42 - Morte.

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[Pov - Genya Shinazugawa.]

- Gen. - Muichiro me chama.

É uma noite clássica de calor extremo, decidimos vir até a varanda para observarmos as estrelas em quanto comemos doces aleatórios que estavam na dispensa.

Bom, ainda não posso andar, fazem quase duas semanas desde que me machuquei, o machucado está costurado e em breve tirarei os pontos e aí estarei cem por cento.

Estamos sentados no último degrau da escada, e o que nos separa é a vasilha de chocolates.

— sim? - o observo, curioso.

— ... Você é meu namorado. - Tokito murmura, com um sorriso bobo no rosto.

— ... Sou. - sorrio de volta, por mais que seja um pouco mais envergonhado.

Ele novamente leva o olhar até o céu, e então suspira.

— Vou morrer cedo.

Por um momento, fico sem saber como responder à esta estranha afirmação, por isso apenas o encaro, incrédulo.

— Sejamos reais, Gen, entrei nessa de hashira já sabendo meu destino.

— Você não vai morrer, Mui. - interrompo, engolindo em seco, desvio o olhar para o céu, sem saber por que sinto raiva.

Odeio quando Muichiro diz coisas assim, e odeio ainda mais como sua feição é tranquila.

— ... Você aceitaria? - tomo coragem para perguntar.

Seus cabelos, que estão amarrados num coque, balançam com a leve brisa da madrugada. Mui veste apenas uma camisa minha, que fica bem grande nele.

— Aceitaria o quê? - rebate minha pergunta com outra.

— A morte. Aceitaria a morte assim que ela tocasse seu ombro e te dissesse para ir?

E novamente, silêncio.

— ... Me sinto cansado, Gen. - Muichiro ri levemente. - Eu acho que aceitaria, sim.

— Cansado como?

— Não sei. - dá de ombros. - Não me lembro, mas tem algo que me cansa, só não me lembro.

Reprimo os lábios, respirando fundo.
Sei bem que Tokito não se lembra das coisas, pode estar melhorando, mas ainda não sabe se teve ou não uma família.

— E por isso vai se entregar à morte? - acabo parecendo irritado no meu tom de voz, por mais que me arrependa no mesmo instante. - Acha certo se entregar sem nem descobrir quem é de verdade?!

Sua expressão é a mais neutra que já vi, não consigo desvendar o que está realmente passando em sua mente, e isso me assusta demais.

— Sei quem sou. - a incerteza na frase é nítida.

Sei que não sou eu quem deve ficar dizendo essas coisas, afinal, não conheço seu passado e sei que ele também não. Porém quero ser seu futuro, e quero que ele tenha um para que eu possa ao menos fazer parte disso.

— Não, não sabe. - murmuro num tom áspero.

— Gen...

— Se soubesse, conseguiria dizer ao menos o nome dos seus pais, você teve? Será que eram bons com você? Como você era antes de perder a memória? Era frio assim como é hoje em dia? Existe algo super importante que você talvez deva estar fazendo ou procurando agora?

— Genya, para.

— Você não sabe quem é, Mui, você não faz ideia. Seu passado está em branco, e ainda sim ousa dizer que aceitaria a morte?! O que você tem na cabeça?! É suicida ou algo assim? Você certamente não se importaria em deixar tudo o que tem aqui, né? Não se importaria em partir sem saber sobre seu passado, não é? Você ousaria me deixar aqui-

Não ouse terminar. - sou interrompido quando Muichiro me dá um tapa no rosto.

Sinto uma culpa enorme apertar meu coração quando tomo a iniciativa de olhar seus olhos, estão marejados e umas lágrimas até caem por suas bochechas.

— Você quer mesmo ter argumentos? Acha que eu não sei do meu passado porque quero? Sejamos reais, Shinazugawa, você só diz isso porque não quer ficar sozinho. Sabe que sem eu só existe um irmão que te enoja, sabe que se eu for embora você vai ficar sozinho e não suporta essa ideia.

Agora, sou eu quem me sinto totalmente derrotado e enjoado.

— 'cê não ia ligar se fosse deixar eu aqui, né? - murmuro, baixando a cabeça.

— É claro que eu ligaria. Mas você sabe que tenho um dever á cumprir e coloco a vida em risco toda a vez que saio de casa. - Tokito responde na lata. Não consigo olhar em seu rosto, porque sua voz ainda parece genuinamente assustadora.

— p'favor... Mui, não desiste agora não, valeu? Toma conta da sua vida, eu 'tô aqui e quero que 'cê também 'teja. E 'cê tem razão, não quero que 'cê vá.

Eu não quero ir. - Muichiro tira os doces do nosso meio e se aproxima de mim, descansa uma mão em minha coxa e leva a outra até meu queixo, puxando de leve para baixo, fazendo com que nossos olhos se encontrem. - Mas não vou adiar minha hora, sei que irei quando tudo estiver feito, aí poderei sair daqui sem remorso.

Ele vê meus olhos marejados, e eu vejo os dele, que continuam da mesma forma.

A mesma voz que antes me amendrontava, agora me acalma.

Fica comigo, Mui.

— Eu vou, estou aqui, não estou? - sorri levemente, fazendo um carinho em minha bochecha com o polegar.

Você promete? - decido tomar certeza disso.

Gen... - Mui começa a falar, mas provavelmente vê minha feição se destruir novamente e para, engole em seco e demora um pouquinho para responder. - ... Eu prometo.

— ... 'Brigado. - suspiro, aliviado.

Não consigo me conter e rodeio sua cintura com os braços, Tokito faz melhor e sobe em meu colo, ainda tomando o cuidado com a perna.

— Sabe que ela já está literalmente curada, não é? - questiono, deixando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha.

— É sempre bom tomar um certo cuidado.

— Me desculpa, Mui. - desvio o olhar, mas me obrigo a voltar em seus olhos quase no mesmo segundo.

— Pelo quê?

— Pelo que eu disse.

— Me desculpe também.

Junto as sobrancelhas, sem me recordar de um motivo que seja digno para um pedido de perdão vindo de Muichiro.

— Por dizer que seu irmão te enoja. - o menor parece ler meus pensamentos, e se explica antes que eu possa dizer qualquer coisa.

— ... Já estou tão acostumado com este fato que nem me lembrei que você disse. - rio, e me sinto genuinamente satisfeito ao tirar um riso do garoto também.

— Sanemi está melhorando, tenho que admitir por mais que não queira. - ele revira os olhos.

— É... Eu espero. - dou de ombros. - Mas, ei, não me chame de Shinazugawa, por favor! É assustador!

Muichiro ri alto e chego a me perder por um tempo apenas por ouvir esta risada.

— Tudo bem. Não é como se eu gostasse deste nome...

— É meu nome!

— Prefiro Genya!

Abro a boca para responder mas Tokito me rouba um selinho.

— Você falou informalmente, de novo.

— ... Eu falei? - fico boquiaberto, tanto por simplesmente não me lembrar disso quanto por Muichiro se lembrar disso.

— Sim! É bem engraçado.

— Com certeza é feio.

Ambos rimos novamente e abraço-o forte logo após, fungando seu pescoço apenas para poder sentir seu cheiro.

Espero que minhas camisas tenham seu cheiro. - sussurro.

Este é um dos meus objetivos.

[...]

Por favor, diga que me ama! - GenmuiOnde histórias criam vida. Descubra agora