AVISO: Esse capítulo contém gatilhos sobre depressão e suicídio. Não leia se for sensível!
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O abismo está olhando de volta pra mim.
O frio, o vazio, as lágrimas, o azul meio acinzentado, a escuridão, a solidão, o tudo.
É tudo assustador de mais e eu não entendo nada disso.Não sei por que dói tanto.
Não sei por que minha alma quebrantada pede desesperadamente por uma paz que nunca encontrei.
Não sei por qual motivo meu mundo é opaco.
Não sei por que me odeio.
Não sei por que quero parar.
Não entendo nada.Faz meia hora que estou encarando a pequena pilha de remédios e elas começaram a me olhar de volta.
Estou enfraquecendo, repensando na idéia de cometer a loucura na qual prometi que nunca mais tentaria.
Minha porta está trancada, meu celular desligado, mandei uma mensagem para os meus pais avisando que tomei um remédio para dor de cabeça e ia dormir um pouco.Se eu for tentar algo não posso ser interrompida, eu não irei suportar acorda em uma cama de hospital e encarar meus pais novamente.
Meu coração tremeu quando peguei a primeira cartela de pílulas.
Parei de chorar.
Sem arrependimento.
Sem agonia.Tirei o primeiro comprimido e o tomei olhando através da minha janela.
Eu espero que ele não sinta minha falta. Nenhum deles.
Antes de tomar o segundo repensei sobre a maior parte da minha vida medíocre e o peso que tive de carregar por absolutamente nada, a não ser o prazer que as pessoas sentem em destilar ódio.
Ao chegar na terceira pílula meus olhos transbordaram de lágrimas.
Paralisei.— Estou com medo — murmurei para mim mesma.
Mas o medo não era só sobre o mistério da vida após a morte.
Era bem mais sobre o que eu perderia se eu morresse.Eu jamais veria meus pais velhinhos, nem poderia dar netos a eles.
Eu não me formaria e nem descobriria o que quero fazer da vida.
Eu jamais me apaixonaria e nem seria amada de verdade.
Eu nunca iria descobrir coisas que amo fazer.
Eu não poderia viajar e conhecer lugares novos.
Eu nunca iria adotar um animalzinho.
Eu nunca faria tatuagens.
Eu jamais faria trilha com meus pais ou acampariamos juntos de novo.Meu pai nunca mais assistiria filmes ruins porquê cada um deles faria que ele lembrasse de mim.
Mamãe odiaria ir caminhar e nunca mais entraria sozinha em uma livraria já que isso faria ela se lembrar de mim.
O mundo deles pararia como pais, mas tenho certeza que eles aprenderiam a viver sem mim. Como um casal.Mas talvez não seja justo obrigá-los a viver sem mim, não quando eu não consigo imaginar minha vida sem eles.
Enquanto colocava a terceira pílula na boca meus olhos passearam até minha janela e o vão aberto da cortina grossa que me permitia ver o cômodo vizinho.
Peguei a próxima pílula.
Segurei o quarto comprimido perto da minha boca.
Nero estava lá, encostado na própria escrivaninha e rindo de algo que via no telefone.
Será que ele choraria se eu morresse?
Ou será que se sentiria livre do peso da nossa mentira?
Talvez ele se importe, talvez não, quem sabe?
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Amor Café & Ódio
Teen FictionJonna sempre detestou tudo que envolvesse Nero Calion e seu grupinho de amigos, mas quando se viu em um beco sem saída tendo que mentir para cuidar da sanidade mental de sua mãe a única mentira que saiu de sua boca foi a pior que já inventou em toda...