39 - "Eu vou deixar você chorar, então aproveite."

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[Este capítulo é a continuação do capítulo 38.]

Este capítulo contêm gatilho.

[Pov - Genya Shinazugawa.]

— você poderia ter chamado qualquer pessoa. - Nemi quebra o silêncio do quarto em quanto passa algodão molhado nos braços de Mui. - ... Tipo a Kocho. - tenta insistir, mas continuo de cabeça baixa.

Não é nada trabalhoso levar Mui no colo para os lugares, mas me pareceu muito mais horrível quando ele estava desmaiado.

Aniki foi o primeiro conhecido que encontrei, ele estava a caminho da feira em quanto comia uns pedaços de carne.

Realmente não quero discutir ou bater boca com Nemi agora, estou tentando digerir tudo o que vi.

— vocês faziam isso. - agora sim, sua fala me chama a atenção, ele vê meu semblante confuso e termina de limpar os braços de Muichiro. Joga o algodão fora e se senta ao meu lado.

Minha postura se enrijece automaticamente e quase coloco as mãos na frente do rosto, mas consigo controlar esta vontade.

— você, Sumi, Teiko, Hiroshi, Koto e Shuya. - ouvir os nomes dos nossos irmãos sendo pronunciado por ele me traz várias lembranças, não sei se são boas.

— nós fazíamos o quê? - pergunto ao tomar coragem.

— se machucar.

Encaro o chão, tentando me lembrar de qualquer momento que provasse sua fala.

— se lembra, certo? Que papai nos batia para nos corrigir. - ele faz sinal de aspas com as mãos ao dizer "nos corrigir" e também fala com nojo. - isso tornou um hábito depois de um tempinho.

Nada me vem á mente, não me lembro de ver meus irmãos fazendo isso e muito menos eu.

— você não era muito disso. Mas quando faziam algo errado, como quebrar um copo ou queimar a comida, começavam a se beliscar ou chutar a parede. Ainda bem que eles eram pequenos então não se machucavam tanto. Não pude impedi-los porque nunca entendi o que era aquilo.

— você... Você acha que os pais do Mui batiam nele? - levo o olhar para Muichiro, que dormia tranquilamente no nosso futon, achei estranho e bom Nemi não ter perguntado sobre eles estarem juntos.

— não consigo responder, mas não parece. - me viro para Sanemi mas continuo de cabeça baixa, não quero que ele veja minhas lágrimas. - sabe o quanto isso é normal pelo esquadrão, certo?

— ... hum? - murmuro, o encarando por baixo dos cílios.

— você realmente é desatualizado, né?!

Fico novamente em silêncio, desviando o olhar.

— vários caçadores têm este costume, uns se arriscam mais em missões, e outros apenas para poderem se aliviar.

— ... Isso realmente acontece?

— muito. - cruza os braços, encostando a cabeça na parede. Percebo seu olhar em mim.

— ... Você acha que o Mui não é feliz?... - minha voz saí baixa e falha.

Deixo escapar um soluço choroso, limpo abaixo dos olhos com as costas das mãos.

— ... Você parece um gangster marginal, vai mesmo chorar?

Respiro fundo na tentativa de reprimir as lágrimas.

— ah, esquece. - Sanemi bufa, e paraliso ao sentir seus braços entrelaçados em mim, ele me força a encostar o queixo em seu ombro e me puxa para mais perto, assim como fazíamos quando crianças.

Aniki?... - sussurro, mordendo o lábio para não acabar chorando mais ainda.

— não seja idiota. - responde, um pouco mais baixo. Então me puxa para mais perto de sua forma agressiva de sempre. - eu vou deixar você chorar, então aproveite.

É tanta informação que não consigo assimilar, só sei que agarro com força seu uniforme e me permito deixar todas as lágrimas e os barulhos estranhos.

Sanemi fica quieto, não se move, apenas me aperta um pouco mais forte de vez em quando.

[...]

— não vai precisar enfaixar nem nada, já que ele tem a imunidade alta, amanhã ou depois tudo já estará curado.

— tudo bem, Nemi, obrigado. - cruzo os braços em quanto o observo recolocar a porta de casa.

— ... Vocês fazem ideia do que fazer com o buraco na parede? - ele pergunta, apontando para o estrago de Gyomei.

— Na verdade, não. - dou de ombros, também olhando lá em cima. - qualquer coisa eu coloco alguma flor grande ou um quadro chique.

Tento não encara-lo quando ouço-o rir.

— tudo bem, adeus.

Abro a boca para falar mas a porta bate. Bom, ao menos é um teste para sabermos que ela está forte.

Meus olhos provavelmente estão inchados, e desta vez não foi nenhum soco do Nemi!

... Eu deveria ficar animado com isso?

Decido deixar para lá e vou até a cozinha, olho para a janela pouco distante e vejo que o sol já se pôs há um tempo, a lua está cheia e também rodeada de várias estrelas.

Encaro a pia e respiro fundo, deixo a água esquentando em quanto corto morangos, bananas, e maçãs.

Mui é bem seletivo com comida, ele não gosta dos morangos com a parte verde, as bananas com casca e as maçãs também. Eu impus limites quando ele começou a falar sobre não querer uvas com a casca.

.... Eu acho que estou o mimando demais.

Rio baixo. Tanto faz, eu não ligo de fazer o que for preciso.

Quase pulo quando sinto Tokito encostar a cabeça em minhas costas.

Eu realmente não senti sua presença...

— Mui, você está bem?! - exclamo, largando as coisas aonde estavam e me virando para abraça-lo.

— ... O que aconteceu? - a voz dele é fraca, e também abafada já que seu rosto está contra meu peito.

— você... Você não se lembra? - faço um carinho em seu cabelo, encostando o queixo no topo de sua cabeça.

— eu não sei... Me sinto estranho.

Abro a boca para falar mas decido deixar isso para depois, nos separo contragosto e aponto para o sofá.

— Mui, se sente. Estou cortando frutas e esquentando a água do banho.

— ... Me dá banho hoje?

Seu comentário me assusta, o encaro por um tempinho. Não consigo resistir à sua feição pedinte e seus olhos cansados, rio baixo e concordo com a cabeça.

— é claro. Mas primeiro você vai comer.

— tudo bem...

Termino de cortar tudo e levo até o sofá, me sento ao lado de Tokito em quanto arrumo seu cabelo para trás, na tentativa de evitar que caísse nas frutas.

— ... Você vai tomar banho comigo. - ele murmura de boca cheia.

— é... Mastigue sua comida, depois vemos isso. - desvio o olhar, sentindo meu rosto queimar.

[...]

Por favor, diga que me ama! - GenmuiOnde histórias criam vida. Descubra agora