Viva la vida - 44

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Meses depois:

   " — Ela estava bem até um tempo atrás — falei com o tom baixo.

   Jonna está dormindo, Alle também mas diferente da filha ela dorme em uma das poltronas reclináveis.

   Eu e Werner estamos sentados nos puffs ao lado da janela.

   O pai de Jonna me olhou com atenção e curiosidade enquanto bebericava o chá gelado que eu comprei a alguns minutos.

   — Saimos ainda na semana passada, ela riu e sorriu durante todo o encontro — murmurei ao sustentar os olhos azuis — É assustador.

   — Algumas pessoas depressivas estão sempre depressivas. Jonna é uma depressiva funcional, é do tipo que tenta viver como se não estivesse doente e ela acaba se enganando, por um momento realmente parece que não está. Até que tudo que foi reprimido vem de uma só vez e então ela tem recaídas — Wern me estendeu o saquinho de açúcar quando eu pedi com um movimento de mãos — As vezes ela chora a noite inteira, as vezes ela não chora mas fica deitada durante horas ou até mesmo dias e não consegue fazer nada. Tem momentos que ela só dorme e algumas raras vezes ela permite se desesperar assim.

   Por um momento houve silêncio, a cidade abaixo e afrente está acesa. Carros, luzes, pessoas e ventanias. É lindo e estranho.

   Se ela tivesse desistido o mundo continuaria girando mas o meu teria parado.

   — Jonna quase conseguiu se matar daquela vez — Wern trouxe minha atenção de volta para si — E uma vez ela quase tentou se afogar na piscina de casa, quando desistiu entrou chorando no nosso quarto e dizendo que queria parar aquela dor. Uma dor que eu não conheço mas consigo sentir toda vez que ela chora perto de mim — murmurou, a voz grossa falhou por um momento — Ela ficou tão traumatizada que nem se lembra de ter tentado se afogar.

   Eu não fazia idéia.

   Olhei na direção dela. O rosto bonito e magro está sereno. Ela está num sono profundo.

   — Ela não come muito — observei.

   Faz tempo que venho notando isso. Na escola ela nunca pega muita comida ou nunca pega nada. Sempre que saímos para comer ela só ingere besteira e ainda assim come pouco. Na casa dela Jonna costuma pular o café da manhã e outro dia disse que odiava jantar.

   — Ela não tem muito apetite. As vezes fica tão ruim que nem se lembra de comer — ele limpou a garganta — É por isso que comecei com as noites das maratonas. Parte por realmente gostar de ver filmes com elas, mas o principal motivo é porquê pedimos ou fazemos muitas comidas gostosas e Jonna fica tão empolgada que se alimenta bem melhor.

   Meu coração doeu de uma forma física.

   — Ela nunca foi a alegria da nossa casa — o olhei — Digo literalmente e não que não gostamos dela — explicou quando me viu confuso — Jonna nunca foi uma criança feliz de mais, quase nunca ria, estava sempre de mal humor e triste. Era e ainda é de partir o coração.

   Isso partiu o meu.

   Não que eu não saiba disso.

   Antes de começarmos com essa mentira ela era bem mais depressiva, usando sempre uma expressão séria ou perdida, como se não soubesse o que estava fazendo no mundo.

   Ela nunca foi muito de sorrir, sempre me olhou de um jeito severo e cansado e entediado. Quando começou a sorrir mais para mim foi um alívio e desde então eu venho tentando ser o mais irritante possível.

   Jonna diz que odeia que eu seja irritante mas sei que na verdade isso a diverte muito.

   — É assim que funciona — seu pai falou e percebi que olhava na mesma direção que eu — Ela tá ruim hoje e amanhã vai acordar melhor, mas, no início de semana pode piorar de novo e nós vamos viver sempre em aflição, com um medo palpável de não conseguir impedi-la caso ela tente algo novo para tentar se matar.

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