Des(ejo)prezo - 29

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   Os cachos do cabelo crespo de Ruthe balançaram contra seu rosto quando o vento soprou forte.

   Minha amiga estava de queixo caído enquanto me ouvia falar sobre o que aconteceu entre Nero e eu.

   — É sério? — Ruthe voltou a perguntar — Não tipo, Nero é um abusado mesmo e eu não duvidava muito que ele tentasse te beijar uma hora ou outra mas... Você? — senti minhas bochechas queimarem — Achei que você odiasse ele.

   — Acho que o ódio foi substituído por um desprezo bem mais tranquilo conforme fui conhecendo ele — revelei sem graça. Só pode ser isso. Tem que ser isso — E tipo, eu sempre achei Nero muito bonito mas não a esse ponto.

   Ela riu e jogou os cabelos para trás do ombro. Ruthe é linda ao ponto de tirar o fôlego e eu realmente entendo o motivo de Andreas sempre exaltar ela.

   Ele é um namorado fofo e muito bonito também, agora mesmo está do outro lado da escola conversando com Nero, meu falso namorado fala algo com uma expressão muito séria e Andreas está rindo dele.

   Por um momento desejei ser uma mosca para ouvir a conversa deles dois.

   — Você já falou com ele depois disso? — Ruthe atraiu minha atenção.

   — Não — respondi com firmeza e rapidez — Eu não sei o que falar. Não sei o que rolou... Céus! Rue, eu quase deixei ele me tocar. Tipo, o que merda eu deveria falar?

   — Você pelo menos ficou com vontade? — ela se inclinou um pouco sobre a mesa para falar mais baixinho.

   — Tá brincando? Eu quase me afoguei de tão molhada que fiquei — soltei sem pensar e ela gargalhou.

   Desviei o olhar constrangida.

   Se eu tivesse falado o contrário estaria mentindo.
   Fiquei tão eufórica e animada quando cheguei em casa que tudo que eu conseguia pensar era em Nero com a língua no meu corpo e Nero me empurrando contra sua mesa com tanta força que quebramos algo e Nero me colocando sobre sua cama e sua boca me beijando e Nero arrastando o dedo pela minha região íntima antes que eu pudesse empurrá-lo.

   Eu quase enlouqueci.
   Sério. Quase usei o brinquedo que as meninas me deram. Só não o fiz porquê ele era tudo que eu tinha na cabeça e não queria fazer aquilo pensando nele porque eu estava assustada de mais.

   — Eu tô desesperada Ruthe, é sério — cravei os dedos no meu couro cabeludo e encarei a mesa de pedra do pátio cheio.

   — Ai amiga — ela parou de rir lentamente — Eu sei que vocês tem essa rixa estranha e se provocam o tempo todo, só que eu não acho que seja o fim do mundo. Sério, foi só um beijo... Bom, um beijo e quase algo a mais.

   — Exatamente — murmurei com medo de alguém nos ouvir — Não é a primeira vez que acontece. Quando ele me beijou no meu quarto Nero só não tirou minha roupa porque meu pai chegou — revelei com a voz baixa — E o pior nisso tudo é que eu deixei e gostei.

   — Qual problema?

   — O problema é que eu não deveria gostar de nada vindo dele, desde os elogios que eu nunca sei quando está falando a verdade ou tentando me constranger até essa merda de desejo — disse tão rápido que me surpreendi pela minha dicção não ter falhado — É bizarro e não parece certo mas ao mesmo tempo eu gosto de fazer o que parece errado.

   Respirei fundo olhando na direção dos nossos namorados. Ou melhor, do namorado de Ruthe e do meu falso namorado.

   Agora Andreas estava fazendo alguns movimentos estranhos com as mãos e eu só percebi que era algo obsceno porquê Nero estava desesperado para ele parar.
   Ele segurou as mãos de Drê e olhou em volta para se certificar que ninguém viu e eu desviei o olhar antes de ser pega no flagra.

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