Fofocas edificam - 31

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   Estou parada a mais ou menos dois minutos no corredor encarando um cartaz de aviso.

   "Confraternização dos terceiros anos."

   No cartaz tem adolescentes felizes comemorando algo com os amigos e professores, o que é patético, em baixo da foto diz para cada aluno levar algo de comer ou beber.

   Ri baixinho com sarcasmo ao me lembrar do diálogo que tive com minha querida amiga Lanna, a bibliotecária.

" — Acho bom você vir, no sábado.

   — O que tem no sábado? — perguntei curiosa.

   — Uma confraternização, querem festejar com os alunos que se formam nesse ano letivo e como as férias de verão é daqui a algumas semanas eles resolveram fazer isso agora — Lanna me olhou com seus olhos lindos e hipnotizantes, estou ajudando-a a organizar uns documentos no computador.

   — Eu passo — disse firmemente.

   — Por que você nunca vem para esses eventos?

   — Uma vez eu fui, no último ano do segundo fundamental, fui no baile de formatura e cada aluno que não ajudasse na organização do evento ficou de levar comes e bebes — murmurei sentindo meu coração bater mais rápido com a memória — Meus pais fizeram pratos típicos dos seus paises e eu levei, mas, quando descobriram que eu tinha levado aqueles pratos ninguém quis comer.

   Lanna ficou em silêncio, chocada, me olhou com dó e tentou falar algo que não saiu.

   — Uma criança até vomitou quando descobriu que tinha comido o prato da macaca amarela — dessa vez senti raiva.

   Nancy nunca escondeu o nojo que sentia de mim, mas ela nunca foi idiota para deixar seu racismo escancarado, naquele dia ela deixou escapar. Só que ninguém veria problema nos seus atos quando todos também sentiam nojo de mim.

   — Meu Deus Jonna — falou um pouco tristonha — Crianças são bizzarramente assustadoras e malvadas.

   — Nem me fale."

   Naquele dia, fui para o banheiro e chorei muito, depois voltei decidida a comer sozinha dos meus pratos para que meus pais não ficassem triste ao vê-los retornar completos.

   Só que quando saí do banheiro e voltei para o salão, encontrei ambos pratos quase vazios.

   Naquela mesma noite me sentei no canto da festa e tentei achar a pessoa corajosa que comeu meus petiscos.
   A pessoa nunca apareceu.

   — Oi Jonna!

   Me virei na direção da voz quase desconhecida e encontrei Dina sorrindo para mim.

  Acenei de volta.

   — Não vai almoçar? — questionou quando me viu sem nada nas mãos.

   — Estava na biblioteca, não tive tempo de comprar ou pegar comida no refeitório — expliquei com calma.

   E não estou com fome.

   — Vem sentar com a gente então.

   E sem opções eu realmente fui. Mas não só porque não tinha opções, fui principalmente porquê quis ir.

   Sentei-me ao lado de Alice que hoje está vestindo rosa, ela é quase tão loira quanto eu. Notei também que Ruthe não está entre elas.

  — Bom dia meninas — sorri.

   — Você prefere frutas ou salgadinhos? — Barbie questionou me estendendo algumas uvas e um saquinho de salgadinho de cebola.

  — Eu estou be...

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