Um Anjo Na Escuridão

CAPÍTULO 42

                MELINDA OLIVEIRA

                    HORAS ANTES

Não sei por quanto tempo permaneci dentro do porta-malas, mas sinto meu corpo dolorido. Os solavancos que o carro dava faziam com que meu corpo batesse nas paredes do compartimento, ferindo-me. Agora, me praguejo por ter sido tão imprudente em sair de casa sozinha. Deveria ter pensado nas consequências e em tudo que essa minha irresponsabilidade poderia resultar.

Será que Anthony já deu falta de mim?
Será que ele está me procurando?
Eu ainda o tenho?
São tantas dúvidas, medos... Eu fui errada em sair sem calcular o perigo.
Para onde Ricardo está me levando?
O que ele vai fazer comigo?
Como ele vai me tortura?
Não posso negar que, por dentro, estou com muito medo, mas vou lutar até meu último suspiro. Ele não vai me vencer assim, ele terá que me matar, nunca mais vou voltar para sua prisão. Eu tive um breve gosto do que é ser feliz, do que é ser amada, de como é bom ser livre, ter um emprego, ser ouvida, ter meus desejos e sonhos realizados. Não vou conseguir viver a mesma vida sofrida de antes, não, é impossível. Prefiro morrer.

O carro para, e acredito que ele saiu do veículo, mas não veio até mim. Fico em alerta, passam-se longos minutos em perfeito silêncio. Confesso que estou imaginando inúmeros cenários nos quais ele possa ter me trazido: uma vala para me enterrar viva, algum rio para me jogar nele, ou me deixar amarrada em alguma mata. É tantas visões que eu tenho da minha própria morte. Apesar de achar que ele não daria um fim rápido em mim. Não... Ricardo é psicopata, ele ama assistir meu sofrimento, gosta de ver minhas lágrimas sendo derramadas. Então, ele não me daria um fim rápido.

Enquanto penso no que Ricardo pode vir a fazer comigo, não o escuto se aproximar. Só noto sua presença no momento em que ele abre o porta-malas e me arranca dele com uma enorme brutalidade, puxando-me pelo braço e marcando minha pele com sua mão. Não dou o prazer a ele de me ver reclamando, permaneço calada. O frio da noite me abraça, causando arrepios em minha pele. Ele fecha o porta-malas e agarra meus cabelos, começando a me puxar com força, curvando minha cabeça. Meu pescoço dói, onde ele me trouxe parece ser uma área isolada, estamos completamente no escuro. Meus cabelos parecem estar sendo arrancados do couro cabeludo. Esse cara é um sádico, a dor é indescritível. Eu tento bater em sua mão para ver se ele solta meus cabelos, e ele sorri e aperta ainda mais forte o agarre. Sinto meu pescoço estalar. Ele continua me puxando pelos cabelos até chegarmos perto de uma escada, onde só então ele solta meus cabelos me fazendo cair no chão, tento amortecer a queda com as mãos.
— Espero que esteja gostando do tratamento especial, esposa. Lembro que quando nos casamos, eu fui um pouco mais cuidadoso. Só que, digamos que você não esteja merecendo o meu lado gentil. Vamos — ele exige, e eu me ponho de pé. Minha cabeça está latejando pelos puxões que ele deu em meus cabelos até me trazer para a porta do local. Ele segura um dos meus braços com bastante força e me puxa para dentro de uma casa caindo aos pedaços, bem velha. O lugar parece estar no meio do nada, sem nenhuma casa à vista, e o medo me consome por dentro. Ele me impulsiona com um empurrão para perto de uma cadeira e me faz sentar nela. Em seguida, me amarra ali com uma corda, apertando meus pulsos e pés a ponto de dor. Não reclamo.

— O que aconteceu com a Melinda chorona? Aquela que gritava e implorava, que pedia por favor, hum? — eu não respondo, eu não vou cair na dele.

— Sabe, Melinda, seu erro é me subestimar. Eu vou te fazer ruir. Eu vou fazer você se render a mim novamente, e só vou parar quando eu tiver feito você aprender que eu sou seu marido e que você deve seguir minhas regras. — ele fala tocando em meu queixo de forma carinhosa. Eu cuspo em sua mão, e ele sorri, não limpa, apenas esfrega minha saliva em seus dedos.