Boa escolha - 35

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Nero - outono de dois mil e dezoito:

Suguei o suco da caixinha pelo canudo.

   Apoiei o braço livre na proteção de ferro no corredor livre do segundo andar e permiti que o Sol me banhasse.

   De longe analisei Jonna, ela ri genuinamente de algo que Dina diz, Andreas, ao lado da namorada folheia o livro da minha futura garota. Ele parece focado de mais com o mundo fotografado em letras a cada linha lida. As outras meninas também estão ali, conversando e rindo.

   Já fiz isso outras vezes só que nelas Jonna estava sozinha com o celular ou o livro em mãos, ela não sorriu desse jeito pra nada nem ninguém, apenas quando sua mãe vinha lhe fazer companhia. Das outras vezes também não podia só a encarar como agora, não podia ser visto fazendo isso.

   — Isso tá durando muito — a voz conhecida não me fez desviar o olhar mas fez meu corpo se enrijecer — Admito que de início achei que fosse mentira mas agora tô começando a acreditar.

   — O que você quer? — segurei a caixinha com mais firmeza me sentindo estranho com sua presença.

   — Senti saudades do meu velho e bom amigo — a voz sonsa me deu calafrios, ela nunca me considerou seu amigo e sempre deixou isso bem claro pra mim.

   Nancy e os outros me excluíam sempre que possível, ela me usava para tirar sarro da cara de Jonna e me manipulava dizendo que se eu não fizesse o que mandasse eu seria expulso ou que ela iria dizer aos meus pais todas as merdas que já aprontei.

   As merdas que eles me obrigavam a fazer.

   Em momentos quando tudo dava errado a culpa sempre era minha, mesmo que eu não fosse o verdadeiro culpado ela brigava com quem estragou tudo e arranjava uma forma de me meter no meio. Isso tirando todas as agressões que já sofri com ela.

   Giorge, Louis e nem mesmo Arianne nunca fez nada.

   Arianne dizia gostar de mim e sempre soube que era a única capaz de controlar a melhor amiga mas nunca movia um dedo pra me ajudar.

   — O que você quer Nancy? — insisti trocando o peso do meu corpo para outra perna.

   — Saber o motivo de ainda estar insistindo nela — revelou com a voz preguiçosa — Qual é Nero, perto da Anne essa criaturinha ali não é nada.

   — Aparência é tudo pra você? — claro que é, ela só se importa com isso.

   — Sejamos sinceros meu bem, ela não tem um pingo de graça, como se apaixonou por alguém assim? — respirei fundo desencostando do guarda-corpos de ferro — Essa aberração asiática é o puro nojo.

   — Ah cale a boca — mandei.

   Senti meu corpo leve. Sempre quis dizer isso pra ela, para todos os quatro.
   Sorri quando Nancy me olhou de olhos arregalados, ela parece horrorizada com minha nova ousadia.

   — Enfia essa merda desse seu ódio alheio na sua guela — cuspi irritado — E pare de dizer coisas assim da minha namorada — ordenei me sentindo bem — Não vou mais tolerar esse tipo de coisa, essa merda já passou dos limites e agora eu não tenho mais medo de você pra abaixar minha cabeça.

   — Uau, que medo — a ironia em sua voz preguiçosa me faz querer joga-la daqui de cima — O que vai fazer então querido?

   — Eu sei de todas os seus podres, Nancy, sei de onde vem a maior parte do dinheiro de seus pais, sei que você gosta de sair beijando garotas e sei que seus pais não iriam gostar de saber disso, sei que sabe sobre as tentativas de suicídio de Jonna mas se ela tentou se matar roi por sua culpa e eu tenho certeza que se souberem disso a reputação da sua família vai pro esgoto — ameacei com a voz baixa, apenas ela me escutou, vi seu rosto se tornar vermelho de raiva e os punhos cerrados tremeram com o certo medo que causei — Se continuar usando falas racistas pra se referir a Jonna na minha frente não vou ter medo de denunciar a façanha da família Evans.

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