— Existe algo muito viciante na tristeza, algo tão belo que cativa porquê sempre que eu estou começando a ficar bem um medo absurdo surge no meu coração e isso se torna ansiedade, é tão assustador encontrar conforto na tristeza e não querer sair dela.
— Por que você não iria querer sair da sua tristeza? — Srta. Carpenter, perguntou enquanto anotava algo no seu caderninho.
— Porquê a tristeza é o único sentimento que eu conheço e reconheço, é óbvio que eu me sinto feliz as vezes mas nunca é uma felicidade genuína, nunca é tão intenso quanto a infelicidade e quando eu sinto que estou prestes a subir o degrau que me levará ao próximo andar da vida eu acabo caindo dezenas de degraus abaixo por medo — minhas mãos são sempre meu brinquedo favorito nas sessões de terapia — Todo mundo tem medo do desconhecido e a felicidade é meu desconhecido mais desejado.
A dra. Anya Carpenter é minha psicóloga desde meus treze anos, ela foi a única que sempre me deixou confortável e sempre foi mais fácil me abrir com ela. Apesar de não gostar de terapia (por achar que não está fazendo efeito) eu ainda venho toda semana e tento ser sincera... Na medida do possível.
Acho que ela sabe quando eu minto e acho que é por isso que ela nunca diminuiu as doses dos meus remédios.
— Me tornei tão dependente da minha depressão que não consigo me enxergar sem ela, tipo, depois de tanto tempo no meio dessa tristeza eu não me sinto merecedora, sinto que não conseguirei sentir outro sentimento com a mesma intensidade que sinto a tristeza.
— Então os sentimentos ruins se tornaram tão corriqueiros que você tem medo de sair da sua zona de conforto que no caso é a depressão?
— Basicamente — concordei voltando a encarar a mulher gorda sentada na cadeira onde eu deveria estar, o ar condicionado fica bem em cima da cadeira dela e por ser calorenta Anya sempre me deixa sentar aqui.
Seus olhos são absurdamente verdes e se destacam muito na sua pele escura.
Ela me olhou depois de anotar algo e disse.
— Eu tenho um achismo sobre você.
— Me deixe saber sobre — pedi.
— Eu acho que essa é uma das razões pela qual você ainda pensa em cometer suicídio, óbvio que são muitos motivos acarretados, mas, quero dizer que você se acostumou tanto com a tristeza e seus derivados que quando começa a melhorar, por medo, acaba se auto-sabotando para ficar triste de novo... Você acaba presa nesse ciclo interminável porquê pensa não ser capaz de explorar um sentimento diferente desse no qual já está acostumada — ela passou a mão nas tranças soltas sobre seus ombros e não desviou o olhar — Acho que se aplica a outros dos meus pacientes também, pessoas depressivas têm essa tendência de achar que nunca conhecerão a verdadeira felicidade e pensam que estão condenadas a um sofrimento eterno...
"O que não é verdade porquê nada nesse mundo é eterno, no entanto, o desespero é tão grande que a única coisa na qual parece ser lógica para seu cérebro é a morte, e a morte é anti-humano já que nós somos programados para fugir dela. A maioria dos suicídios são cometidos por impulso, pelo desespero do momento e essa sua mania de pensar que não existe outro sentimento genuíno para você sentir a não ser a tristeza te faz achar que vais agonizar no sofrimento da tua depressão para o resto da vida, e então você pensa em adiar o inevitável que é a morte."
Assenti ao desviar o olhar.
Um pouco atônita pensei no quanto tudo que ela me disse faz sentido para mim.
Se eu não me permito ser feliz consequentemente serei "eternamente" triste mas eu não quero morrer na tristeza então para não passar os restos dos meus anos de vida agonizando na depressão eu penso em acabar de vez com o sofrimento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor Café & Ódio
Teen FictionJonna sempre detestou tudo que envolvesse Nero Calion e seu grupinho de amigos, mas quando se viu em um beco sem saída tendo que mentir para cuidar da sanidade mental de sua mãe a única mentira que saiu de sua boca foi a pior que já inventou em toda...