Companheiro indesejado - 8

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   — Por que trilha?

   É incrível a incapacidade que Nero tem de não calar a boca por um segundo.

   Quando estava saindo de casa ele simplesmente brotou e invadiu meu carro sem minha permissão, até tentei expulsar, brigar e estapeá-lo, ameacei até dirigir para um precipício mas fui completamente ignorada.

   Chegamos no pé da montanha de Seattle a uma hora atrás e começamos a subir imediatamente.

   — Não lembro de ter te convidado.

   Estou alguns metros mais acima que Nero, olhei na sua direção e vi ele xingar os mosquitos pela centésima vez desde que chegou.

   — Falta muito pra chegar no topo?

   — Espero que não, quanto antes chegarmos logo poderei te jogar lá pra baixo — ameacei, olhei o relógio que indicava só uma hora de subida.

   — É sério, Jonna.

   — Também falo sério — sorri sozinha — Falta uns cinco minutos para chegarmos na próxima parada e depois mais uns vinte até o topo.

   — Tá de sacanagem?

   O sol ainda nem nasceu.

   Saí de casa às três da madrugada com todo trajeto planejado e estou tentando ir rápido porquê Nero me atrasou de mais.

   Faltam meia hora para o nascer do sol e só vim hoje para ver isso acontecendo.

   Quando chegamos na parada de descanso eu não parei mesmo sob os protestos do meu companheiro indesejado.
   Para minha felicidade chegamos ao topo minutos depois e o sol ainda não deu as caras.

   Nero se jogou no chão com a lanterna do seu lado enquanto eu caminhava até o parapeito todo de madeiro na beira da montanha.

   — Eu prometo por tudo que nunca mais faço isso — ouvir a reclamação me deixou feliz.

   — Oba! — comemorei sua decisão — Se mudar de idéia não fará de novo comigo, e só pra constar pode ter escorpiões andando por baixo de você agora mesmo.

   Nero se levantou em um pulo, gargalhei enquanto ele batia nas roupas para tirar toda sujeira, quando o silêncio maravilhoso povoou o garoto caminhou na minha direção com a garrafa de água em mãos.

   Olhamos para o horizonte e notei o resquício de claridade começando a aparecer.

   — Fala sério, por que veio? — questionei realmente curiosa.

   — Para nos conhecermos melhor — ele virou as costas para o nascer do sol e encostou na madeira para depois me olhar, quando debochei vi sua indignação — É sério! Se queremos fazer isso funcionar precisamos de intimidade, ou pelo menos um pouquinho.

   — Tá, e o que droga você quer saber sobre mim?

   — Vamos só começar pelas coisas simples — deu de ombros — Qual sua cor, número, comida e bebida favorita.

   — Cinza, sete, Kartoffelsalat e qualquer suco natural.

   — O que é Kartoffelsalat?

   — Uma comida alemã, e quanto a você?

   — Gosto de bege, doze, água e... Pizza.

   — Típico de americano.

   — Sua vez, me pergunte algo legal.

   — Mais legal que a sua é impossível — ironizei.

   Depois de receber um empurrão fraco ficamos em silêncio para que eu pensasse em algo, assisti os raios solares se espreguiçando no horizonte para iniciar mais um dia chato.

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