CAPÍTULO 40

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                  ANTHONY FERRAZ


Eu saio de casa com o coração na mão, como se algo fosse acontecer e eu estivesse deixando uma parte de mim em casa. Eu duelo entre ir ver meu pai ou ficar com minha Melinda, meu anjo. Mas meu pai precisa de mim. E Melinda está segura, nosso apartamento é muito bem protegido e moramos em um dos últimos andares.

Saio com essa sensação ruim, vou até o heliponto que fica em cima do escritório em que trabalho. O helicóptero decola, e sigo para BH. Depois de 3 horas de viagem, chego à capital e vou direto para o hospital particular em que meu pai se encontra internado. Para avisar Melinda e, sendo apenas 23:00, ligo para ela e o celular cai na caixa de mensagens. Acho estranho e tento inúmeras vezes completar a ligação, mas nada. Já estava entrando dentro do hospital quando guardei meu celular e perguntei na recepção o quarto do meu pai. Uma das enfermeiras me acompanhou até lá. Quando Sônia me viu, demonstrou logo seu descontentamento e sua antipatia por mim.

— Meu pai...

— Ele está dormindo e não deve ser incomodado. — Ela diz em tom de desafio. Eu não dou a mínima, desvio dela e entro no quarto do meu pai.

— Pai. — Ele custa a abrir os olhos, mas quando o faz, demora a focar em mim.

— Filho... pensei que não viria a tempo. — Ele diz, me pedindo para me aproximar, batendo a mão no colchão. Eu sigo até ele e me sento perto dele. Ele pega em minha mão e dá um aperto forte.

— Você sabe que eu te amo, não é, filho? Eu sempre o amei, sempre fiz o que pude para acompanhar sua criação para que assim, junto com sua mãe, tivéssemos um filho que nos trouxesse orgulho. E devo dizer que o dever foi cumprido porque eu não poderia ter mais orgulho de você. Você é um bom filho, de um coração gigante, e que sempre se preocupa com o bem-estar do próximo. Quero pedir perdão se eu falhei alguma vez com você. — Ele fala e vejo lágrimas saindo de seus olhos.

— Oh, meu pai, não vem com esse tom de despedida, não, por favor. Eu amo o senhor e tenho muito orgulho de ter pais tão amorosos como o senhor e minha mãe. Se sou o que sou hoje, devo a vocês. E eu não tenho que perdoar nada, pai. — Digo, tentando ser forte. Ultimamente, o que mais tenho feito é tentar ser forte pelas pessoas que amo.

— Diante de tudo isso, filho, a doença, o afastamento do cargo que eu tinha à frente da nossa empresa, eu decidi passar para você o controle total da rede de supermercados Ferraz, pai e filho, e também das fábricas Ferraz. Quero que você continue sendo esse homem brilhante nos negócios e que sempre tome decisões acertadas.

— Mas, pai...

— Sem mas, meu menino. Eu estou velho e com essa cirurgia no coração, pretendo dedicar minha vida a coisas que realmente são importantes: a recuperação da minha saúde e a minha família. Quero fazer parte da sua vida, filho, e da sua garota, se assim você permitir.

— Como o senhor sabe sobre Melinda?

— Sua mãe... você sabe que ela é muito preocupada e me ligou dias atrás, e acabamos conversando por algumas horas. Essa conversa pode ter desencadeado uma discussão entre Sônia e eu. E meu coração, que já não estava bem...

— Oh, meu pai. Eu sinto muito. E claro que o senhor pode fazer parte das nossas vidas. É tudo que eu mais quero, pai.

— Sabe, filho, eu sempre soube que tinha algo de muito errado naquele Ricardo. Ele era estranho e sempre ao lado da sua ex-esposa, sempre levantou a suspeita de todos. Eu te acho muito honrado por ter salvo aquela menina daquele ser... — Nós conversamos por mais algum tempo, mas Melinda não sai dos meus pensamentos. Não suportando mais essa sensação ruim no peito, ligo para Sérgio. Ele demora um pouco a atender devido à hora. Já passa da 00:30 da noite.
— Anthony?
— Sérgio, eu precisei fazer uma viagem de última hora e deixei Melinda sozinha em casa. Você poderia ir lá dar uma olhada? Eu ligo para ela, mas ela não atende, isso já faz mais de uma hora que se repete. Não acredito que ela iria ignorar minhas ligações assim. — Escuto ele se levantando e indo para algum lugar.
— Claro, Anthony. Em 20 minutos te dou um retorno. — E assim desligamos. Eu me sinto perdido e não me entendo. Será que tem algo a ver com a cirurgia do meu pai? Deixo seu quarto e vou procurar algum café aberto. A noite está fria e o pressentimento forte de algo ruim não sai de mim, e nem mesmo tomando um café forte e quente tenho êxito.

No momento em que Sérgio liga, tudo desmorona.
— Anthony, não tenho boas notícias. Já liguei para Tom e também para o senhor William.
— O que houve, Sergio? DIGA DE UMA VEZ. — Vocifero sem paciência, esperando o pior.
— Melinda... ela não está aqui. Logo que cheguei, a porta da cozinha estava aberta, o celular dela está no quarto de vocês, e Anthony... ela leu o dossiê que estava em seu escritório... as folhas estão todas espalhadas pelo chão, tem algumas molhadas e está em completa desordem. — Puta merda, com toda a comoção do meu pai falando do testamento que estava morrendo e se despedindo, eu descuidei do dossiê. Ah! Merda que eu fiz!! Desesperado, eu jogo o copo de café no chão fazendo uma bagunça e tenho vontade de socar algo.
— Sabe se tem muitas horas que ela saiu? Tem alguma base?
— Quando você saiu de casa?
— Por volta das 19:40.
— Certo, vou tentar olhar pelas câmeras de segurança do prédio. — Eu desligo desolado, eu descuidei. Eu descuidei dos papéis. Eu estou sufocando. Meu telefone toca.
— WILLIAM... Eu tenho que encontrar minha mulher.
— Calma, Anthony, vamos achá-la.
— E se ele a encontrar primeiro, William?
— Encontraremos os dois. O que você precisa fazer no momento é manter a calma, Anthony. Não se pode fazer nada com a cabeça quente e descontrolado. O mal está feito e precisamos lidar com isso. — Ele fala tentando soar calmo, mas só acaba por me deixar ainda mais desesperado. Ele desliga depois de falar que está indo para meu apartamento. Desesperado e precisando que minha mãe fique no meu lugar com meu pai, ligo para ela.
— Mãe, eu preciso que você venha até BH. — Ligo para minha mãe.
— O que houve, filho?
— Melinda, mãe, ela leu o dossiê e fugiu do meu apartamento. Ela deve estar me odiando agora. — Passo as mãos por meus cabelos seguindo para o meu carro. Meu pai que me perdoe, mas preciso encontrar minha mulher.
— Mãe, estou seguindo de volta para Diamante Negro. A senhora pode vir para cá?
— Sim, vá até sua mulher. Eu cuido do seu pai, vai logo, assim que a cirurgia acabar eu notifico a você e sigo para Diamante Negro.
— Obrigado, mãe. — Não vou nem avisar meu pai, eu só ligo para o piloto e seguimos de volta para Diamante Negro.  Eu ligo para Carla, que entra em desespero com a descoberta da sobrinha ou filha. Até eu fico confuso com tudo isso.

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