MELINDA OLIVEIRA
Eu sei que ele vai me matar e, por incrível que pareça, eu me entrego, me rendo a ele. Ricardo me arrasta para fora do banheiro.
— Você está chorando por outro macho, sua vagabunda. Eu vou te dar o que você está querendo. — Ele me suspende no ar e minha cabeça dói muito, mas não solto nenhum grito. Estou dormente, nem lágrimas saem dos meus olhos, eu o encaro.
— O que foi, Ricardo? Só você pode brincar com outras pessoas? — Falo, não me abalando com seu olhar maligno que promete fazer atrocidades comigo. Estou cansada.
— Como ousa me enfrentar, Melinda? Não tem medo? — Ele não deixa que eu o responda e já sinto o primeiro tapa estalar em minha cara, e o gosto metálico de sangue em minha boca se faz presente, mas eu não grito. Ele me soca no chão com toda a força e sinto uma dor enorme na minha perna, mas não solto um piu. Ele volta para onde estou e me dá um soco na costela, e eu me encolho em uma bola.
— Sua vadia esquelética, acha mesmo que algum homem sente atração por esse corpo magricela? Você me dá nojo. — Ele desfere vários tapas e socos em meus braços, que estão tampando minha cabeça e rosto. Ele pega seu cinto.
— Eu sempre tive pena de você. Eu nunca quis pegar você como pego minhas mulheres. Te achava muito nova e que seria um pecado. — Ele fala me puxando pelos cabelos, me levantando do chão e me jogando na cama. Eu olho para ele e vejo o monstro que ele é.
— Seu monstro. — Digo fraca.
— Você não viu nada ainda, criança, mas verá agora. Se você quer se envolver com qualquer macho, que seja comigo. Vou te mostrar como se fode de verdade com um homem. — Ele estava abaixando as calças.
Meus olhos se arregalam e eu tento correr da cama. Eu tento sair correndo e ele me segura pelos pés e puxa minhas roupas, rasgando-as. Eu entro em pânico.
— Socorro! Mãe! Socorro! Pai! Meu Deus, me ajude! — Eu fico sem ar, sem força. Eu tento chutá-lo. Ele não vai me estuprar, a menos que eu esteja desacordada. Eu luto com toda minha força, eu arranho seu rosto, seus braços, onde minhas mãos alcançam. Ele luta comigo.
— Você terá o que merece, sua prostituta. — Ele consegue me jogar na cama e vem por cima de mim, desferindo outro tapa em cheio. Sinto que meu rosto está inchado.
— Eu te odeio, Ricardo. Você vai queimar no inferno, desgraçado. — Eu cuspo sangue em sua cara, e ele sorri diabolicamente.
— Você é patética. — Ele levanta meus braços para cima.
— Socorro!... — Eu ouço barulho na escada e imploro a Deus que sejam meus pais.
— Filho, a polícia! Alguém chamou a polícia, ouça o som? Saia daqui, Ricardo. Você quer ser preso por causa dessa puta? — Era Rosa, acho que não estou ouvindo direito. Não estou me ligando no que está acontecendo, mas sinto quando o peso de Ricardo sai de cima de mim e ele sai apressadamente do quarto. Mas ela não vai embora, ela se aproxima de mim e olha o que Ricardo fez em meu rosto, e com desgosto diz:
— Eu pensei que você fosse uma boa moça. Até mesmo dei conselhos a Ricardo para aliviar um pouco o controle que ele tinha sobre você, que ele a deixasse sob minha supervisão. — Ela passa a mão pelas roupas e me direciona um olhar de ódio. Eu nunca havia percebido a influência que Rosa tinha sobre Ricardo, ou que eles eram parentes. Ele sempre a tratou com desprezo.
— Imagine como fiquei quando descobri que você não passava de uma puta. Quando a procurei e a encontrei nos braços de outro homem, que não era meu filho. Você é uma vagabunda, Melinda. E putas como você merecem correções dos maridos. O que Ricardo fez com você foi pouco diante da traição que você cometeu. Devo confessar que fui obrigada a informá-lo sobre o que vi. E não me arrependo. — Ela passa a mão pelo rosto e me olha com desgosto.
— Meu filho que sempre te deu do bom e do melhor, que só queria que você fosse uma esposa fiel, exemplar e dedicada. E em troca, você se comportou como uma qualquer. É incrível pensar que eu tinha me arrependido de ter demorado a receber seus pais e fingido que não tinha a chave, apenas para cumprir um desejo de Ricardo. — Ela me olha uma última vez e sai. Eu queria gritar, contestar, desafiar ela. Queria falar tudo que sinto, mas estou tão cansada de lutar, tão cansada de lutar sozinha minhas batalhas que não consigo. Eu fico em silêncio. Está tudo uma confusão em minha cabeça, os tapas me deixaram atordoada. Não ouço nada direito, além de um barulho estrondoso no meu ouvido. Eu me enrolo em uma bola e fico lá, parada, perdida em mim mesma. E nesse pesadelo que acabei de viver, na dor do meu corpo, tudo em mim dói. Acho que quebrei alguns ossos, mas meu coração está mais despedaçado do que o resto de mim.
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Um Anjo Na Escuridão
RomanceMelinda Oliveira, de 20 anos, é uma jovem doce presa em um casamento fadado ao fracasso com um homem 20 anos mais velho, que tem prazer em humilhá-la e fazê-la chorar. Melinda faz de tudo para ser uma boa esposa, sonhando em encontrar a aprovação do...