Um dia de sábado - 6

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   Quando acordei essa manhã foi com a barulheira de mamãe tentando arrumar meu quarto sem que eu percebesse.

   Estava tudo uma zona, não tive tempo, ânimo e muito menos disposição para organizar o mínimo possível do meu pequeno ninho durante essa semana. Quando esses episódios acontecem meus pais me dão todo apoio nescessário e me fazem sentir acolhida, uma das diversas ações que fazem para me ajudar é com a limpeza e organização de minhas coisas.

   As vezes, quando não consigo levantar da cama tudo que consigo fazer é assistir eles se movendo de um lado para o outro dentro do quarto enquanto choro por me sentir inútil. Mesmo assim, em nenhum momento da vida meus pais viraram as costas ou me julgaram.

   Hoje em dia eles são o único motivo pelo qual continuo tentando e gostaria que todas as pessoas depressivas no mundo tivessem um motivo também.

   — Estou tão animada — estava ajudando minha mãe a terminar de limpar meus livros — Seu primeiro namorado em dezoito anos, não vejo a hora de conhecê-lo.

   — Só que você já conhece Nero — observei, ela me lançou um olhar feio e depois voltou a sorrir.

   — Conheço como nosso vizinho, como seu ex bulinista mas depois que ele se desculpou virou realmente um doce de garoto — dessa vez eu quem fiz uma careta discreta.

   Ela não está exatamente errada mas também exagerou um pouco, tá bom, faz alguns vários anos que Nero não participa de nenhuma das atividades bulinistas com seus amigos (ou exs amigos) radioativos, ele de fato melhorou muito depois que sua mãe faleceu, mas não chega a ser um doce.

   Querendo ou não ele me provoca muito hoje em dia, mas não vou fingir que me sinto ofendida já que eu o trato da mesma forma.

   Não sei se o odeio tanto quanto os outros mas com certeza ainda não perdoei Nero pela metade das coisas que já fez comigo.

   Seria falta de amor me envolver com um cara que já fez bullying comigo? Mesmo que seja um relacionamento falso?

    Acho que perdi o pouco senso e dignidade que me restavam.

   — Quando acabarmos aqui eu vou na casa dele para passar umas colinhas de como agir na frente de vocês — isso não era mentira.

   — Que horror filha, deixe que ele aja naturalmente — minha mãe colocou seu último livro na estante gigante e caminhou para o saco de lixo na porta do quarto.

   — E você, srta. Alle, nem pense em me fazer passar vergonha — apontei para ela.

   — Eu jamais faria isso — mamãe colocou a mão sobre a boca e saiu sorrindo.

   Me peguei sorrindo quando coloquei meus últimos livros no lugar.
   Antes de sair me olhei no espelho para ter certeza de que não estava mais feia do que já sou, um cropped, uma bermuda masculina e meus chinelos.

   Não passei protetor solar já que não ficaria mais de um minuto de baixo do sol e enfim fui correndo para a casa ao lado.

   Consegui ouvir o barulho da campainha desesperada a cada vez que eu tocava.

   Segundos depois Nero apareceu na porta com a cara amassada, seu corpo vestido apenas por uma bermuda parecida com a minha e os cabelos crespos bagunçados de um jeito fofo.

   É a primeira vez que vejo suas tatuagens por inteiro, meu novo namorado tem uma tatuagem na nuca com uma data específica e algumas estrelinhas em volta, no braço direito tem uma tatuagem que cobre quase tudo e se estende desde seu ombro até o pulso, os desenhos diversos.

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