Amor Café & Ódio

Insetos gigantes - 26

       — Estou afim de um terror hoje, o que o senhor acha? — sugeri colocando o último prato sobre a mesa.

   — Amanhã eu ainda acordo cedo pra escrever algumas coisas, se assistir terror não vou conseguir dormir a noite — ao ouvir suas palavras só consegui gargalhar.

   — Por que não chama a vovó pra dormir junto com ela? — zombei.

   — Idiota — papai sorriu envergonhado enquanto colocava a forma de lasanha em cima da mesa — Vamos assistir uma comédia.

   — Amanhã é sábado, sábados são os dias de comédia — fiz careta — Que tal ação?

   — Por que não uma fantasia? — minha mãe surgiu na sala de jantar, ela sorriu para mim e andou até meu pai depositando um beijo nos seus lábios.

   — Harry Potter? — papai foi o primeiro a sugerir.

   — Maratonamos esse no mês passado, vamos ver algo tipo Alice No País Das Maravilhas — rebati, amamos Harry Potter mas a regra é dar um tempinho pra rever de novo já que é uma saga consideravelmente grande.

   — Resolvemos isso depois, agora vamos jantar que eu estou faminta — a mulher relativamente baixa foi em direção a pia para lavar as mãos.

   — Como foi na clínica hoje? — papai se dirigiu completamente a esposa, com um sorriso simples no rosto os dois trocaram olhares carinhosos.

   Acho incrível que mesmo depois de anos juntos eles não perderam um pingo do amor que tem um pelo outro, muito pelo contrário, ao invés de diminuir o amor deles só cresceu.

   Isso é algo bem difícil de se ver nos dias de hoje e é por isso que meus padrões de relacionamento são altíssimos.

   Também é por isso que eu vou morrer sozinha.

   Os fios curtos e louros do meu pai balançaram bruscamente quando ele se jogou na cadeira, as sardas do seu rosto ajudam o olho azul a dar contraste. As sobrancelhas loiras de papai são mais escuras que a minha.

   — Foi um dia tranquilo — respondeu secando as mãos — Na escola que foi meio agitado.

   — Acho que você deveria largar um dos empregos, é cansativo de mais — me opus a falar.

   — Concordo plenamente — o adulto a minha frente concordou — Você não é feita de ferro. Precisa de descanso.

   — Eu trabalho com algo que amo, ajudo adolescentes, crianças, adultos ou idosos, pessoas de todas as idades. Faria isso de graça mas aceito ser paga — rimos — Então se eu posso ganhar mais com algo que amo, bom, eu farei isso. Jamais irei me forçar a algo que sei que não consigo dar conta. Não se preocupem comigo.

   — É meio impossível mas podemos tentar já que é algo tão importante pra você — mantive minha atenção no enorme pedaço de lasanha que trago até meu prato — Isso deve estar delicioso.

   — Fui eu quem fiz, óbvio que tá delicioso — convencido.

  — E seu dia papai? Como foi?

   — Depois de escrever bastante eu tive uma reunião com a equipe na qual discutimos bastante o roteiro — deu de ombros começando a se servir — Foi algo intenso mas no final pedimos pizza e conversamos normalmente.

   — Qual é o filme novo? — tentei sabendo que falharia.

   — Segredo — sorriu, revirei os olhos me sentindo injustiçada.

   — Vou começar a guardar segredos de vocês também, nunca me contam nada — reclamei ouvindo um riso baixo de ambos.

   — Acho que você já está começando — mamãe chamou minha atenção, eu congelei.