Quando eu era mais nova achava que esse sentimento de apatia era normal e absolutamente todas as pessoas passavam por isso.
Quando contei para minha mãe ela me olhou com muita preocupação e tentou explicar de uma forma que a mini Jonna conseguisse entender.
Esse foi o primeiro sinal que dei da depressão na infância, depois eu chorava todos os dias para não ir a escola e meus pais sabiam dos meus motivos mas nunca conseguiam vaga em outras escolas para me mudar então eles me deixavam faltar muitas vezes na semana.
Em seguida eu não queria fazer mais nada do que costumava gostar, como; brincar, pintar, ler gibis, escrever no meu diário, comer, assistir filmes com papai ou sair para as compras com mamãe.Foi quando eles decidiram me levar em busca de um diagnóstico (mamãe como uma boa psicóloga já sabia mas não podia diagnósticar sozinha).
Fui diagnósticada com depressão aos seis anos de idade e fazem doze anos que tomo remédios para me ajudarem a lidar com isso.
As mesmas drogas todos os anos, dia após dia, apenas o frasco e as bulas mudam e quando acho que estou ficando bem...
BOOM!
Uma recaída.
É um ciclo sem fim, a vida monótona, o mundo azul e cinza, as horas entediantes, as crises de choro, os minutos torturantes e cada respiração pesada.
É um ciclo que só vai terminar quando eu morrer.
Encarei o remédio tarja preta na minha mão antes de colocá-lo na boca e engolir com ajuda da água.
Quando comecei a tomar anti-depressivo o maior medo dos meus pais era que eu me viciasse mas por algum bom milagre isso nunca aconteceu.
De uns tempos pra cá essa porcaria nem vem fazendo tanto efeito e só não contei nada porquê sei que a dosagem vai aumentar, honestamente, não suporto mais depender de comprimidos para regular minha cabeça ferrada.
Só estou tomando esse hoje porquê é início de semana e eu quero tentar de novo, quero dar outra chance pra droga fazer efeito.
— Está pronta? — Nero olhou para a caixa do remédio no meu colo e pro meu alívio ele não perguntou nada.
É manhã, estamos dentro do carro dele e a escola apenas alguns metros a frente.
— Sim — menti.
— Ruthe me disse que já está tendo fofocas nos corredores, acho que Nancy deixou escapar alguma coisa — seus olhos estão na estrada.
— Que novidade — tirei o estojo de lentes da bolsa e virei o espelho na minha direção.
Nero entrou no estacionamento e dirigiu até sua vaga de sempre.
No espelho assisti meu olhar mudar de cor lentamente, do azul bizarramente claro para o castanho. Quando descobri meu astigmatismo foi a desculpa perfeita para começar a usar lentes coloridas e esconder aquela cor terrível dos meus olhos fantasmagóricos.
Enquanto eu guardava minhas coisas o meu falso namorado desceu do carro e segundos depois abriu a porta do meu lado.
Olhei para ele assustada com sua capacidade de mudar diante tantas pessoas.
Tudo bem que ele abriu a porta pra mim quando parou em frente de casa para me apanhar mas achei que estava só me provocando.
— Que cavalheiro — debochei.
Assim que desci do carro senti diversos olhares queimando sob minha pele, eu esperava por essa recepção já que o capitão do time de vôlei sempre chama muita atenção, só não achei que as pessoas seriam tão indiscretas assim.
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Amor Café & Ódio
Teen FictionJonna sempre detestou tudo que envolvesse Nero Calion e seu grupinho de amigos, mas quando se viu em um beco sem saída tendo que mentir para cuidar da sanidade mental de sua mãe a única mentira que saiu de sua boca foi a pior que já inventou em toda...