Amor Café & Ódio

Tal mãe tal filha - 40

   Sentei-me de vagar na cama espaçosa e quente.

   O quarto de Nero ainda é um reflexo da noite passada.

  Seja sua cama bagunçada, sua escrivaninha um pouco fora do lugar, a janela manchada pelas minhas mãos, as nossas roupas jogadas em qualquer canto e até os objetos que derrubamos após o sentimento do desejo leve ter se tornado em um desejo apressado.

   Levantei de sem pressa da cama e fui tomar uma ducha.

   Tentei afastar as memorias da minha cabeça quando me olhei no espelho e percebi que meu corpo estava marcado. Uma marca na clavícula, outra perto dos meus seios, uma no pescoço, nos meus quadris, na minha bunda e nas minhas pernas.

   Tentei sentir raiva dele mas não consegui evitar o riso baixinho. Na hora era eu quem pedia para ele me tocar com força e ele estava realmente disposto a fazer de tudo que eu pedisse.

   Saí do banheiro enrolada numa toalha e peguei uma roupa de Nero no seu closet, uma calça moletom com um cordão para ajustar e uma camiseta grande e preta.

   Pudia sentir o aroma de comida fresca vindo do andar de baixo mas eu ainda não estava pronta para descer e olhá-lo novamente. Estava um pouco envergonhada e faltava pentear meus cabelos molhados.

   E foi isso que eu fiz. Comecei a pentear meus fios extremamente louros e usei todos os produtos do meu anfitrião.

   Até que meu celular tocou.

   "RueRue"

   Atendi.

   — Oi Rut...

   — Amiga!

   A voz de Ruthe estourou do outro lado do telefone, afastei meu celular do ouvido.

   — Sim?

   — Você tá bem? Porquê não veio para a aula hoje? Nós já estamos resolvendo isso por aqui, sabemos quem postou o vídeo, não precisa se preocupar.

   — Que vídeo?

   — Você não viu?

   — Não — senti meu coração acelerar — Ruthe que vídeo?

   — Tá, calma, respira fundo que vou te enviar o link.

   Parei de pentear meus cabelos para olhar o celular. A tela acendeu com sua mensagem, um link do twitter que eu não precisei criar uma conta para acessar.

   Não havia nada de mais no vídeo a não ser eu e Nero nos beijando na cozinha da noite passada. Ou o ângulo estranho de quando ele tocou minhas pernas por de baixo da saia e no mesmo momento eu agarrei seus ombros com força.

   Parecia óbvio que não tinha rolado nada mas o ângulo e a legenda do vídeo não ajudava: "Que Nero Calion gosta da adrenalina não é surpresa mas era melhor ficar cego do que ver Jonna transado em público."

   A voz de Ruthe soava no fundo e meu coração batia forte e rapidamente e eu fiquei tonta e meus olhos arderam e eu não consegui respirar e eu fiquei incrivelmente mais pálida do que costumo ser e meus lábios perderam a cor e minhas mãos tremiam.

   Os comentários eram maldosos, alguns cheios de raiva, outros fazendo piadas maldosas e alguns poucos demonstrando compaixão ao falar que publicar aquele vídeo era errado.

    Meu Deus.
   Nós não fizemos nada de errado.
   Eu não fiz nada de errado.

   Então por que estou suando frio?
   Desliguei a ligação na cara de Ruthe e disparei para fora do quarto de Nero.