É tudo tão cinza que eu quase não enxergo cores.
Meu coração dói como se estivesse sendo esfaqueando, ele literalmente dói de uma forma física e eu não consigo soltar meus joelhos, não consigo gritar mesmo tendo muita vontade, não quero que ninguém me veja mas estou tão desesperada por apoio, não consigo parar de chorar mesmo sentindo que meus olhos vão pular para fora e tudo que eu queria é que a dor passasse.
Um fato curioso:
A dor não vai passar.Estou convivendo com ela a doze anos e meu momento ruim nunca acaba.
Parece que a tristeza, angústia, raiva e melancolia existem para tentar me matar. Eu não me lembro de um dia onde eu tenha sido verdadeiramente feliz, tudo que meu cérebro depressivo consegue se lembrar é de dias azuis.
Qual é o motivo disso tudo afinal?
Estou vivendo de uma forma automática, é um ciclo vicioso e nada nunca muda.
Quero dizer, algumas coisas bobas mudaram recentemente mas... Parece que eu nunca encontro a luz no fim do túnel.
A felicidade é para todos?
— Droga... — murmurei quando ouvi a porta do meu quarto se abrindo.
Estou deitada em uma posição fetal no chão e de costas para a porta, abraçando meus joelhos e sentindo as lágrimas quentes caírem em silêncio enquanto espero com paciência que o meu coração dramático se estabilize novamente.
Senti a mão do meu visitante acariciando minhas costas.
Não me virei, não me mexi.Em seguida os braços de papai me seguraram como uma bebezinha e ele me levou até minha cama onde nos deitamos abraçados.
Meu velho não disse uma palavra, apenas acariciou meu cabelo e segurou meu corpo no seu abraço firme.
— Estou exausta — sussurrei em um fiapo de voz.
Quero ser ouvida mas não tenho forças para falar.
— Eu sei — papai beijou minha testa — Meu anjinho...
E eu sabia que ele não continuou falando porquê começou a chorar também.
Uma vez ouvi sua conversa com mamãe e ele falava desesperadamente sobre como queria absorver toda minha dor, minha tristeza, minha depressão e foi depois daquele dia que passei a fingir mais.
Finjo que estou bem com mais frequência, choro mais sozinha agora, minto que não sofro bullying, tomo os remédios dia após dia e digo que fazem efeito para eles não perceberem que só estou indo de mal a pior.
Minto porquê sei que sou o mundo de meus pais e eles são o meu, são absolutamente tudo pra mim e a última coisa que eu preciso é que as minhas duas razões de viver fiquem tão depressivas quanto eu.Não quero que papai absorva minha dor porquê ele já tem as próprias.
Não quero que mamãe pegue minha melancolia porquê não combina com ela.
Não quero que meus pais tomem minha tristeza porquê eles precisam ser felizes.Antigamente eles só tinham um ao outro, hoje ambos têm a mim e apesar de me amarem mais que tudo eu sinto que só atraso a paz dos dois.
— Eu quero...
Os soluços engoliram minhas palavras.
Os dedos do meu pai tiraram meus cabelos de meu rosto e depois seu abraço me apertou mais.Eu quero morrer.
Quero que a dor pare, quero que meu coração não doa ou quero que ele simplesmente pare de bater.
Quero assistir filmes ruins com papai pro resto da minha vida.
Quero fazer compras com mamãe até quando ela estiver na cadeira de rodas.
Quero bater em Nero.
Quero ver os penteados novos de Ruthe.
Quero descobrir o resto das tatuagens de Andreas.
Quero comer doce e escutar todas minhas músicas favoritas.
Quero escrever no meu diário.
Quero ler, correr, sorrir.
Eu só quero viver sem essa constante dor no meu peito.
Quero acordar amanhã e sentir cada célula do meu corpo ansiar por mais um dia de vida.
Eu quero desesperadamente viver.
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Amor Café & Ódio
Dla nastolatkówJonna sempre detestou tudo que envolvesse Nero Calion e seu grupinho de amigos, mas quando se viu em um beco sem saída tendo que mentir para cuidar da sanidade mental de sua mãe a única mentira que saiu de sua boca foi a pior que já inventou em toda...