Boa de mais - 18

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   Abri os olhos estranhando o ambiente mas me lembrei que não estou em casa.

   Minha mão passeou até o lado da cama onde o dono do quarto deveria estar. Seu lado está vazio.

   Murmurei algo ainda atordoada pelo sono e me levantei com preguiça, olhei no celular e as horas marcam quatro da madrugada, o horário que sempre acordo para usar o banheiro.

   Levantei de vagar e caminhei com os olhos fechados até a porta do cômodo conhecido, o banheiro está vazio e me pergunto onde Nero se enfiou.

   Fechei a porta para fazer o meu xixi em paz e quando terminei me olhei no espelho, os cabelos lisos não estão tão bagunçados mas meu rosto está inchado graças ao sono. Lavei minhas mãos e limpei meus olhos antes de sair do banho para voltar a cama.

   O quarto está escuro e silencioso mas ainda assim consegui ver a silhueta do corpo masculino sentado entre a estante de livros e a poltrona acolchoada.

   — Que susto garoto! — reclamei, minha voz está rouca.

   Nero permaneceu imóvel, em silêncio.

   — Que brincadeira é essa agora cara? — Perguntei sem paciência para suas gracinhas e obviamente não obtive nenhuma resposta.

   Ele deve estar tentando me assustar, mas não vai funcionar. Se ele vier de gracinha vou jogar sua cadeira da escrivaninha nas suas costas.

   Ou será que ele é sonâmbulo?

   Me aproximei de vagar, com calma e me agachei na sua frente quando parei perto o suficiente, seus olhos estão abertos, encarando o nada.

   — Nero?

   Ele me olhou de forma tão vazia que senti meu coração errar a batida, nada saiu da sua boca.

   Nós dois ficamos ali parados por quase dois minutos, ele na sua posição e eu o encarando tentando descobrir o que tinha de errado.
   Até que uma lâmpada se acendeu na minha mente.

   Crise de ansiedade?

   Suas mãos estão tremendo, os olhos fixos em mim e a respiração pesada.

   Me ajoelhei na sua frente, depois segurei o rosto do meu falso namorado com as duas mãos e só então tive um pouquinho da sua verdadeira atenção, como se ele tivesse saído de um transe.

   Nero estava mais gelado que o normal e o aquecedor estava ligado.

   — Eu... — ele arfou, o ar parecia estar faltando mesmo que sua respiração estivesse sob controle — Não queria acordar você.

   — Eu estou aqui — falei, isso não ajudaria ele mas queria dá-lo-o a certeza de que não estava sozinho.

   Hesitante me inclinei na sua direção para rodear seus ombros com os meus braços. Nero deitou a cabeça no meu ombro esquerdo e  respirou fundo, seus braços rodeavam suas próprias pernas, senti ele estremecer.

   Não faço idéia do que fazer para ajudá-lo a sair dessa crise mas talvez transparecer segurança e conforto ajude um pouquinho.

   Desconfortável com o silêncio murmurei a única música que veio na minha cabeça sendo ela zero o'clock.
   Mas apesar de cantar uma a outra música que não saí da minha cabeça toda vez que olho para Nero é Solitude m38 e nunca entendi o motivo disso.

   As músicas mudam conforme as pessoas crescem, conforme meu relacionamento com elas se moldam e desde de que toda essa merda começou essa é uma das músicas que mais escuto na cabeça ao vê-lo.

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