capítulo 11

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MELINDA OLIVEIRA

ALGUNS DIAS DEPOIS


Depois de descansar por um longo período, acredito que foram 4 ou 5 dias, durante os quais falei muito pouco, apenas o necessário, uma psicóloga veio falar comigo e eu evitei sair do quarto. Agora estou começando a me sentir melhor. Levanto-me e vou para o banheiro, tomo um banho e abro a janela do meu quarto, percebendo que meu maior pesadelo foi destruído. Não sei se devo ficar feliz ou chorar.


Passei por meus piores medos naquele lugar. Há coisas que são difíceis de suportar para qualquer pessoa, especialmente quando envolvem os traumas pessoais. Isso não deveria ser feito nem ao pior inimigo. Algumas coisas deveriam ter limites. Limpo minhas lágrimas e a porta do meu quarto se abre.


- Bom dia, Bela Adormecida. Acho que escolhi o nome errado para você. - diz minha tia, e eu sorrio.


- Bela e Linda, acho que dá no mesmo, tia. - sinto minha voz saindo meio rouca, minha garganta está um pouco irritada.


- Como está se sentindo?


- Melhor, tia. Meu corpo sofreu muito com a crise de pânico e acredito que precisei desse tempo para me recuperar. - falo tossindo um pouco.


- Tome aqui um pouco de água. - ela me entrega o copo, eu agradeço e bebo tudo.


- Quer que eu traga seu café?


- Não. Quero descer as escadas hoje.


- Então vamos lá, querida. - nós duas saímos do meu quarto em direção à cozinha.


Quando chegamos à cozinha, meus pais me olham com culpa e Dona Rosa corre até mim e me abraça com os olhos cheios de lágrimas.


- Oh, minha querida, que bom que você está bem. Tive tanto medo quando você não reagiu quando abriram as portas. - a abraço para acalmá-la.


- Estou bem agora, Rosa. E obrigada por se preocupar comigo.


- Sempre, querida, sempre. Tive que pedir para o meu filho Juca pular o portão e pegar uma chave reserva para abrir a porta para mim.


- E o Ricardo?


- O covarde filho de uma puta fugiu, ninguém sabe onde está. - fala minha tia indignada.


- E como vocês abriram a porta?


- Ajudamos o filho da Rosa a pular o portão e ele abriu para entrarmos. Ricardo havia deixado as chaves no aparador. - fala meu pai pela primeira vez.


- Dessa vez... eu poderei ir embora, não é? - Pergunto em um sussurro, pedindo a Deus para que esse pesadelo acabe.


- Vamos ver, filha, mas decidimos ficar aqui por tempo indefinido. Então você não ficará mais sozinha, e seu pai pediu para derrubarem o celeiro. - como se isso fosse tirar o trauma de mim. A dor, o medo e o desalento que senti.


Com raiva, pego uma xícara de café e saio para fora. Preciso respirar ar puro e me afastar dos meus pais, que só pensam neles mesmos. Eles nunca enxergam o mal que Ricardo me faz, nunca se importam com o meu sofrimento. Estou cansada disso. Estou cansada de ter que carregar o mundo nas costas.

DOIS DIAS DEPOIS


Hoje acordei muito melhor. Meus pais, como prometido, ainda estão aqui, assim como minha tia. Foi agendado que eu deveria ir ao psicólogo a cada 15 dias, para tentar controlar minha fobia e evitar crises tão severas, ou até mesmo o desenvolvimento de algum problema psicológico mais grave. Mas ele é alguém de confiança do Ricardo, então nem posso sonhar em denunciá-lo.

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