capítulo 19

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           MELINDA OLIVEIRA

                DIA SEGUINTE


Ontem, Anthony não me respondeu e fiquei preocupada. Será que ele se arrependeu de ter voltado a falar comigo? No entanto, todo o meu medo se dispersa quando vejo uma mensagem dele.

Anthony: Olá Melinda, bom dia. Que seu dia seja belo.

Anthony: Não respondi ontem porque cheguei tarde do trabalho em casa e fiquei receoso com as câmeras.

Eu: Bom dia, Anthony! Por um momento, pensei que você se arrependeu de ter voltado a falar comigo.

Anthony: Jamais vou me arrepender. Já lhe disse uma vez: você é a melhor parte do meu dia.

Essa mensagem dele me faz sorrir. Senti tanta falta de poder sorrir por uma simples mensagem de texto.

Eu: A minha também. Estou muito feliz de estarmos nos falando novamente.

Envio um monte de emojis com carinhas felizes e um coração, e ele me envia emojis com uma carinha com corações nos olhos. Abraço meu celular feliz.

E assim passo o meu dia feliz. Graças a Deus, já faz um mês que Ricardo está longe, e não poderia estar mais em paz. Para mim, ele poderia ficar lá para sempre. Sei que talvez nunca consiga o divórcio, mas, pelo menos, tenho paz.

Cuido das minhas obrigações e depois vou para a biblioteca. Ela não tem livros novos, apenas livros antigos e didáticos. Não presto muita atenção neles. Gosto de ficar aqui porque é confortável e acolhedor. Tem um sofá enorme, duas poltronas, uma mesa de escritório e várias estantes de livros. Às vezes, eu tiro a poeira de todos, outras vezes, deixo para as meninas da limpeza.
Chegou a noite e esperei até às 22 horas para dar uma escapadinha até o banheiro. Liguei a torneira e o chuveiro e então liguei para Anthony, chamou algumas vezes e ele atendeu.

— Oi, Anthony.
— Olá, Linda. Está tudo bem?
— Sim, está... É que aqui é muito solitário à noite. Às vezes fico com muito medo.
— Nossa, Linda, sinto muito. — Ele falou, mas parece estar cansado. Alarmes soaram em minha cabeça.
— Você está ocupado, Anthony?
— Não exatamente, eu resolvi fazer uns exercícios para tentar dormir. — Ele me pegou de surpresa, nunca iria imaginar isso.
— A essa hora?
— Pior que sim. Costuma ajudar. Quando estou muito cansado, pego no sono mais rápido. — Sorrio ao ouvi-lo falar com a respiração acelerada.
— Certo.
— Está rindo do que aí, espertinha?
— Sua respiração alterada. Imaginei que estivesse, sei lá.
— Imaginação fértil, dona Melinda. — Ele acaba gargalhando e me faz sorrir também.
— Culpada.
— Onde você está com todo esse barulho de água?
— Estou no banheiro do meu quarto. Hoje resolvi ficar por aqui mesmo. Medo de adormecer no quarto de hóspedes e ficar sem a Rosa por mais tempo ainda. — Anthony fica num silêncio angustiante, demorando alguns minutos para responder.
— Quero tanto te livrar dessa vida. Dele. Você merece mais, Linda. Você merece o mundo. — Eu não quero o mundo. Eu só quero ser livre. Mas nem eu mesma saberia o que faria com a minha liberdade. É como prender um pássaro por anos e depois soltá-lo. Ele não vai saber para onde ir. Eu não saberia para onde ir se algum dia conseguisse minha tão sonhada liberdade.

Eu voltaria para a casa dos meus pais, que tanto me ignoram? Procuraria a casa da minha tia, que já tem a vida feita? Minha irmã já é casada e tem seu mundinho. Viu só como é difícil para mim? Eu só completei o ensino médio, o que quer dizer que encontrar trabalho seria muito difícil.

— O que foi, Melinda? Por que está em silêncio?
— Estou pensando em como sou inútil.
— Jamais repita isso, Melinda.
— Eu não tenho estudo. Às vezes você fala que um dia eu vou sair daqui. E se isso acontecesse mesmo, para onde eu iria? O que eu faria da minha vida? Às vezes, nos acostumamos tanto com a prisão que depois agimos como prisioneiras, até nos pensamentos. Minha mente se tornou refém das mentiras e ofensas de Ricardo.
— Não pense a longo prazo. Concentre-se no agora. E lembre-se, estou com você, sempre. Não pretendo soltar sua mão.
— Promete?
— Claro que prometo. — Eu sorrio.
— Obrigada, Anthony. Tenho que ir porque já fiquei tempo demais no banheiro.
— Boa noite, Melinda. Bons sonhos.
— Boa noite, Anthony. Bons sonhos.

Sorrindo, desligo o celular e tomo um banho rápido. Saio com minha camisola e cabelos molhados, vou até a penteadeira e seco os cabelos. Quando termino, ouço meu celular tocar e vejo que é Ricardo. Atendo para evitar problemas.

— Alô?
— Perdeu o sono, Melinda?
— Sim, e pensei que se eu tomasse um banho, conseguiria dormir melhor.
— O ar condicionado não está funcionando? — Olho para cima e vejo que está tudo normal.
— Está sim, por quê?
— Por nada, fiquei preocupado achando que você poderia estar sentindo calor.
— Não, obrigada por perguntar.
— Por nada, Linda. Estou com saudades. Ainda bem que tenho câmeras instaladas por toda a casa. — Minha cabeça chega a doer com medo de ser algum aviso de que ele sabe. Tento parecer tranquila.
— Por que?
— Para matar a saudade de vê-la todos os dias. Já faz mais de um mês que estou fora de casa, mas logo voltarei.
— Você já sabe o dia?
— Sim.
— E quando você vai voltar?
— Será uma surpresa, mas será em breve. — Não gosto nada disso, me dá calafrios saber que terei que lidar com ele novamente. Não sei se serei forte o suficiente para sobreviver às atrocidades dele.
— Entendi.
— Você terá uma grande surpresa. — Ele fala enigmaticamente, fazendo-me entrar em pânico.
— Que tipo de surpresa?
— Não seja apressada, Melinda. Assim perde a graça. Agora tenho que ir. Durma bem. — Ele desliga, deixando-me apavorada.

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