Terapia e Chucky's - 16

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   — E namorados? — srta. Carpenter olhou para mim por cima das suas anotações — Em todos os anos que te tenho como paciente você nunca falou sobre ninguém de quem gostava.

   — Eu nunca gostei de ninguém — revelei, ela fez uma expressão estranha.

   — Isso vem se tornando muito comum nos dias de hoje — comentou para nós duas — Mas você nunca se sentiu tentada?

   — Acho que é difícil me envolver com outras pessoas porquê eu tive que lidar com a rejeição durante toda minha vida — observei com cuidado — A família quase inteira da minha mãe me rejeitou, por parte de pai eu só sou próxima da minha vó, em todas as vezes que tentei fazer amigos eles me rejeitaram e sempre que tentei me encaixar nas tendências ou agir conforme o que outras meninas faziam eu fui ignorada ou virei alvo de piadas.

   — Você evita se envolver amorosamente com outras pessoas por medo de ser rejeitada?

   — Sim?

   — Mas por que exatamente te evitariam dessa forma?

   — Pelo mesmo motivo de sempre, as pessoas me acham feia e bizarra — dei de ombros — Todas as pessoas que eu achava atraente e descobriram isso me ridicularizaram. Eu só quero me manter distante de toda dor de cabeça.

   — Então você vai apenas se contentar com uma vida na qual não quer viver?

   Fiquei em silêncio.

   Eu gosto de ficar sozinha mas não gosto de me sentir só.

   As vezes tenho vontade de amar e ser amada mas nunca enxergo essa vontade como uma possível possibilidade.

   Talvez eu encontre alguém.
   Só talvez.
   Claro que não é impossível, eu sei que nem todo mundo é superficial, mas é difícil de acreditar que alguém pode me amar fácil assim depois de anos pensando o contrário.

   Quando a sessão acabou e eu tive que sair da sala a primeira pessoa que encontrei na espera não foram meus pais.

   Eles não conseguiram me trazer hoje então Nero apareceu no momento certo da sua corrida matinal e se ofereceu.

   Passei direto por ele e me despedi das meninas na recepção antes de ir para o estacionamento.

   — É isso que eu ganho por ser legal? — Nero destravou o carro — Quer ir direto pra casa?

   — Eu não te pago para fazer perguntas — zombei, ele revirou os olhos e entrou no carro — Quero comer algo, me leve até a lanchonete.

   — Como é fazer terapia? — questionou.

   — Você nunca fez? — concordou — Por isso que você é assim.

   Nero riu.

   — Eu nunca tive interesse em fazer — disse com a atenção em nos tirar do estacionamento — Ultimamente venho achando que eu deveria tentar.

   — Bom, é um legal apesar de eu me sentir invadida quando estou na sala.

   — Invadida?

   — Apesar de não gostar eu tento ser o mais sincera possível sobre tudo, mas não é tão fácil para mim — expliquei, seus olhos encontraram os meus por uma fração de segundos antes de voltar para a estrada — Tirando essa parte de me forçar... É bem legal.

   — Se você não gosta então por que ainda faz?

   — Porque eu sou uma depressiva suicida e tenho muitos problemas mentais, se eu parar de procurar ajuda profissional provavelmente vou acabar morrendo — não posso morrer, prometi aos meus pais que não tentaria morrer de novo — E eu não odeio, só disse que me sinto um pouquinho desconfortável, só um pouco. Enfim, você deveria tentar.

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