Amor Café & Ódio

Golfe - 30

   O carrinho de golfe parece pequeno de mais.

   Papai está na frente com Sr. Calion e eu estou atrás com o segundo Calion.

   Ele está espremendo seu corpo no canto para que nossas pernas não se toquem, nem nossos quadris.

   Nero está me evitando desde o acontecimento daquele dia e continuou me evitando na escola até agora.

   Eu queria falar com ele mas não sabia o que dizer então permiti que ele me evitasse.

   Hoje de manhã quando me viu não falou uma palavra sequer, só me analisou dentro da saia branca e da polo feminina também branca que eu coloquei para virmos ao golfe.

   Em pleno século vinte e um, dois marmanjo de dezoito anos nas costas se evitando por causa da droga de uma pegação quente.

   E põe quentura nisso.

   Graças a Deus ninguém me viu quando eu fugi da sua casa só de roupas íntimas e minha pele ainda está marcada com suas mãos.

   Se levantar um pouco a saia é possível ver a marca roxa sutil na minha pele albina e frágil.

   — Olha pai! Um gatinho! — falei em alemão entusiasmada quando vi o animal numa toalha brincando com algumas crianças.

   — Fofo igual você — meu velho sorriu pra mim quando se virou.

  No mesmo momento eu senti a mão de Nero puxando o tecido da minha saia com tudo e por um instante meu velho olhou para nós dois com desconfiança.

   Nero estava escondendo a marca que ele fez com a boca e com os dedos dos olhos atentos do meu velho. Depois disso ele afastou rapidamente a mão da minha perna e voltou a olhar para além do carrinho de golfe que seu pai dirige na minha frente.

   — Vocês brigaram? — Werner, vulgo papai, perguntou na língua nativa.

   — Parece que sim, não parece? — murmurei baixinho.

   — Muito — o loiro sorriu — Seja lá o que aconteceu, aja como uma adulta e resolva.

   — Para de ser intrometido — ralhei e vi Nero trocar olhares confuso com o pai.

   — Não estou sendo intrometido. Só não quero que o namoro de vocês acabei por bobeira — deu de ombros — Pelo menos eu acho que foi bobeira, ou não foi?

   — Foi.

   — Então resolva. Se esforce para falar como se sente, sei que você consegue.

   — Que idioma complicado hm? — Jace falou atraindo nossa atenção, papai riu.

   — Não é tão difícil — falou para seu amigo.

   — Ata...

   Os dois entraram numa discussão boba sobre alemão e mandarim, papai dizendo que mandarim é mais difícil e Jace discordando apesar de achar as duas difíceis.

   O carrinho começou a parar segundos depois e nós quatro descemos para começar o jogo.

   Uma competição de quatro pessoas.

   E fiquei feliz quando descobri que Nero é péssimo no golfe.

(≈)

   Estamos a sós agora.

   Papai e Jace pediram para nós dois virmos comprar água. Eu peguei a chave do carro e dirigi até a loja quase do outro lado do absurdo extenso campo de golfe.