MELINDA OLIVEIRA
Eu estou em choque, bem, não vou mentir. Já havia sentido o desejo e o tesão de Anthony por mim quando estávamos no carro dele, abraçados, mas nunca imaginei que seria tão intenso como vi em seus olhos quando me viu vestida com essas roupas que Liz me obrigou a comprar. Senti-me deslocada e um pouco envergonhada, mas o olhar de Anthony percorrendo preguiçosamente meu corpo fez com que perdesse a vergonha, o medo, tudo. Pela primeira vez, senti-me viva, desejada e bonita. Tudo o que eu esperava era que ele me beijasse ali mesmo, na rua, em frente à loja de sapatos que Liz queria me arrastar. Estou me sentindo quente, e não é apenas meu rosto, é todo o meu corpo. Anthony me hipnotiza, tira-me o ar.
— Amiga, que homem é esse? Bem que você me disse que ele valia a pena. Ele não vale apenas a pena, ele vale o galinheiro inteiro. — Saio dos meus pensamentos e gargalho com a loucura de Liz. Temos nos visto muito ultimamente, e estou amando ter alguém com quem conversar. Sei que nossa amizade começou repentinamente, mas acredito em amizades verdadeiras, e sei que a nossa é uma delas. Relutei um pouco em sair de casa, pois ela sempre ia perto do portão do prédio, e ficávamos sentadas em uns bancos perto da guarita do prédio.
— Eu disse que ele era lindo. — Falo timidamente.
— Lindo é pouco para descrever a beleza e masculinidade do seu "boy". — Bato meu ombro no dela.
— Ele não é meu.
— Não é porque você é boba. O cara devorou você com os olhos.
— Não é para tanto também, Liz.
— Amiga, você não viu o que eu vi então. Eu achei que ele fosse te agarrar aqui mesmo e tirar suas roupas. O cara praticamente te despiu com os olhos. — Não gosto de pensar em sexo. Já faz mais de um ano que não sei o que é isso.
— Anthony é tão complicado. Eu te falei que ele me evita. — Desistimos de ir à loja de sapatos e seguimos para uma lanchonete. Hoje é a folga de Liz.
— Talvez ele só queira te deixar livre. Você acabou de sair de um relacionamento conturbado. — Liz fala como se fosse óbvio.
— Deveria ter pensado nisso antes de me beijar no carro dele, antes de dormirmos abraçados duas vezes, sentindo o calor um do outro. Era como um abrigo, um lar para mim. Não acho que preciso de tempo, amiga. Eu preciso sentir o que senti com ele. Nunca fui realmente a mulher de Ricardo. Ele mal me tocou algumas vezes antes de surtar e colocar a culpa pelo fracasso do nosso relacionamento em cima de mim. — Sentamo-nos afastadas, e só então percebo que Sérgio está sentado a duas mesas de distância de nós, e parece que ele também vai pedir um lanche.
— Nossa, Melinda.
— O pior, Liz, é que um dia o Ricardo me humilhou tanto que disse que o pênis dele... ele... hum... não subia porque eu era frígida, fria e sem vida, que eu parecia uma mulher morta. — Meus olhos quase se enchem de lágrimas, mas engulo o choro. Nunca mais vou derramar lágrimas por Ricardo.
— Você sabe como dói, a pessoa te chamar de frígida? Dizer que preferia se masturbar do que usar meu corpo, que eu era muito seca, que não tinha onde tocar. — Desvio meu olhar para longe.
— Minha autoestima morreu ali. Toda a certeza de que eu era bonita e desejável se foi. Ele falava cada barbaridade, cada palavra para me rebaixar e humilhar, e eu ainda tentava de tudo para chamar sua atenção, como minha mãe me ensinava, só para receber a cara de nojo dele. — Liz segura minha mão, vem até mim e me abraça, e ficamos assim.
— Você é linda, você é maravilhosa e muito desejável. Aquele gato do Anthony é a prova viva disso. E seu ex-marido provavelmente era um frouxo que a pingola murcha não sobe e, para não se sentir mal, jogava a culpa em você. Não se prenda ao passado, amiga. Pense no hoje e arrume um jeito de dar um chá de buceta no seu "boy".
— Liizzz! — Ela cai na risada.
— Você é muito desbocada, garota — Falo balançando minha cabeça.
— Eu só falo a verdade, amiga. E quem fala a verdade não merece castigo. — E nesse clima amistoso, comemos nosso x-bacon com refrigerante e batata frita. Sérgio disse que era por conta de Anthony que ele tinha entregado o cartão dele. Eu nem acreditei, porque ele tinha transferido uma enorme quantia para o cartão que minha tia fez para mim, e nem se eu comprasse todas as roupas da loja que fomos gastaria essa quantia. Às vezes acho Anthony exagerado, mas também pense numa pessoa humilde. Nem parece ser um dos milionários mais desejados do país. Porque sim, querida, ele aparece nessas revistas chiques como o milionário do ano e essas coisas de pessoas endinheiradas.
Voltamos para casa já passava das 21:00 horas. Insisti em levar Liz até sua casa, mas ela parou bem distante, dizendo que o bairro era muito pobre e correríamos o risco de sermos roubadas. Sinto que Liz não me conta tudo sobre sua vida. Às vezes percebo seu olhar triste, mas ela tenta disfarçar. Ainda vou tentar descobrir o que está acontecendo.
Chego em casa e o ambiente está na penumbra. Tranco a porta depois de me despedir de Sérgio, que vai para sua casa. Sigo para a sala e vejo um corpo mexendo-se no sofá. Assusto-me a princípio e quase solto um grito, mas percebo que é apenas Anthony dormindo no sofá. Lembro da noite em que adormeci no sofá e ele me acolheu em seus braços, levando-me para a cama. O cheiro de seu perfume ficou impregnado em minha roupa durante toda a noite.
Aproximo-me dele, ajoelho-me no tapete peludo e olho para seu rosto bonito. Sem pensar, beijo sua bochecha e passo a mão por seus cabelos. Tomada de coragem, deslizo as pontas dos dedos por sua barba macia, que está perfeitamente aparada. Seguro a respiração para conter o suspiro. Meu coração bate descontroladamente dentro do peito, como se quisesse se juntar a Anthony. Meu corpo treme e, ao retirar minha mão, Anthony segura-a, fazendo-me arfar de surpresa. Ele abre os olhos e me olha com ternura. Suspiro, afetada por seu toque e olhar. Ele percebe meu tremor e que minhas mãos estão frias. Ele se senta e me puxa para sentar no sofá, e eu não desvio meu olhar dele. Engulo em seco quando ele esfrega minhas mãos nas suas.
— Suas mãos estão frias — sua voz é baixa e sensual, ou talvez seja eu que esteja enlouquecendo por estar tão próxima dele, tão atraída como uma formiga para o açúcar.
— Nem percebi... Eu... hum... estava vendo se você está com frio — sinto minha bochecha esquentar.
— Estou sentindo muito frio — ele fala, olhando para mim.
— Está?
— Sim, estou... — ele me olha com tanta intensidade que, se não estivesse sentada, provavelmente minhas pernas teriam perdido a força.
— Você quer me aquecer, Melinda? — Sua voz está rouca e ele parece tão afetado quanto eu.
— Eu? — Não sei o que pensar, meu cérebro se transformou em geleia. Tudo o que sinto é a atração ardente entre nós, o desejo nos envolvendo.
— Sim. Venha aqui — Balanço a cabeça e olho para onde ele está apontando, curiosa. Me levanto e ele se deita, abrindo espaço para mim. Eu me deito e encosto minha cabeça em seu braço, e ficamos assim, ele deitado atrás de mim, me envolvendo com seus braços como um casulo.
— Viu? Estou aquecido agora. — Sorrio.
— Seu bobo.
— Me conte como foi o seu passeio.
— Foi muito legal, Anthony. Não me senti muito confortável usando calças pela primeira vez, nem essa blusa justa.
— Mas você está linda, Melinda. Maravilhosa e gostosa. — A última palavra ele sussurra no meu ouvido, fazendo-me tremer e arrepios percorrerem meu corpo.
— Anthony... — Sussurro seu nome, afetada.
— Melinda... — Ele diz baixinho. Inconscientemente, me acomodo no sofá, encostando meu bumbum em seu corpo, e Anthony solta um gemido baixo e rouco.
— Você quer me fazer sofrer, Melinda.
— Eu? Por que faria isso? — Ele segura minha cintura e pressiona contra sua virilha, e eu arfo surpresa com sua rigidez cutucando minha bunda.
— Sente isso? — Não consigo falar, apenas confirmo com a cabeça.
— É o que você está fazendo comigo. Estou duro o tempo todo, desejando poder possuir o seu corpo, beijar cada pedacinho dele. — Ele fala e afasta meus cabelos do pescoço, distribuindo beijos por ali.
— Anthony... — Solto um gemido, quase como um ronronar.
— Isso, Linda. Diga meu nome. — Meu corpo está quente por ele. Me viro para ficar com o rosto de frente para ele, e ele acaricia meu rosto com seus dedos.
— Te desejo tanto. Cada dia fica mais difícil resistir a você, Linda. — Ele sussurra. Fecho meus olhos, aproveitando suas carícias.
— Cada parte do meu corpo te deseja com fome e desejo, Linda. Nunca pense menos de você. Você é incrivelmente bonita e merece o mundo. — Com essas palavras, ele segura meu rosto e deixa um selinho em meus lábios, e depois se afasta. Demoro a me situar, e quando percebo, ele já foi embora, e eu fico ali, no sofá, quente por ele e muito irritada. Como ele pode acender meu corpo assim e sair como se não tivesse feito nada?
— Eu estou começando a te odiar, Anthony. — Digo com raiva e entro no meu quarto com as sacolas em mãos, batendo a porta com força. Como ele ousa me deixar assim por causa dele?
Para tentar me acalmar, vou para o banheiro e tomo um banho morno, mas mesmo assim não consigo acalmar o que estou sentindo. Deito na cama e tento me tocar, é a única maneira. Passo minhas mãos pelos meus seios e desço para a parte que precisa de atenção, mas não consigo me dar prazer. Frustrada, viro na cama e tento dormir. Você vai me pagar, Anthony. Oh, você vai me pagar.
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Um Anjo Na Escuridão
RomanceMelinda Oliveira, de 20 anos, é uma jovem doce presa em um casamento fadado ao fracasso com um homem 20 anos mais velho, que tem prazer em humilhá-la e fazê-la chorar. Melinda faz de tudo para ser uma boa esposa, sonhando em encontrar a aprovação do...