho estranho casais que não se beijam... Então se estiver tudo bem pra você...

   — Cara você tá gamadona em mim — estalei o bico e joguei a latinha de refrigerante na sua direção mas Nero desviou gargalhando.

   — Como você é ridículo.

   — É — seus olhos se voltaram pros meus  — Pra mim não tem problema — o sorriso de lado voltou a revelar a covinha solitária — E abraços? Toques? Qualquer coisa que namorados fazem em público, não é como se fossemos nos beijar vinte e quatro horas por dia então temos que agir para fazer as pessoas acreditarem.

   — Tem razão — admiti com relutância — Não acho que toques sejam o problema contanto que não passem dos limites. A questão é; suportamos ficar próximos assim sem brigar por mais de dois minutos?

   — Acho impossível — ele se moveu inqueito em cima do meu colchão — Mas não tem problemas discutir fingindo levar na esportiva contanto que não bata na minha cara de novo.

   — Tento não te bater se tentar não me empurrar — retruquei.

   — Terei que falar a verdade pros meus amigos — inclinei a cabeça com as sobrancelhas franzidas — Mas não ao meu pai.

   — Eles vão me achar ridícula, não vão? — até eu me acho, isso nunca vai dar certo.

   — Acho que não.

   Levantei da cadeira caminhando na direção de Nero, estendi minha mão pra ele antes de perguntar:

   — Temos um acordo?

   Ele olhou pra minha mão e guardou o celular, Nero deu um passo na minha direção e aceitou o aperto.

   Sua palma extremamente fria me causou arrepios, fizemos caretas ao mesmo tempo julgando a temperatura corporal um do outro. Olhei para nossas mãos apertando a sua com força em seguida, a diferença de melanina na nossas peles é grotesca.

   — Temos um acordo — afirmou, Nero puxou meu corpo pela minha mão me pegando de surpresa e quando trombei no seu tronco não me afastei, ele se abaixou os dez centímetros de diferença nas nossas alturas e se aproximou do meu rosto, não me movi até que ele cochichou na minha orelha — Amor.

   Empurrei seu corpo com força fazendo Nero sorrir.

   — Se inventar de me chamar assim do nada eu juro que arranco sua língua — ameacei.

   — Que isso vida — provocou.

   Vida é o primeiro na minha lista de apelidos que mais odeio, amor não está nela mas sinto que logo entrará.

   — Cara como você é ridículo — acusei já estressada — Mete o pé da minha casa.

   — E quanto as aulas de química, era realmente mentira? — me perguntou.

   — Não exatamente, se você quiser me ajudar com isso eu fico te devendo uma.

   — Tá bom.

   Olhei para ele assustada.

   — Sem mais nem menos?

   — Tudo pelo amor da minha vida — provocou sorrindo.

   Foi quando perdi toda a paciência.

   Uma nova discussão começou dentro do meu quarto até que acabou em uma expulsão quando me irritei o bastante com ele.

   Acabei jogando seu tênis pela janela e mandei ele sair aos berros.

   Observando-o juntar o sapato e ouvindo-o me xingar abaixo da janela do meu quarto me pergunto até quando isso vai durar.

   Vai ser divertido e extremamente irritante.

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