A mentira - 1

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   Se tem uma coisa que eu mais odeio na vida depois de dias quentes e ensolarados é a minha escola.

   Desde que me mudei para os Estados Unidos sempre estudei com as mesmas pessoas nas mesmas escolas, no ensino médio eu pensei que conseguiria mudar para um colégio diferente mas nunca cheguei perto de conseguir já que continuar em escola particular é o melhor para o meu futuro de acordo com meus pais.

   O problema não é a escola em sí, e sim todos os mesmos rostos todos os dias.

   Quando mais nova eu achava que aqueles esteriótipos de adolescentes norte americanos era exagero mas logo quando cheguei aqui percebi que as coisas seriam difíceis.

   O bullying me acompanhou durante a vida inteira, na Ásia as pessoas me chamavam de maldição graças a minha pele albina e todos os cabelos amarelos de mais, meus olhos são tão claros que me fazem parecer um fantasma.

   Na Alemanha sofri bullying por todos meus traços chineses, a xenofobia lá chega a ser pior do que essa que sofro aqui.
   Nos EUA, o bullying começou com meu sotaque, depois começaram a fazer brincadeiras sem graça com minha aparência (de acordo com eles sou fantasmagórica) depois as piadas preconceituosas e xenofobicas, até que de repente as pessoas começaram a me odiar porquê parecia divertido.

   Em específico tem um grupo no qual me ridicularizou desde que cheguei no país.

   Nancy e as quatro marionetes é como eu costumo chamar, a maioria das pessoas que também fizeram bullying comigo começaram a me esquecer com o passar dos anos mas não eles, esses quatro fazem questão de me atormentar.

   — Me devolve a porcaria da foto Giorge! — quis gritar com ele, o ruivo alto esticou o braço e ainda gargalhava da minha foto com meus pais.

   — Eu não lembrava de você ser tão feia assim — zombou ele enquanto exibia a foto para os amigos do time.

   — A gostosa da sua mãe me acha linda — rebati, o bando de idiotas riram dele que para minha felicidade ficou puto.

    Antes que a Marionete Giorge conseguisse me responder a coordenadora chamou nossa atenção de longe.

   — O que está havendo ai? — a mulher gorda lançou um olhar furioso para a maioria dos garotos do time de vôlei.

   — Não é nada — Giorge jogou a foto na minha direção com desgosto antes de sair andando.

   Me apressei para pegar minha querida polaroide antes que ela fosse pisoteada, ela foi tirada no meu aniversário de oito anos, pouco tempo depois de chegar nos Estados Unidos. Estou nos braços do meu pai tendo a bochecha esmagada por um beijo da minha mãe.    Adoro essa foto.

   — Jonna? — me virei na direção da Srta. Echo — Sua mãe precisa falar com você urgentemente.

   — Já estou indo — antes de me retirar agradeço a coordenadora que sorriu e também continuou seu caminho.

   Andei despreocupada até o escritório de mamãe sabendo que ainda tenho tempo de sobra do intervalo.

   Sempre que ela precisa falar comigo diz que é urgente mas na maioria das vezes nunca é, uma vez ela me convocou com "urgência" e quando cheguei na sala só ganhei um sermão por esquecer de tirar o lixo antes de sair de casa.

   Desde que mamãe começou a trabalhar aqui na escola essas coisas se tornaram tão recorrentes que eu simplesmente já me acostumei, só por isso que não tive pressa.
   Afinal, se fosse realmente urgente ela mesma teria ido atrás de mim logo após de me encher com ligações.

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