CAPÍTULO 28

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               MELINDA OLIVEIRA

                    DIA SEGUINTE

Como acabei adormecendo tarde ontem, desperto com o dia já avançado. Ao olhar para o relógio, percebo que já passa das 8h30 da manhã e acredito que Anthony já tenha saído para o trabalho. Espreguiço-me na cama e permaneço por alguns minutos pensando no dia de ontem, acabando por sorrir de felicidade. Levanto-me e tomo um banho no próprio banheiro de Anthony, vestindo uma de suas camisas antes de ir para o meu quarto. Escolho um dos meus vestidos e dirijo-me à cozinha para tomar meu café.
— Bom dia, Marlucia. — cumprimento-a ao me aproximar da bancada.
— Bom dia, Melinda. Anthony não pôde esperar você acordar e estava um pouco triste. — minhas bochechas começam a arder de vergonha.
— Não se envergonhe, querida. Eu torci muito para que vocês se acertassem. E saiba que têm todo o meu apoio. Permita-se, Melinda, você merece ser muito feliz, assim como o Tony. — sorrio para ela.
— Obrigada, Marlucia. Eu... gosto muito do Anthony... mais do que consigo mensurar. — informo, pegando uma xícara e servindo-me de café.
— Ele também gosta muito de você. Tenho certeza. — e começamos a conversar sobre assuntos neutros, o que me deixa mais confortável.
Após terminar meu café, pego meu celular e vejo várias chamadas e mensagens da minha tia, da Mia e da Liz. Todas preocupadas com meu desaparecimento. Sento-me na cama e faço uma chamada de vídeo para a tia Carla e minha irmã. Sei que elas não vão aceitar menos do que isso, e atendem no segundo toque.
— Melinda, você quer nos matar de preocupação, minha filha? — diz minha tia, e vejo que ela está sentada na sala.
— O que aconteceu para você sumir o dia todo? — pergunta a Mia.
— É verdade, Melinda. Você nunca ficou tanto tempo sem entrar nas redes sociais como ontem. Quando estava com Ricardo, isso nos deixava desesperadas. Você quer que sua tia tenha problemas cardíacos? — tia Carla fala, colocando a mão no peito.
— Desculpem, tia e Mia. Eu... hum... É... — sinto vontade de desligar a chamada de vídeo, não foi uma boa ideia. Elas olham para a câmera e acho que percebem meu constrangimento.
— Melinda? Suas bochechas estão coradas? A câmera deve estar com problemas. — fala a Mia, brincando.
— Hum... acho que nossa menina aprontou, Mia. E tenho quase certeza de que foi com o anfitrião da casa em que ela está hospedada. — fala minha tia, e eu baixo a câmera, tirando-a do meu rosto.
— Melindaaaa!! — grita minha irmã, parecendo animada demais.
— Sim!?
— Você está com o Anthony?
— Eu realmente preciso falar sobre isso com vocês, Mia? — focalizo a câmera no meu rosto.
— Considerando que já te ajudei em suas travessuras, sim. — ela responde, cheia das verdades.
— Que travessuras são essas que não estou sabendo?
— Nem te conto, tia Carla. A Melinda é fogo.
— Se vocês não sabem, eu ainda estou aqui. — falo, tapando meu rosto.
— Então nos diga, estão juntos? — eu apenas confirmo com a cabeça e as duas saem saltitantes pela casa, é até engraçado se não fosse constrangedor.
— Ah, Melinda, você não sabe como estou feliz por você, minha filha. Sinto que agora você será verdadeiramente feliz, o melhor com alguém que tenho certeza de que quer o seu bem e te apoiará em cada passo que der. — minha tia fala emocionada.
— Concordo com a tia Carla. E nós sabíamos que vocês eram loucos um pelo outro desde que se conheceram, era algo inevitável, e o cuidado dele com você é formidável. Acredito que agora você pode começar a ter sonhos, minha irmã. — discursa Mia. E eu sorrio para elas.
— Sim, vocês têm razão, agora poderei sonhar. — às vezes nem acredito que não estou mais vivendo aprisionada, que posso começar a sonhar.
— Quando você pensa em tirar a sua carteira? — Pergunta Mia, entusiasmada.
— Em breve, ainda estou me encontrando. É tudo muito novo... como disse a Rose, eu vivi sempre presa, mesmo quando estava com meus pais. Ainda estou meio sem rumo. — falo, desviando o olhar da tela do celular. Ainda é difícil falar do passado com qualquer pessoa que não seja a terapeuta. É complicado expor o que me assombra às vezes. Não digo a ninguém, mas às vezes tenho pesadelos com Ricardo e acordo me sentindo sufocada. Quando me sinto assim, sou obrigada a recorrer aos medicamentos que o psiquiatra receitou. Mas é só em último caso. Nunca conto a ninguém além da Rose, não quero preocupar ninguém. Mas acho difícil alguém que tenha passado por tudo o que passei, por anos de tortura psicológica, não ter pesadelos e delírios de ainda estar naquela prisão.
E como se a qualquer momento minha vida fosse voltar a ser como antes. Tenho a sensação de que estou em um sonho e que a qualquer momento vou acordar.
— Melinda. — eu olho para a tela do celular e vejo as duas sérias.
— Não vá mais lá, querida. Não visite o passado. — diz minha tia com uma voz doce.
— É inevitável, tia. Eu tento não seguir por esse caminho, mas sempre existe algum gatilho. — dou de ombros. Mesmo não querendo, esse passado faz parte de mim. Mesmo tentando viver como uma pessoa normal, terei cicatrizes com as quais vou ter que aprender a conviver dentro de mim.
— Ainda está muito recente, Linda, mas acredito que com o tempo as coisas sejam diferentes. Não se sinta pressionada, minha irmã. Vá no seu tempo, agora você tem todo o tempo do mundo para ser feliz. — Eu sorrio para Mia e para minha tia.
— Sou muito grata pelo apoio de vocês, e são muito importantes para mim... Vocês... hum!? Sabem alguma coisa do pai e da mãe? — Eu olho para o celular e elas ficam desconfortáveis.
— Eles estão bem... Eles pediram o seu número e negamos dar a eles. — Mia fala temerosa.
— Temos receio de que eles entreguem seu número para o Ricardo. — diz minha tia.
— Entendo. Eles não são confiáveis mesmo. — Isso me dói, porque eles são meus pais, era para serem os primeiros a me apoiar, a estarem do meu lado, e não é o que aconteceu. E isso me deixa triste, eu amo meus pais, e não entra na minha cabeça o motivo pelo qual não sou amada por eles. Enfim... Eu ainda converso por mais alguns minutos com a Mia e a tia Carla. Desligamos depois de quase 2 horas de conversa. Eu estava me sentindo inútil e segui para a cozinha, onde a Marlucia estava preparando o almoço.
— Posso ajudá-la, Marlucia? É que não gosto de ficar sem fazer nada.
— Claro, Melinda. — Ela aceita minha ajuda e juntas terminamos o almoço. Minha cabeça está em um turbilhão de confusão. Depois do almoço pronto, me retiro da cozinha e vou para o meu quarto com um aperto no peito e uma tristeza estranha. Ligo para a Liz, que demora a atender.
— Oi, Liz. — Falo temerosa. — Você está ocupada?
— Oi, Melinda. Não estou ocupada não, pode falar. — Ela não está sorrindo ou feliz como antes, e isso me deixa em alerta.
— Aconteceu alguma coisa, amiga? — Pergunto a ela.
— Meu hum... É o Davi, ele está ardendo em febre e estou preocupada. — Ela diz soando desesperada.
— Seu irmão?
— Hurum. — Ela responde, não me convencendo. Tem algo de estranho.
— Nossa, amiga. Melhoras para ele, e se precisar de ajuda, qualquer que seja, é só me falar, amiga.
— Obrigada, Melinda. — Ela fica em silêncio e percebo que ela está muito quieta.
— Tudo bem, amiga, vou deixar você cuidar do seu irmãozinho. Fiquem com Deus. — Eu desligo com a sensação de que algo está errado com ela.

Me deito na cama e acredito que adormeço. Não ouço a porta se abrir, mas escuto o chamado de Anthony.
— Melinda. — Eu abro meus olhos e encontro seu rosto bonito.
— Oi, Anthony. — Ele sorri para mim. Ele estende a mão e eu a pego. Ele me puxa e senta na poltrona, me acomodando em seu colo.
— O que você tem, Linda? — Ele pergunta, envolvendo meu corpo em seus braços, deixando-me confortável enquanto se apoia no encosto da poltrona, fazendo meu corpo se reclinar sobre o dele.
— Não é nada, não. — Digo baixinho.
— Você sabe que eu sei quando você está mentindo, não é? — Ele fala acariciando meus cabelos.
— Me preocupo com você, Linda. Só quero te ver bem e feliz. E se por acaso você se arrependeu do que tivemos ontem, eu... — Eu levanto minha cabeça, que estava enterrada em seu pescoço, e silencio seus lábios com um selinho.
— Nunca vou me arrepender de algo que desejava há tempos, Anthony. Ainda quando estava sob o domínio daquele ser desprezível. — Falo beijando seu rosto.
— Se não é sobre nós, o que está te afligindo? — Ele pergunta, acariciando meu rosto e transmitindo conforto, segurança e paz.
— Pode me contar qualquer coisa, Linda. — Ele diz, e eu me encolho ainda mais em seu colo.
— Eu não sei o que fazer da vida. Não tenho planos nem sonhos. Eu vivia tanto para a minha casa, para ser uma esposa perfeita, para agradar ao Ricardo, que não sei quem eu sou, nem o que eu quero ser, digo em relação à profissão, entende? — Desabafo.
— Não quero ser um peso para você, nem ficar vivendo às suas custas a vida toda, como uma aproveitadora. Mas também não tenho planos de fazer faculdade, porque não sei qual profissão quero exercer. O Ricardo não só me aprisionou, como também aprisionou minha mente. Estou em pedaços, Anthony, e não sei como colocar tudo no lugar. Sou uma bagunça. — Digo chorando.
— Shhhh. Você não estava assim. O que te fez pensar dessa forma? Cadê a mulher forte, determinada e de sorrisos radiantes? A mulher confiante que você se tornou, aquela que não se abala por nada. — Ele fala beijando meu nariz, meu rosto, meu queixo e por último minha boca.
— Você é muito forte, Melinda. Você é incrível, passou por muitas coisas difíceis e é compreensível se sentir assim. E não se desespere com o futuro, não. E você não é uma aproveitadora. Eu sou seu protetor, seu amigo e agora seu amante. — Ele diz a última palavra sorrindo, beijando minha testa.
— E quero que você leve o tempo que precisar para se encontrar, para ver o que te faz feliz. Não se apresse, Linda. Só siga o curso da vida, vá vivendo, que uma hora a ideia do que você quer fazer vai chegar. E se não aparecer, nós dois damos um jeito, inventamos uma profissão e está tudo bem. Sabe o que é mais importante?
— O quê? — Pergunto curiosa.
— É que nunca, jamais vou soltar sua mão. E como sempre digo, enquanto você permitir, estarei ao seu lado. — Ele beija meus cabelos e me dá um abraço apertado, e eu me sinto melhor. Ele me transmite paz e esperança.
— Muito obrigado, Anthony, por você me entender e não me ver como um peso. — Ele sorri lindamente para mim e me surpreende ao me levantar em seus braços, com uma mão segurando minhas costas e a outra atrás dos meus joelhos, me jogando para cima e me pegando novamente. Dou um grito e depois acabo sorrindo.
— Você é louco, vai me deixar cair.
— Nunca deixarei você cair. — Ele diz e repete o movimento, me jogando para cima e me aparando em seus braços firmes, e sorrio feliz. Ele me coloca no chão, mas me segura novamente pela cintura, me levantando até que nossas bocas se encontram e nos beijamos com fervor, ficando assim por longos minutos, até eu ficar mole em seus braços.
— Vamos almoçar, Linda? Tenho que voltar para o trabalho. — Ele faz uma carinha linda de triste.
— Coitadinho. — Falo sorrindo.
— Vamos lá, você deve estar faminto.
— Não posso negar que talvez esteja faminto, mas é querendo devorar outra coisa. — Ele fala piscando um olho e apertando minha bunda.
— Vamos para a cozinha, Linda. — Seguimos abraçados e sorrindo um para o outro. Ele espera que eu me sente primeiro e só então ele se senta perto de mim. Almoçamos trocando olhares e sorrisos bobos. Depois do almoço, ele me leva para a varanda da sala e nos sentamos em uma das cadeiras. Ele aproveita o tempo para ficar agarradinho a mim, e eu me sinto feliz.
— Obrigada, Anthony. — Digo baixinho, acariciando seus braços que estão descansando em minha cintura.
— Pelo quê? — Ele pergunta.
— Por me fazer feliz, por me fazer sorrir, por não me deixar desistir, por sempre estar ao meu lado... — Eu começo a enumerar tudo o que ele faz por mim. — Se eu tiver que listar todas as coisas pelas quais tenho que te agradecer, talvez ficaríamos aqui pelo resto do dia. — Digo, beijando seu rosto.
— Sabe que não precisa me agradecer, não é? Independentemente de qualquer coisa, você é muito importante para mim. — Ele beija meus cabelos.
— Você também é importante para mim, Anthony. — Eu confesso. Queria falar mais, mas me controlo.
— Eu tenho que ir agora, mas vou fazer de tudo para chegar mais cedo, tá bom?
— Sim. Vai com Deus. E bom trabalho. — Ele me dá um selinho e sai para o seu quarto para se arrumar. Ele é sempre tão compreensivo comigo, eu que sempre estrago tudo deixando o passado voltar para ficar entre nós. Resolvendo manter minha mente ocupada, decido limpar meu quarto e depois lavar minhas roupas.

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