Capítulo 47

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                 MELINDA OLIVEIRA

                   SEMANAS DEPOIS

Liz e Dona Eugênia estão me ajudando a encher os balões para o chá de bebê da nossa Maria Alice. Sim, eu e Anthony escolhemos o nome da nossa princesa juntos. Ele amou o nome, e eu também. Maria Alice Oliveira Ferraz. Eu não poderia estar mais feliz, apesar de às vezes me sentir vazia, como se faltasse algo, uma lacuna a ser preenchida. No fundo, eu sei o que é. Sinto falta da minha tia e de Mia. Elas tentaram incansavelmente falar comigo, mas eu me neguei covardemente. É como ter que olhar para o passado, ter que reviver toda a dor que senti durante todos esses anos. Eu sei que Mia não tem culpa de nada, mas ela me lembra do passado, da dor, do sofrimento, da angústia. Ninguém me salvou, nenhuma das duas me ajudou a fugir, a sumir. Indiretamente, elas foram coniventes com tudo que sofri e passei nas mãos de Ricardo. Eu sei que Anthony pensa o mesmo, mas ele nunca abriu a boca para falar mal de nenhuma delas. Ele me deixa seguir o curso da forma que eu quiser, e eu amo isso nele. Ele me apoia, me ouve chorar, me consola, aconselha. A Dra. Rose também acredita que eu deva falar com elas e fechar essa etapa da minha vida para começar uma nova com o nascimento da minha princesa. Mas, sempre que elas tentam se aproximar, eu me vejo correndo para longe. Mesmo sabendo que é inevitável que, em algum momento, terei que reviver tudo e saber com detalhes o porquê delas não me ajudarem.

Dona Cássia, minha mãe, eu não duvido que ela não tenha percebido. Ela vivia apenas para a casa e para servir meu pai. Eu acredito que ela só sabia o que me disse mesmo. Até porque ela morria de medo de ser presa, dizia que não servia para ir para a cadeia. E começava a chorar sobre seus problemas, o que me fazia ficar com Ricardo.

Mas e Carla e Mia? O que as fez não me salvar? O que as fez assistir à minha dor sem nem tentar me ajudar? Eu me desfaço sempre que mergulho nessas perguntas sem respostas.

— Olha esse urso que eu comprei para minha netinha, Liz. — fala minha sogra sorrindo com um urso enorme, rosinha, e ele ainda toca uma canção de ninar. Eu sorrio porque eu perdi uma família, mas ganhei outra que me ama e sinto que é de verdade. Dona Eugênia está sendo mais que uma mãe para mim. Ela sempre me acompanha nas consultas e compras de roupinhas. Ela e Anthony às vezes me deixam louca, estão entupindo o quartinho da nossa Maria Alice de coisas, desde roupinhas de princesa a de fadinha. Ela será a bebê mais amada do mundo.

— Está vendo, filha? Você já é muito amada. E diferente de mim, você terá todo o meu amor e proteção. Nada nunca vai machucar você, eu juro. — uma lágrima sai dos meus olhos sem que eu tenha controle.

— O papai também jura, pequena. Proteger e cuidar de vocês com a minha vida. Vocês são meu tudo. — Anthony me surpreende, me abraçando por trás e passando suas mãos em minha barriga de quase 9 meses. Sim, estamos no final da 36ª semana, e agora falta pouco para nossa princesa vir ao mundo. Nossa Maria Alice reconhece a voz do pai porque ela chuta exatamente onde ele descansou sua mão.

— Você sabe o quanto seu papai te ama, não é mesmo, princesa Alice? — ele pergunta, fazendo carinho em minha barriga, deixando nossa menina agitada. Chega a dar uma queimação onde ela faz os movimentos.

— Vai com calma, filha. Você ainda está no forninho, e a mamãe sente dor quando começa a fazer essas estripulias. — Não percebi que Liz, Eugênia e Marlucia estavam observando nossa interação. Todas estavam com sorrisos de orelha a orelha olhando para nós dois. Eu fiquei envergonhada, mas Anthony continua a se declarar para mim e para nossa filha.
— Quando você nascer, filha, o que será em poucas semanas, eu estarei sempre cuidando de você, fazendo você dormir, ajudando sua mãezinha, a nossa mulher maravilha — e então ele começa a cantarolar, e até Davi para o que estava fazendo para sentar perto do “tio” para ouvi-lo cantar.

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