Lipstick on a pig - 13

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    De repente estava de volta no passado revivendo o dia em que criei coragem para tentar agir como as outras garotas.

   Entrei no banheiro sozinha e com dificuldade me olhei no espelho para arrumar meu cabelo, depois tirei um batom delicado da mochila.

    O batom de cor leve pigmentava nos meus lábios com facilidade mas minhas mãos pequenas se atrapalhavam para passar.

   Me senti petetica no mesmo momento que ouvi risadinhas atrás de mim e no espelho vi a única pessoa que não queria encontrar, as outras meninas rodeavam Nancy com curiosidade para ver como ela fazia a própria maquiagem.

   — É tipo tentar maquiar um porco nojento — falou alto enquanto me olhava através do reflexo.

   Senti o coração acelerado, senti ele doer fisicamente.

   "Mas porcos são tão fofinhos" pensei comigo mesma.

   Ainda assim meus olhos se encheram de lágrimas e cometi o erro de deixar uma cair.

   — Ela tá chorando — alguma menina comentou e arrancou gargalhada das outras.

   Meu segundo erro foi ceder e me abaixar para lavar minha boca.

   — É bom você reconhecer que eu estou certa — Nancy disse passando o mesmo batom que eu estava usando, nela ficou tão lindo — E é bom você lembrar que nunca vai ser bonita, Jonna."

   Naquele dia eu não corri, só caminhei com passos silenciosos na direção da porta e decidida a nunca mais tentaria me sentir bonita.

   Me olhei no espelho pela centagesima vez, o brilho rosado de mais nos meus lábios e os olhos pintados com uma sombra dourada cheia de brilhinhos.

   Estou literalmente brilhante essa noite.

   Mamãe me arrumou sozinha quando fomos convidados para um jantar em "família" pelo sr. Calion.
   O restaurante exige vestimenta formal e como eu não saberia me vestir ela se ofereceu para me arrumar.

   Obviamente exagerou.

   As mangas do vestido bege são ombro a ombro deixando toda minha clavícula a vista, o tecido chega até meus pés que estão escondidos em um tênis branco, a saia dele é longa e esconde minhas pernas brancas.

   É um vestido simples mas ainda assim tem sua elegância com a costura da cintura colada e a saia um pouco rodada.

   Estou desconfortável desde que me vi no espelho pela primeira vez.

   Maquiar um porco.

   Apesar de estar me achando bonita essa frase continua se repetindo na minha mente e toda vez tenho vontade de chorar, correr e me esconder da vista alheia.

   — Adorei seu gloss — a moça que parou ao meu lado estava em um vestido justo e com uma fenda na perna — Combina com seu tom de pele.

   Não combina não.
   Só pode ser brincadeira.
   Ela tá tendo ser má comigo.

   — Obrigada — mostrei um sorriso amarelo com medo de ouvir as gargalhadas novamente.

   Mas não ouvi nada.

   Ela é uma adulta, talvez madura o suficiente para estar sendo sincera... Mas, se crianças podem ser tão malvadas os adultos podem ser ainda pior.

   — Eu não sei se gostei — me esforcei para não ficar calada.

   — Você está linda assim — a adulta piscou para mim antes de secar as mãos e sair do banheiro.

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